A fila nossa de cada dia. Pessoas se amontoam na entrada de uma farmácia para tentar comprar dois produtos regulados: papel higiênico e fraldas. Muitos delas vão revendê-los – CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS
Por interino
As escuras e solitárias ruas de Caracas não são, às 4h da manhã, o melhor cenário para passear. Mas é a hora em que Daniela, de 27 anos, uma filha dela de 7 e outra de 11 iniciam uma peculiar jornada laboral, junto com seis “companheiras”. Durante três horas, percorrem seis ou sete mercados e mercearias. Já há pessoas nas filas, mas Daniela sabe que vai furar a frente, que vai “colear” (“cola” significa fila em espanhol). Há um ano e meio, elas vêm criando uma rede que lhes permite burlar a lei — algo que, na Venezuela, faz tempo se converteu em algo que se finge cumprir. Daniela é uma bachaquera (bachaco é uma formiga que carrega folhas e gravetos nas costas, típica da fronteira com a Colômbia, região de grande atuação de contrabandistas), uma revendedora de produtos, pelos quais pode conseguir cem vezes mais do que gastou — o negócio mais rentável de uma Venezuela a caminhos do Guinness da inflação.
— Eu não sou má — afirma Daniela, que, como as outras bachaqueras entrevistadas, pede para ocultar o sobrenome por segurança, argumentando não ter sobrado outra solução, mas sem tampouco ocultar um sorriso maroto ao continuar a explicação: — É dinheiro fácil. Agora já nem procuro trabalho, e nem vão poder me dar um. E as pessoas necessitam dos produtos.
LEILÃO PELO SABÃO EM PÓ
Cerca de 70% das pessoas que formam as filas diariamente são bachaqueros, segundo uma pesquisa do instituto venezuelano Datanálisis — no último ano, um quarto da população incorporou esta prática. O governo chavista considera que isto é uma das razões da escassez de produtos básicos e o pilar da suposta “guerra econômica”, discurso diário do presidente Nicolás Maduro para resumir a crise social que consome a Venezuela. A rede construída, com a conivência da polícia, parece dar as costas a esses argumentos.
Os gerentes dos mercados avisam as bachaqueras por WhatsApp que chegaram os produtos regulados: arroz, leite, farinha, itens de higiene pessoal. A polícia já as conhece e as coloca na fila, diante de olhares cada vez mais zangados das outras pessoas.
— Os policiais dizem que somos seus familiares e que temos prioridade, mas não é verdade — conta Daniela.
A lei só permite comprar produtos regulados um dia por semana, e sábado ou domingo, deixando a impressão digital. Os bachaqueros compram diariamente sua cota, e uma suplementar: parte é dada àqueles que facilitaram a compra. O resto é revendido.
Por volta das 10h, Daniela volta pra casa, descansa e faz as tarefas domésticas. Ao meio-dia, envia mensagens para a rede de clientes e, até as 14h, dedica-se à revenda: muitos que não podem, ou não querem ir para as filas, estão dispostos a pagar um sobrepreço. Alguns, ainda, revendem a revenda.
— Um pacote de de arroz, de 450 bolívares, vendo a 1,5 mil; o leite, de 800, por 3 mil; fraldas, de 100, por 1,5 mil — conta Daniela, que começa a rir antes de recordar uma situação: — Outro dia, consegui sabão em pó e duas mulheres ficaram loucas: “Te dou 3 mil!”; “Pois eu dou 3,5 mil.” “Eu cubro: 4 mil!” No final, vendi por 5 mil (um quilo de sabão no preço oficial é 30 bolívares).
O salário-mínimo de um venezuelano é de 15.051 bolívares, mais um bônus de alimentação de 18.585. No país, há duas taxas de câmbio oficiais e o mercado negro, considerado a cotação real da moeda, no qual US$ 1 equivale a 1.050 bolívares.
— Não se trata somente de uma economia em descalabro, ou de um Estado de Direito desmontado: é a reação em cadeia de uma comunidade que, numa piscadela, monta um projeto de espoliação. Que a metade da população se dedique a adquirir maciçamente os produtos de primeira necessidade para revendê-los à outra metade por cem vezes o preço, isso já não tem um caráter de sobrevivência, mas sim de ato genocida — afirma o sociólogo Miguel Ángel Campos, da Universidade de Zulia.
Quem revende produtos pode pegar de três a cinco anos de prisão:
— Os únicos dias que não saio é quando a minha filha mais velha fala: “Mamãe! Vão te levar presa!” Esse pressentimento me dá medo.
O Globo
Eu gostaria de saber como esses Venezuelanos vão pagar a conta do BNDES em bilhões de dólares que o desgoverno do PT emprestou. Dinheiro nosso,dinheiro do povo Brasileiro, emprestado a juros baixíssimo. Tudo indica que vamos levar um calote. Imoral!
Não tenha dúvida disso nobre Silva….
Nesse negócio quem se deu bem além do Nicolas "Podre",
foi Luiz Inácio com as palestras (rs…rs) e a Empreiteira Andrade Gutierrez,
enquanto o Brasil levou foi "prancha"…
O Brasil,se continua-se com o PT,ficaria pior!
É a esquerda, sempre querendo o melhor para o povo.
Rapaz só em começar a ler a reportagem me deu indignação…
Isso mais parece campo de refugiados em um país arrasado após uma guerra…
Cena DEPRIMENTE….
Culpa de um governo "bolivariano" comandado por um semiditador "podre"…
Jesus!!
Nos livra de percorrermos outra vez esse caminho…
Com a palavra Sr. Venezuelano Cabraulio, defensor ferrenho da causa petista.
Sabendo que a causa de todo o mal estar do país vem de todos estes ladrões, políticos fdp, que só agem em benefício proprio, independente de ser esquerda e direita.