Yuno Silva para Tribuna do Norte:
O suntuoso Palácio Potengi, antiga sede do Governo do RN e que desde 1997 abriga a Pinacoteca do Estado, já teve dias melhores. Imponente, o prédio de traços neoclássicos encravado na Praça Sete de Setembro Cidade Alta, está com as estruturas internas abaladas devido ao imbróglio que envolve a nova diretoria da instituição e a equipe de funcionários – impasse que reflete no próprio funcionamento da instituição: baixa visitação, pouca ocupação, setor de restauração parado. Nem o letreiro na fachada da edificação existe mais. Os ânimos estão acirrados no Palácio, e a troca de acusações desembocou em uma reunião pautada por um documento chancelado por 15 dos 16 funcionários púbicos lotados na instituição, que pedem a exoneração imediata de Novenil Barros do cargo de diretor da Pinacoteca.
Em forma de abaixo assinado, o documento foi parar na mesa de Ana Neuma, diretora administrativa da Fundação José Augusto, que participou da reunião realizada na tarda desta última quarta-feira (27). “As relações estão bem difíceis por lá, e pela reunião que tivemos ontem (quarta) não vejo perspectiva de conciliação”, afirmou Neuma. “A situação é complicada e até a próxima segunda-feira (1) teremos uma solução”, adiantou. Apesar de não confirmar a substituição de Novenil, a possibilidade não está descartada. “Ele já mostrou competência, apresentou bons projetos para movimentar a Pinacoteca e não podemos nos precipitar”, garantiu.
O epicentro do conflito gira em torno do atual diretor e do antigo administrador Jorge Paiva, funcionário público que há dez anos está no Palácio Potengi. “A questão toda é que cheguei com vontade de movimentar, de realizar, de fazer e ver as coisas acontecerem, mas venho enfrentando resistência desde o começo – as pessoas estão muito mal acostumadas, ficam esperando ordens, não há iniciativa. Falta interesse”, afirma o artista plástico Novenil Barros, desde março no comando do espaço cultural.
Segundo ele, muitos funcionários da Pinacoteca nem sabem o que é arte. “Como posso fazer as coisas funcionarem sem equipe? Estou montando uma equipe paralela para tocar alguns projetos”, apontou. Novenil conversou com a TRIBUNA DO NORTE enquanto se dirigia à Fundação José Augusto, onde participaria de reunião com comissão julgadora responsável pela seleção dos 30 artistas vencedores do I Salão Nordeste de Arte Popular Xico Santeiro.
Quando a reportagem do VIVER esteve na Fundação José Augusto, na última terça-feira (26), para entrevistar a professora Isaura Rosado, a secretária Extraordinária de Cultura limitou-se a falar que “os servidores estão com algumas dificuldades com o diretor Novenil Barros, e chamaram Ana Neuma para uma reunião. Mas não há nenhuma conversa sobre exoneração”, disse no dia anterior ao encontro. “Não consigo montar uma equipe”, diz Novenil
Acusado de destratar e perseguir funcionários, Novenil acredita que o maior problema é mesmo a falta de interesse das pessoas: “Até agora não consegui preencher algumas vagas no quadro básico da Pinacoteca. Ninguém se prontificou a assumir o setor de promoção cultural do espaço, não há uma pessoa responsável pela secretaria. Todos só querem ser guias. Passam o dia inteiro sentados, conversando, enquanto há muita coisa por fazer e, do jeito que está a situação, a Pinacoteca está mais para um depósito de quadros, infelizmente”, lamenta. “E um depósito com acervo desfalcado, diga-se de passagem. Há muitas obras espalhadas na casa de particulares, gente que tinha acesso direto à Pinacoteca, e vai chegar o momento de recuperar esse acervo, afinal é patrimônio do Estado. Das onze obras doadas por Abrahão Palatinik, por exemplo, só consegui localizar duas”, desabafa.
Novenil disse que chegou a incentivar funcionários a participar de cursos de qualificação, mas “nada, só estão preocupados com dinheiro, aumento salarial, carro novo e plano de cargos. É uma dificuldade até para arranjar gente para estar presente durante a abertura de uma exposição no período da noite”, verifica.
“Acredito que a reunião de ontem (quarta) tenha zerado esse conflito, e espero que as pessoas se enquadrem na nova proposta de transformar a Pinacoteca em um espaço cultural movimentado. Neste mês de agosto quero definir a função de cada um aqui dentro”.
“Ele nos chama de ladrão e vagabundo”, diz Jorge Paiva
Do outro lado do conflito está o servidor Jorge Paiva, um dos funcionários que reclamam do administrador atual. Há dez anos lotado na Pinacoteca, Paiva entregou o cargo de administrador em junho por falta de entendimento com o diretor: “Estamos realmente insatisfeitos com tudo o que está acontecendo por aqui. Ele (Novenil) chama as pessoas de ladrão, vagabundo, preguiçoso; inventa coisas, diz que estão sabotando o trabalho, deletando projetos dele do computador. Me acusou até de cortar o cabo do telefone”, denuncia. “A FJA não pode ser conivente com essa situação”.
De acordo com Jorge Paiva, autor do documento encaminhado à Fundação, durante a reunião realizada na quarta-feira (27), houve bate boca e quase saiu tapa: “Tenho testemunhas de tudo o que falei na reunião, inclusive ele tentou desmentir alguns fatos se fazendo de vítima, mas não conseguiu. Não deixa ninguém entrar na sala dele, e disse que quer devolver todo mundo para a FJA”, informou Paiva, que pretende pedir licença prêmio para “cair fora”.
As servidoras Joana D’Arc Pereira da Silva e Rita Maria da Silva, a primeira também com dez anos de Pinacoteca e a segunda trabalhando por lá desde 1997, confirmam todas as declarações de Jorge. “Ele não falou nada sobre os tais cursos, diz que tem muitos projetos mas não vimos nada”, afirma Joana. “Existe possibilidade de acordo, mas ele (Novenil) tem que mudar a maneira de ser. Não fomos nem comunicados da abertura da exposição de Iaperi”, disse quando questionada sobre a ausência da equipe durante a vernissage da exposição de arte Naïf que está cartaz.
“Já passaram por aqui vários diretores (Hélio de Oliveira, Selma Bezerra, Vatenor de Oliveira, Candinha Bezerra), mas é a primeira vez que enfrentamos problemas desse tipo. Se ele quer determinar funções, que faça uma reunião conosco”,
verifica Rita.
Bruno,
Trabalho no setor público e nunca tinha visto ninguém traçar de forma tão perfeita o perfil de grande parte dos servidores do Estado. Se bem conheço a realidade das repartições estaduais, e nunca tendo sequer ouvido falar de nenhuma das partes envolvidas, arrisco sem medo de errar: esse Novenil está com a razão!
"Passam o dia inteiro sentados, conversando, enquanto há muita coisa por fazer e, do jeito que está a situação, a Pinacoteca está mais para um depósito de quadros, infelizmente”, lamenta.
Novenil disse que chegou a incentivar funcionários a participar de cursos de qualificação, mas “nada, só estão preocupados com dinheiro, aumento salarial, carro novo e plano de cargos. É uma dificuldade até para arranjar gente para estar presente durante a abertura de uma exposição no período da noite”, verifica.