Por Revista Época
Às 19h02 do dia 23 de julho, quando a campanha eleitoral finalmente chegava às ruas e à internet, o publicitário Jeferson Monteiro enviou um e-mail a dois assessores de Franklin Martins, um dos principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff. Monteiro é o criador do personagem Dilma Bolada, um fenômeno digital. Dilma Bolada tem 270 mil seguidores noTwitter e 1,5 milhão de fãs no Facebook – mais que o perfil oficial da presidente Dilma (1,1 milhão de fãs). Monteiro sempre negou – nega até hoje – qualquer relação com o PT e a campanha de Dilma. Na noite anterior, retirara subitamente do ar o personagem Dilma Bolada. Ao público, não dera explicações. Apenas confirmara a decisão de matar a personagem, “sem drama e mimimi”. No e-mail à campanha, deu seu recado ao PT. “Apesar de estarmos do mesmo lado, vejo que, muitas vezes, temos pensamentos divergentes”, escreveu aos jornalistas Laércio Portela e Brunna Rosa, os dois assessores da campanha. “Da forma como tudo anda, vejo uma concentração de esforços muito grande para um resultado efetivamente muito pequeno. Lamento que não tenhamos atingido um consenso, mas desejo sucesso a vocês, e espero que a aposta de vocês com as estratégias hoje usadas e a linha de ideias deem certo.” Não mandou um “beijo n’alma”, como faria Dilma Bolada. Encerrou o e-mail com um seco “Abraços”. Era um e-mail de negócios.
Segundo documentos internos da campanha e entrevistas reservadas com três integrantes do comitê à reeleição de Dilma, todos com conhecimento das tratativas entre Monteiro e o PT, o “consenso” a que ele se referia era, sobretudo, financeiro. Desde o começo do ano, Monteiro recebera do PT a promessa de que ganharia um valor mensal, na casa de dois dígitos, para manter no ar Dilma Bolada. Monteiro também queria manter total controle sobre a personagem – ninguém deveria proibi-lo de escrever as tiradas que quisesse. Franklin, responsável pela estratégia digital da campanha petista, não aquiescia. Detestava Monteiro. Nesse assunto, como em outros, atropelava politicamente quem discordasse dele. No partido, muitos não aprovam a estratégia que ele defende: bater pesado nos outros candidatos – sem ligar para a consequência provável disso, o aumento da rejeição.
Uma eleição disputadíssima não admite erros ou deslizes. E, naquela noite de 23 de julho, um senhor erro acontecera na campanha do PT. Correram para convencer Monteiro a ressuscitar Dilma Bolada. Segundo ele relatou a interlocutores, não aguentava mais ser ignorado. Não era recebido por Franklin. Tinha de tratar com Laércio Portela, o assessor de Franklin que recebeu o e-mail. Nem Laércio respondia a seus pedidos. Fora o mesmo Laércio que, meses antes, prometera a ele um ordenado mensal. Apesar dos apelos de alguns dos integrantes da campanha, Monteiro ignorou o conselho para que jogasse limpo com os internautas e admitisse que tinha relações com o comitê de Dilma. Dizia que isso reduziria a “credibilidade” da personagem. Para dificultar ainda mais, Monteiro não queria receber por fora – por caixa dois.
O impasse durou seis dias. O jornal Folha de S.Paulo chegou a noticiar que dinheiro fora a causa da morte de Dilma Bolada. Em seu perfil pessoal, Monteiro afirmou: “Depois da tal notícia, fiquei esperando o fabuloso convite para ser consultor, mas, como eu previa, não chegou. Reafirmo que a Dilma Bolada é inegociável, mas eu não jamais (sic) hesitaria em trabalhar, sobretudo para quem eu gosto. E, já que o boato e a notícia cuidadosamente plantada tornou-se (sic) um fato e foi tomada como verdade por muitos, até mesmo por pessoas próximas a mim, se acontecesse seria ótimo até porque todos já estariam avisados mesmo, né?”. Monteiro foi convencido a botar Dilma Bolada no ar novamente. Agora, contudo, queria meio milhão de reais, apenas para o primeiro turno, e um contrato. O PT topou. Monteiro finalmente resolveu abrir uma empresa para que o contrato possa ser fechado, e o dinheiro transferido. Procurada, a campanha de Dilma disse apenas que “não mantém relação comercial com Jeferson Monteiro”.
Monteiro, carioca de 24 anos que vive em Mesquita, na Baixada Fluminense, mal completara 20 anos quando inaugurou o empreendimento que transformou seu futuro. Não gastou um tostão. Sua marca, Dilma Bolada, fundada nas redes sociais em abril de 2010, ano de eleição presidencial, é um sucesso. Incorporando a “rainha da nação”, Monteiro dá voz a uma Dilma descontraída e gozadora, o oposto da imagem pública da presidente. Hoje, só com o nome de sua musa, Monteiro tem uma conta no Facebook, com quase 1,5 milhão de seguidores; uma no Twitter, com 270 mil; e uma no Instagram, com 93 mil. Com a fama, largou a faculdade de administração e ingressou no curso de publicidade. Foi até convidado ao Palácio do Planalto em setembro de 2013 para anunciar, ao lado da Dilma real, sua volta às redes sociais: “Foi uma honra imensurável ter vivido esse dia que se torna um marco na minha vida pessoal e profissional como comunicador. Nossa Dilminha é incrível, maravilhosa, espetacular”.
À medida que a eleição se aproxima, Dilma Bolada tem sido mais agressiva com os adversários (leia ao fim desta página). No dia 12 de setembro, tuitou para Marina Silva: “Iludida é você, fia. Achando que vai ser presidente se fazendo de vítima e coitada o tempo todo. Se manca!”. Em agosto, poucos dias depois de reativar sua conta, Dilma Bolada disse que o pai do menino de 11 anos cujo braço foi comido por um tigre num zoológico do Paraná deveria ter levado Aécio Neves no passeio. No dia seguinte, criticada pela violência do comentário, disse: “As forças das trevas reclamando porque eu disse que o tigre tinha que comer o Satanécio. Não vai pq o tigre não merece. Podem latir!!! (sic)”.
No Facebook, em que tem mais de 15 mil seguidores, Monteiro publica fotos com o ex-presidente Lula, com a própria presidente Dilma e reportagens contrárias a Marina e Aécio. As fotos mais recentes, da semana passada, mostram Monteiro num evento da campanha de Dilma em Belo Horizonte, um encontro com jovens. Em seus cumprimentos aos jovens na Pampulha, Dilma registrou a presença de Monteiro: “Ele inventou a selfie”, disse ela. Ela própria passou a usar em seu Facebook uma expressão cunhada por Monteiro, “rousselfie”. É também em sua página pessoal que Monteiro dá explicações “institucionais” sobre Dilma Bolada. Num longo texto, em maio, disse que foi assediado por um colaborador da campanha tucana. Segundo Monteiro, a conversa foi levada adiante apenas para ver até onde os adversários iriam. O tal colaborador, Pedro Guadalupe, nega. Diz que Monteiro já até acertara um valor – R$ 500 mil. O título do texto é “Dilma Bolada: Não está a Venda”.
ÉPOCA perguntou a Monteiro sobre o e-mail enviado a Laércio e Brunna. Ele se contradisse. “Nesse dia, não mandei e-mail algum. O e-mail que mandei foi um que relacionava que eu achava que as coisas como estavam acontecendo e a estratégia que estava sendo tomada era uma estratégia… Na verdade, apesar de não ter nenhuma relação, eu conheço várias pessoas”, disse Monteiro. Questionado sobre o contrato prestes a ser fechado com a campanha petista e sobre os valores combinados, Monteiro afirmou: “O que posso garantir é que nunca existiu nenhum tipo de contrato. Se tiver, ainda vai ser feito. Ninguém nunca pautou a Dilma Bolada”.
VEJA COMO ANDA O MUNDO, GOSTANDO CADA VEZ MAIS DE COISAS RUINS. EQUIPES CRIAM UM SITE DESSES E AINDA FAZEM SUCESSO? SEI NÃO , QUANDO É QUE ESSA LEVA VAI SE EXTINGUIR. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK.