O rebaixamento de um grande clube, defensor do título nacional, e com um orçamento bastante superior ao de mais da metade dos times na disputa, pode ser comparado a um acidente de avião: é preciso que aconteça uma sucessão de erros, acumulados, para que a tragédia se consume. A do Fluminense se concretizou neste domingo, com o clube terminando o Brasileiro na zona de rebaixamento pela quarta vez nos últimos 20 anos.
Diferentemente de 1996, 1997 e 1998, porém, o Fluminense atual tinha muito mais condições de evitar o vexame. Um patrocinador que injeta dinheiro, um grupo de jogadores caros e títulos recentes formavam o contexto do futebol tricolor há um ano, quando o time levantou o tetracampeonato brasileiro. Já na virada do ano começou a série de equívocos que culminou no rebaixamento.
Ainda em janeiro, a diretoria, capitaneada pelo diretor Rodrigo Caetano, e a comissão técnica liderada por Abel Braga, avaliaram que o elenco não precisava de grandes reforços. Não era apenas uma escolha A Unimed já sinalizava que 2013 seria um ano de poucos investimentos extras, além da manutenção de estrelas como Diego Cavalieri, Deco e Fred. O time faria poucas contratações e só investiria alto para uma posição, a de meia.
A opção por Felipe, jogador de salário alto e idade avançada, se mostraria ruim. As contratações mais baratas também fracassaram: Wellington Silva, Rhayner e Monzón não vingaram. Com Deco e Fred constantemente lesionados, o time foi eliminado da Libertadores. No segundo semestre, os erros da diretoria se agravaram.
O que estava ruim piorou
Se Deco e Fred já davam sinais de que podiam ficar mais tempo no estaleiro que em campo e novamente não haveria dinheiro para ir ao mercado (além da Unimed com o freio puxado, o clube sofria com as penhoras), perder jogadores importantes poderia ser muito ruim. Mesmo assim, o Fluminense vendeu Thiago Neves e Wellington Nem, sabendo que não teria como fazer a reposição. Há três semanas, dias antes de se reeleger, Peter Siemsen afirmou, ao GLOBO, que a venda dos dois titulares não foi uma necessidade financeira do clube:
— Vendê-los foi uma opção do clube. É gestão. Não foi necessidade. Nosso orçamento prevê todo ano receita com venda de jogadores. As propostas eram muito boas, era a hora de vender — disse Siemsen.
Para aumentar o enfraquecimento do elenco, Deco se aposentou. Antes disso, uma sequência de cinco derrotas culminou na demissão de Abel e expôs os problemas de um futebol com duplo comando, o do clube e o do patrocinador. Peter Siemsen não queria demitir Abel, mas a vontade de Celso Barros prevaleceu. O presidente da Unimed também fez o sucessor, e Vanderlei Luxemburgo assumiu o time ainda na 10ª rodada do primeiro turno.
Num primeiro momento, conseguiu fazer o time sair da zona de rebaixamento. Já sem Fred, que outra vez se lesionou, perdeu o lateral Carlinhos, àquela altura talvez a principal peça ofensiva de um time que já perdera Nem, Thiago e Deco. Com muitas mexidas no time a cada partida, o Fluminense de Vanderlei começou a afundar, e a diretoria novamente não soube agir sob crise. Siemsen queria demiti-lo após a derrota para o Vitória, Celso Barros segurou o treinador. Já se sabia que a demissão era questão de tempo, e o time ainda perdeu mais dois jogos.
Veio Dorival Júnior, e apesar de duas vitórias nos primeiros jogos, não houve força que impedisse o avião tricolor de cair.
O Globo
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