Preso a uma coalizão de partidos que só pensa agora em eleger a maior bancada possível na Câmara dos Deputados em outubro, o presidente Michel Temer já perdeu a ilusão de ter um ministério forte nos seus últimos dias de governo. O entorno de Temer trabalha com a realidade: os cerca de 12 ministros candidatos que deixam suas pastas em 7 de abril articulam para colocar na vaga prepostos que cuidem de seus interesses eleitorais, sem espaço para grandes estrelas.
A maioria quer deixar na cadeira seu número dois, os secretários executivos de confiança que, na prática, tocam os ministérios e, consequentemente, os arranjos e obras em andamento. Esse quadro, entretanto, pode sofrer uma guinada se Temer for mesmo convencido a buscar a reeleição. Aí usará a caneta para preencher os cargos de olho na sua foto na urna em outubro.
— Cada um dos ministros que sai sonha em deixar em seu lugar alguém que cuide de seus interesses na campanha, mas o propósito do Michel será que todos os novos ministros estejam preocupados com a defesa do governo. Os substitutos podem ser técnicos, mas têm que estar afinados com o programa e os interesses do governo. O presidente é quem terá o condão de administrar as indicações — diz um dos ministros políticos do Planalto.
Na Saúde, por exemplo, o governo voltou a sonhar com um nome estrelado e vai pedir ao PP, do atual ministro Ricardo Barros, para procurar alguém de renome na área. Mas o presidente do partido, o senador Ciro Nogueira (PI) já avisou que o futuro comandante da pasta deverá ser um nome técnico.
— Michel voltou à ideia inicial de ter uma estrela no Ministério da Saúde. Esse sonho não morreu e ele vai sugerir ao PP que procure alguém que se imponha pelo nome e pela responsabilidade — afirma um dos interlocutores de Temer.
— Isso é especulação. Michel não me pediu nada. O substituto será um técnico — avisa o pragmático Ciro Nogueira, enterrando o sonho de Temer.
A posição do presidente do PP mostra que a nova Esplanada, a partir de abril, será um amontado de técnicos de segundo escalão e políticos menores. No caso do ministério dos Esportes, o ministro Leonardo Picciani (PMDB-RJ) quer deixar em seu lugar o secretário executivo Fernando Avelino, ex-diretor do Detran do Rio de Janeiro e um quadro do PMDB fluminense.
— Ele é uma escolha técnica. Foi escolhido por mim para ser secretário executivo — confirmou Picciani.
O futuro escolhido para ocupar a vaga do ministro Fernando Coelho Filho, na pasta de Minas e Energia, é aguardado com apreensão no mercado e entre os próprios servidores, que temem um nome de fora e torcem para que seja escolhido o número dois da pasta. O ministério toca uma das principais propostas da área econômica neste ano, a privatização da Eletrobras, e programa uma ampla reforma no setor elétrico. Além disso, tem em mãos os próximos leilões de petróleo e a possibilidade de fazer uma mega licitação: o potencial de arrecadação para os cofres da União chega a R$ 100 bilhões.
Nos bastidores, a corrida para substituir Fernando Coelho Filho já começou. Ele vai concorrer a uma vaga de deputado federal por Pernambuco, pelo PMDB, após deixar o PSB junto com seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho. O temor de agentes do setor elétrico é que a troca de ministro signifique uma guinada brusca nos rumos da pasta, que tem atuação elogiada pelo mercado.
A solução mais desejada pelo mercado e na própria pasta é colocar o atual secretário executivo, Paulo Pedrosa, como ministro. Esse arranjo poderia manter as atuais ações do ministério, já que Pedrosa é considerado uns dos fiadores técnicos de Minas e Energia. Por outro lado, outra corrente no governo acha que um político vai assumir o posto a partir de abril.
Devem deixar a Esplanada, até o fim de março ou início de abril — o prazo de desincompatibilização é 7 de abril — os ministros Marx Beltrão (Turismo), Leonardo Picciani (Esportes), Osmar Terra (Desenvolvimento Social), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), Ricardo Barros (Saúde), Mendonça Filho (Educação), Helder Barbalho (Integração Nacional) Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicação), Raul Jungman (Defesa), Maurício Quintela (Transportes) e Sarney Filho (Meio Ambiente).
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ainda não decidiu se fica ou se sai para ser candidato a presidente da República. E o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que encerra seu mandato de senador em janeiro, decidiu continuar no ministério e não vai concorrer a reeleição para o Senado.
— Tenho muitas tarefas abertas. Ninguém é insubstituível, mas já sei o caminho das pedras. Outro ministro levaria alguns meses para encontrá-lo — disse Maggi. — Em mais nove meses teremos um outro ministro e mais uma descontinuidade. Acho que, permanecendo, eu ajudo o agronegócio brasileiro, mais do que tendo um novo mandato no Senado.
O Globo
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