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Na contramão das outras regiões do país, Nordeste tem crescimento 4%

O Nordeste, região em que a presidente Dilma Rousseff teve a maior queda nas intenções de voto no último Datafolha, vive neste ano situação inversa à do resto do país em termos econômicos.

A atividade econômica cresceu acima de 4% nos cinco primeiros meses do ano, resultado superior à média nacional (0,6%), segundo o Banco Central.

A região apresenta, por outro lado, os piores dados em relação ao emprego. Quando se considera apenas os dados sobre emprego formal, o Nordeste é a única região na qual houve redução no número de vagas no primeiro semestre, segundo o Ministério do Trabalho.

A piora no mercado de trabalho reflete, principalmente, a crise na construção civil, grande empregadora na região. Os dois Estados que mais cortaram empregos no setor, depois de São Paulo, foram Bahia e Pernambuco.

O Nordeste passa por uma transição entre um período de muitas vagas com salários menores na construção para outro com menos empregos, com rendimentos maiores, na indústria, diz o presidente interino da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, Ricardo Essinger.

“Muitas fábricas estão ficando prontas, e a quantidade de operários empregados na produção é menor que na construção. Mas você está criando emprego de melhor qualidade e remuneração.”

A entrada em operação dessas empresas é um dos motivos pelos quais a indústria cresceu 1,6% na região até maio. Ao mesmo tempo, o setor caiu 1,6% na média nacional, disse Essinger.

O fim de uma série de obras também afeta as construtoras do setor imobiliário. De acordo com o sindicato das empresas de construção da Bahia (Sinduscon-BA), muitos trabalhadores foram dispensados no interior com a conclusão de obras do programa federal Minha Casa Minha Vida fases 1 e 2. Novos empreendimentos só vão aparecer quando for lançada a fase 3, prevista para 2015.

Disputas judiciais com a prefeitura de Salvador, em relação a tributos, também paralisaram o já desaquecido mercado da capital. “São dificuldades dentro de um mercado não tão positivo como nos últimos anos”, diz o presidente do Sinduscon-BA, Carlos Henrique Passos.

O operário Israel dos Santos Filho, 24, foi demitido há 15 dias em Salvador, após o término da primeira etapa da obra. Desde então, procura vaga em outros canteiros.

“Até um ano atrás, você saía de uma obra e imediatamente conseguia se colocar em outra. Agora está muito mais difícil. Conheço vários amigos desempregados.”

Israel trabalhava havia seis anos com carteira assinada como operador de bob cat (espécie de empilhadeira que retira entulho). O salário médio na função é R$ 1.200.

Apesar da piora no emprego, a renda média cresce acima do verificado no restante do país, segundo o IBGE. Além do aumento nas vagas com remuneração maior, o Nordeste concentra grande parte dos recursos destinados a programas sociais.

Esse fator tem contribuído para sustentar o consumo na região, além do impacto da indexação do salário mínimo, segundo o professor Roberto Tatiwa, da Universidade Federal do Ceará.

As vendas do comércio na região crescem acima da média nacional. O pior resultado, do Piauí (3,3%), é mais que o dobro da média (1,4%).

O cenário contribui para a boa avaliação do governo na região. Dilma lidera as intenções de voto no Nordeste, embora tenha caído de 55% para 49% da preferência no último Datafolha. Eduardo Campos (PSB) tem 12%. Aécio Neves (PSDB), 10%.

Para Tatiwa, o Nordeste precisa melhorar em relação à qualidade da mão de obra, infraestrutura e indicadores sociais para manter o crescimento superior ao do país.

“Diferenças entre crescimento e qualidade de vida podem estimular uma migração. Dessa vez, não de retirantes, mas de pessoal qualificado”, afirma.

Folha Press

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