Foto: Ivanízio Ramos
O Governo do Estado realizou, na noite desta quarta-feira, 24, audiência pública para apresentar o termo de referência que subsidiará o edital do concurso público nacional para a escolha do projeto de restauração e requalificação do Estádio Juvenal Lamartine, em Natal. O evento, organizado pelo Gabinete Civil em parceria com a Procuradoria Geral do Estado (PGE), aconteceu no auditório central do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN).
O termo – ainda preliminar e passível de alterações – aponta todas as especificações técnicas atuais do estádio, o que o Estado espera do local, e o que não poderá ser feito, em razão de se tratar de um patrimônio tombado. “Terá um museu do futebol, área de convivência, espaço para outras atividades físicas e atividades culturais. Não pode demolir o gramado nem a arquibancada de madeira que terá que passar por um processo de restauração”, explicou a procuradora estadual Marjorie Madruga, que conduziu a apresentação.
“O governador tinha um compromisso com a população em relação a algumas áreas que deveriam ser utilizadas por todos. Aos poucos ele vai conseguindo concretizar isso”, destacou a secretaria-chefe do Gabinete Civil, Tatiana Mendes Cunha, que ressaltou ainda a importância desse projeto ser construído dentro de um processo democrático e participativo que envolve toda a sociedade. O secretário de Infraestrutura Jader Torres também acompanhou a audiência.
As sugestões colhidas na ocasião serão estudadas e podem ser incluídas no termo. Somente após a finalização do documento, será lançado o edital do concurso público nacional.
Com a saúde aos cacos e servidores à míngua a prioridade do desgoverno é o Juvenal Lamartine. Falando em desgoverno o chefe, subchefe e secretário fugiram da mídia?
O que 10% não faz…
Estádio sem estacionamento, no meio da principal Avenida.
Está mais fazer um big condomínio e com a venda construir uma arena de pequena capacidade com todas as facilidades em outro lugar.
Não é melhor o governo requalificar os hospitais??
isso Luciana…falou tudo!
GOVERNO ESTADUAL AMEAÇA PRESERVAÇÃO DO ESTÁDIO JUVENAL LAMARTINE E PÕE EM RISCO O MEIO AMBIENTE DA CIDADE DO NATAL.
Carlos Alberto Nascimento de Andrade
Professor do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Inaugurado em 1928, o Estádio Juvenal Lamartine (JL), localizado em Natal-RN, palco de grandes eventos relacionados ao esporte bretão está ameaçado de desaparecer. Submetido a um intenso fogo cruzado por parte de redes organizadas, nos últimos meses o vetusto estádio encravado no bairro do Tirol tem pautado as matérias futebolísticas veiculadas pela imprensa potiguar, todavia tais matérias carecem de um viés crítico e distanciado das reais motivações dos argumentos que reivindicam sobre a necessidade de se “requalificar o Estádio Juvenal Lamartine para outros fins que não o futebol”. Mesmo de forma solitária e mesmo sendo uma tarefa inglória, pois estamos mexendo num vespeiro de interesses escusos, este é o objetivo central deste texto: arguir de forma ilibada sobre a necessidade histórica, ambiental e identitária para a preservação do JL.
Dossiê das acusações contra o Estádio Juvenal Lamartine e as razões para sua preservação
Os argumentos mobilizados pelos que defendem sobre a necessidade de se “requalificar” o JL são indefensáveis e insustentáveis. Vejamos alguns deles: argumentam que o JL não possui estacionamento. É preciso lembrar que temos dois grandes estádios em Natal, o Frasqueirão e a Arena das Dunas e provavelmente vamos ter um terceiro que será o Estádio do América (Arena do Dragão). Neste sentido, o JL será uma praça de esportes voltada fundamentalmente para o esporte amador, onde ABC, América e Alecrim mandarão seus jogos pelas categorias amadoras. Apenas pequenos jogos de profissionais serão realizado neste local, como por exemplo: Alecrim X Potiguar, Atlético Potengi x Baraúnas etc. Com efeito, não vamos ter grandes contingentes de torcedores com automóveis estacionados naquelas imediações. Contudo, para os afeitos ao argumento que o JL não tem condições de possuir um estacionamento próprio, informo que o Estádio Presidente Vargas em Fortaleza não possui estacionamento e as ruas que o circundam têm dimensões bem menores do que àquelas adjacentes ao JL. Idem para o Estádio da Graça em João Pessoa. E o que dizer do Frasqueirão? Como fica o estacionamento em dias de grandes jogos? E os Aflitos? E o Pacaembu?
Argumentam que o campo de jogo não atende as determinações e exigências da FIFA. Realmente, se considerado o que existe no momento não atende, todavia sua reforma deve contemplar tais exigências, esta é uma das atribuições das técnicas de engenharia, foi isto o que fizeram com o Estádio Leonardo Vinagre da Silveira, conhecido como Estádio da Graça localizado em João Pessoa-PB, onde atualmente sedia jogos do campeonato paraibano.
Argumentam que o JL não tem utilidade. Este conceito de utilidade é reducionista, pois está restrito única e exclusivamente ao futebol profissional. O que seria do futebol profissional se não fosse o futebol amador? Simplesmente não existiria. 100% do jogador profissional tem sua origem no futebol amador, seja nas categorias de base dos clubes ou nos “times de várzea”. Além de pequenos jogos do futebol profissional o JL estará apto para sediar os seguintes campeonatos: infantil, juniores, sub-15, sub-17, sub-19, sub-20, 2ª divisão, campeonato de futebol feminino. Para além dessas modalidades, também poderá servir aos alunos das escolas estaduais como palco para treinamento e como espaço para a realização dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte – JERNS, patrocinado pela Secretaria de Estado da Educação e da Cultura. É preciso reter, que em função da especulação imobiliária os “campinhos de várzeas” estão praticamente em extinção, motivo fundamental para a pouquíssima renovação e surgimento de novos craques no futebol brasileiro.
Como consequência do anterior, argumentam que o “objetivo do Estado é devolver o Juvenal Lamartine à sociedade, criando um ESPAÇO PÚBLICO DE CONVIVÊNCIA E LAZER para a cidade e, principalmente para os bairros do entorno”. Lembramos que o Governo do Estado do RN possui vários imóveis que não se encontram com uso público adequado e que podem perfeitamente servir para a referida “readequação”, como por exemplo, o terreno onde se encontra o Aeroclube de Natal, encravado numa das áreas mais nobres da cidade, o bairro do Tirol, e que com a conivência do executivo estadual se encontra atualmente apossado e subutilizado por meia dúzia de “empresários” que transformaram um logradouro público em um bem privado.
Para além das razões esportivas, podemos dissertar sobre a necessidade da preservação do Estádio Juvenal Lamartine pela perspectiva ambiental e climática. Sua não manutenção nos moldes atuais e seu consequente desvio para outros fins aprofundariam ainda mais as ilhas de calor na região metropolitana de Natal, tendo em vista que edificações aumentam significativamente a irradiação de calor para a atmosfera, que em decorrência da especulação imobiliária têm afetado as áreas urbanas das grandes cidades brasileiras elevando ainda mais as temperaturas das cidades. Faz-se necessário lembrar que o JL fica no sopé do Parque Estadual das Dunas, área de mata nativa integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e que exerce importância fundamental para a qualidade de vida da população da cidade, uma vez que esta formação constituída de vegetação natural serve de atração para as brisas marinhas que sopram do Oceano Atlântico, suavizando o calor e estabilizando a temperatura média da região metropolitana, contribuindo decisivamente para o equilíbrio do meio ambiente urbano. Além disso, as águas das chuvas quando infiltradas naquela área ajudam a alimentar o aquífero subterrâneo ali existente.
Em outra perspectiva, a preservação do JL contribui para a afirmação de valores locais como meio de resistência a valores globais alienígenos, como a cultura “neocolonizadora” da identificação do torcedor local com clubes, principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro. Pesquisa recente, publicada pela imprensa escrita local, mostrou que apenas 11% do torcedor potiguar frequenta nossos estádios de futebol. O motivo é a falta de identidade com nossos clubes. Vários fatores contribuem para que isso ocorra: transmissão abusiva pela televisão de jogos de futebol, sobretudo do eixo Rio de Janeiro e São Paulo nos mesmos horários dos jogos de nosso Campeonato Estadual; imprensa falada, escrita e televisada que dedica maior parte de seu noticiário para fatos esportivos relacionados com estes dois estados da federação.
Diante deste quadro, a luta pela reconstrução da identidade cultural local contribui decisivamente para a elevação da autoestima, consequentemente ao agir de forma independente e com autonomia o indivíduo poderá operar maiores resistências à valores que não estão relacionados com seu cotidiano. Neste sentido, a preservação do JL contribui com a identidade do torcedor com os clubes potiguares e com a história de sua cidade.
A luta pela preservação do Estádio Juvenal Lamartine não interessa apenas ao setor esportivo, mas a toda comunidade norte-rio-grandense. Por isso, conclamamos todos os cidadãos e cidadãs de todos os segmentos sociais que se preocupam com o futuro de nossa cidade, principalmente os relacionados com o meio ambiente, como a Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN – IDEMA, para formarmos uma Frente Ampla com o objetivo comum de garantir a preservação do Estádio Juvenal Lamartine.