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Casamentos longos: G1 analisa mudanças com tempo e expectativas

A maioria das pessoas se surpreende ao ver casais que estão juntos há décadas, como se a longevidade de um relacionamento fosse inviável nos tempos de hoje. Mas será que não há uma receita para dar mais chances de um casamento vingar? Para Eli Finkel, psicólogo e professor na Northwestern University, criar expectativas muito altas em relação à união pode funcionar em fases de bonança, mas acaba trazendo problemas na hora de enfrentar uma situação de crise. Finkel viveu isso na pele, depois de sua mulher enfrentar duas gestações difíceis e depressão pós-parto. Amor, intimidade e sexo pareciam ter desaparecido, mas eles conseguiram dar a volta por cima e o processo todo se transformou no livro “The all-or-nothing marriage” (em tradução livre, “O tudo ou nada do casamento”). Sua fórmula: durante alguns anos, ambos baixaram as expectativas em relação à vida a dois. Também ajudou conversar sobre o empenho de cada um para fazer o relacionamento funcionar, o que aumentou o comprometimento.

Talvez o erro esteja na pergunta: como é possível ficar com uma pessoa por tanto tempo? Porque a resposta é que não ficamos, todos mudamos muito ao longo dos anos. O problema é que os compromissos e a pressão do dia a dia nos levam a não acompanhar as mudanças – de repente, dois estranhos habitam a mesma casa e perdemos a oportunidade de manter a chama acesa. Em “O curso do amor”, o filósofo Alain de Botton afirma que o começo de um relacionamento recebe atenção desproporcional, porque é visto como se contivesse, de forma concentrada, tudo o que é importante no amor, apesar de ser uma fase entre muitas outras. “Permitimos que as histórias de amor que vivemos acabem cedo demais. Aparentamos saber muito sobre como começa o amor e quase nada acerca de como ele pode durar”, escreveu. A maturidade estaria relacionada a reconhecer que o amor romântico representa apenas um aspecto, e limitado, da vida emocional.

O psiquiatra e psicanalista Flavio Gikovate, com quem tive o privilégio de conviver, dizia que o amor é como uma estação de águas: uma sucessão de dias tranquilos e prazerosos, de cumplicidade e planos em comum. Um sentimento de aliados, amigos, parceiros. Botton vai na mesma linha em seu livro: “na verdade, o amor chega a seu ápice nos momentos em que o ser amado se revela capaz de entender, com mais clareza do que os outros – e talvez até melhor que nós mesmos – nossas partes caóticas, embaraçosas e vergonhosas”. Por isso ele prega que, muitas vezes, as fantasias são “o melhor que podemos extrair de nossos desejos múltiplos e contraditórios. Fantasiar poupa nossos entes queridos da plena responsabilidade e da assustadora estranheza de nossas compulsões”.

Na edição do fim de novembro, a revista britânica “The Economist” fez uma reportagem especial sobre a instituição do matrimônio, concluindo que ela vai bem, obrigada, nos países que vêm se despindo da sua obrigatoriedade e rigidez. Se até o meio do século 20 o casamento era praticamente inevitável, os números atuais são bem diferentes. Em 1972, 87% das mulheres francesas entre 30 e 34 anos estavam casadas; hoje são 43%. Na Noruega, elas se casam em torno dos 32 anos. Justamente porque o casamento deixou de ser uma obrigação, um rito de passagem entre a adolescência e a vida adulta, transformou-se numa celebração de amor e compromisso. Quando as pessoas têm mais tempo para escolher seu parceiro ou parceira, mais chances de a união ter sucesso. A maturidade ajuda a perceber que os dois podem evoluir juntos e por muito tempo.

G1

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