Diversos

‘Tudo virou, é feminista ou machista. Prefiro a palavra igualdade’, diz atriz e musa global Paolla Oliveira, sobre feminismo

A atriz Paolla Oliveira costuma falar que fazer uma novela das nove da Globo requer coragem. Seja porque, como uma obra aberta, que pode mudar de acordo com vontades do autor e da audiência, a trama exige versatilidade. Ou porque expõe o artista a todo tipo de crítica –e isso exige que ele esteja seguro de si.

*

Há algumas semanas, ela começou a dar a cara a tapa mais uma vez. E, agora, também distribui tapas (e socos e chutes). No ar em “A Força do Querer”, a atriz –que fez no horário nobre sua estreia na dramaturgia, 12 anos atrás, em “Belíssima”– vive uma policial que pratica MMA e sonha em se firmar como lutadora.

*

“Até agora eu não tive um volume tão grande de texto, mas o meu físico já está um pouco cansado”, diz ao repórter Joelmir Tavares, num intervalo de gravação em uma das barcas que fazem a travessia do Rio para Niterói.

*

A produção enche de gente a embarcação, reservada só para a novela naquela sexta-feira quente. São figurantes que chegaram às 7h30 e recebem pelo trabalho R$ 47, além de lanche. Pouco antes da entrada de Paolla e do ator Marco Pigossi, uma das contratadas precisa sair, amparada pela equipe –se sentiu enjoada com o balanço da balsa.

*

A labuta para os atores também parece intensa, mas de outra forma: fazem e refazem várias vezes as cenas de namoro do casal, com câmeras captando em muitos ângulos os beijos no interior e na proa da balsa em movimento.

*

Descrita pela Globo como “uma policial linda, mas durona e cheia de garra, que quer mostrar que mulher pode fazer o que quiser e não aceita domínio de namorado”, a personagem Jeiza está em sintonia com os tempos de empoderamento feminino. Mas sua intérprete para e pensa antes de dizer se ela é feminista.

*

“Tenho um pouco de dificuldade porque agora tudo virou: é feminista ou é machista. É ficar enquadrando as pessoas e colocando elas em apenas um lugar. A Jeiza, assim como eu, é mulher. Prefiro falar da palavra igualdade. A Jeiza quer ser mulher e não quer estar abaixo de ninguém, seja homem ou mulher. Quer só ser respeitada igualmente.”

*

Paolla aderiu ao movimento das colegas da emissora que se organizaram após a acusação de assédio sexual contra o ator José Mayer feita por uma figurinista. Postou em uma rede social o lema da campanha: “Mexeu com uma, mexeu com todas”. Ela também se sentiu constrangida com o “pensamento antigo” que o presidente Michel Temer expôs no Dia Internacional da Mulher, quando associou mulheres a tarefas do lar.

*

“Ao se desprender de quem ele mostra [ser] e falar dele, ele foi para onde sabe. É uma questão entranhada não só naquele homem, em outros também. Ele nem quis agredir. Foi natural. A batalha ainda é grande, mas acho legal olhar para trás e ver o que a gente conquistou. Ficar só no lugar da insatisfação é ruim.”

*

Na ficção, as batalhas de Paolla andam sendo bem próximas do real. Começou a treinar luta em outubro, o que torneou ainda mais os músculos dela, já acostumada a correr e fazer ioga. “Faria parte do meu trabalho e eu não estaria errada se usasse dublê. A gente cansa. Mas acho que faz parte aprender algumas coisas com mais afinco.”

*

Dona do boxer Adja (“um bobão”) e do vira-lata Chopp, a atriz se viu, também por causa do papel, obrigada a ter voz de comando para se aproximar de cachorros treinados pela PM. Na história, ela é do Batalhão de Ações com Cães, que usa os animais para achar drogas, por exemplo.

*

“Dei banho, levei para fazer xixi e cocô e aí fiz amizade”, conta sobre os dois pastores alemães que se revezam nas cenas. A experiência representou ainda um retorno à infância, porque o pai dela, coronel reformado, já trabalhou no canil da PM de São Paulo. Paulistana da Penha (zona leste), hoje moradora do Rio, a atriz o visitava no trabalho quando era criança.

*

José Everardo, que foi oficial da Rota (batalhão da polícia paulista), anda se sentindo homenageado com o papel, conta a filha. “Ele me deu dicas de tiro quando fiz aula.” Paolla diz que “toda instituição tem pontos questionáveis, seja a polícia, o casamento, o governo”, mas que suas lembranças do trabalho do pai são do ponto de vista da filha que não sabia se ele voltaria vivo.

*

“O outro lado, o lado negro, existe, mas não foi o que eu convivi. Vi o lado de alguém que precisava trabalhar na polícia e em outro lugar para conseguir dar conta dos três filhos e que saiu da polícia depois de 30 anos falando isso: ‘Já não é mais igual’.”

*

Aos 35 anos, completados neste mês, e famosa desde os 23, Paolla faz questão de separar bem realidade e fantasia. Fica inibida diante de perguntas sobre o namoro com o diretor artístico de “A Força do Querer”, Rogério Gomes, o Papinha (com quem ela se envolveu em 2015, durante a novela “Além do Tempo”, também comandada por ele).

*

“As pessoas estão sempre querendo ver [notícias da vida amorosa], mas não vai mudar em nada a vida delas. Eu até entendo que vá mudar saber como eu malho, o que eu como, sei lá, ‘vou fazer igual’. Mas essa parte aqui [aperta as duas mãos no peito] ninguém vai poder fazer nada igual. Então não interessa a ninguém.”

*

No ambiente de trabalho com o companheiro, diz, os papéis não se misturam. “Tem que existir [uma divisão]. Se não existisse, quem ia ficar chateada seria eu. Porque aí o demérito é com a minha profissão, é com o meu profissionalismo. E eu tenho isso antes de estar com ele.”

*

Uma risada desconfortável também surge no rosto da atriz se o assunto é a cena seminua que rendeu muito comentário em “Felizes para Sempre?” (2015). “Aquilo não foi nada perto do que foi a série”, despista. “Mas foi ótimo, repercussão maravilhosa.”

*

Nas imagens, a atriz aparecia de costas, andando em direção a uma janela com vista para o lago Paranoá. Sua personagem, uma prostituta, estava num quarto de hotel com um dono de empreiteira envolvido em corrupção na capital federal. “Não tinha nada demais. Era uma cena que retratava Brasília, tinha uma conotação política ali.”

Mônica Bergamo – Folha de São Paulo

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *