Diversos

Brasileiras trabalham ‘de graça’ a partir de 14h56; entenda

2015-810986936-2015-809501130-2015042040363.jpg_20150420.jpg_20150426Participantes do grupo Mulheres Rodadas posam no Rio de Janeiro – Márcia Foletto / O Globo

Se, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, o salário das mulheres foi 74,2% do que receberam os homens no Brasil, elas estariam trabalhando “de graça” a partir das 14h56 — considerando uma carga horária de oito horas e a hora de entrada às 9h da manhã. Foi este o cálculo que levou as islandesas a fazerem uma greve na segunda-feira a partir das 14h38, horário em que, segundo as associações feministas, elas estariam deixando de ser pagas por receberem um salário 14% menor que os colegas homens.

O retrato da situação para o Brasil foi calculado pelo O GLOBO com a supervisão de duas economistas, Hildete Pereira de Melo e Cristiane Soares. Organizações europeias fazem cálculos também para definir em que momento do ano as mulheres passam a “trabalhar de graça” — na Bósnia, por exemplo, a data seria 15 de julho, e na Noruega, 4 de dezembro. A conta, claro, é genérica e não distingue dias úteis de dias de descanso, mas no Brasil, segundo os dados da PNAD de 2014, as mulheres param de receber uma remuneração igual à dos colegas em 28 de setembro.

As islandesas protestaram contra a lenta diminuição na desigualdade de gênero, e apontaram que, a cada ano, as mulheres ganham apenas mais três minutos de pagamento igualitário. No Brasil, segundo os cálculos para os últimos quatro anos, adiciona-se anualmente cinco minutos: em 2013, as mulheres deixaram de ser remuneradas como os homens às 14h50; em 2012, às 14h48; e em 2011, às 14h51.

Para Hildete Pereira de Melo, professora na Universidade Federal Fluminense (UFF), os dados permitem um retrato genérico da desiguldade salarial entre homens e mulheres — que escondem nuances até mais drásticas.

— A diferença salarial aumenta com a escolaridade, por exemplo. Isto é um retrato que, por mais que a mulher tenha doutorado ou faça um esforço colossal para aumentar sua educação, o patriarcalismo está enraizado. A inclusão das horas gastas em afazeres domésticos também desnudariam uma jornada maior, e esta é uma questão vital para entender a desigualdade de gênero.

Nos cálculos realizados pelo GLOBO, o Brasil aparece com um horário de saída do trabalho mais tardio que a Islândia — o que pode dar a impressão de que há no país nórdico uma desigualdade salarial de gênero menor. É importante destacar, porém, que não foi possível acessar os cálculos exatos feitos para a Islândia, que é inclusive considerada pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) o país com menos disparidade entre homens e mulheres no mundo.

A discussão sobre a igualdade de gênero ganhou novos capítulos nesta semana: na segunda-feira, um novo relatório do FEM revelou que, no ritmo atual, a desigualdade salarial entre homens e mulheres só terá fim em 170 anos. Nesta sexta-feira, a ONU Mulheres promove o evento “Por um Planeta 50-50 em 2030: Mulheres do Amanhã” no Rio de Janeiro.

O Globo

Opinião dos leitores

  1. Pelo jeito nas multinacionais isso se acentua. Pessoas com mesmo tempo no cargo e mesmas funções recebendo de forma diferente. Nunca trabalhei em multinacional. Já trabalhei em várias empresas, em várias cidades, nunca vi diferença salarial por gênero de sexo. Somente por tempo no cargo. Realmente, a maioria esmagadora com mais tempo nos cargos, os mais antigos eram homens. Mas, creio que isso tem a ver com a entrada tardia da mulher no mercado de trabalho. Creio que quando esses se aposentarem e as mulheres vierem a ocupar esses cargos, o salarial será igual. Eu acho que essa conta não é feita da forma como deve ser. Pois, por mais que as pessoas tenham a mesma função, o tempo no cargo é sim fator para um salário maior. É algo institucionalizado, arraigado nas empresas brasileiras. Se é certo ou não, é outra história.

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *