Esporte

CASO GERSON – FLAMENGO: Bahia informa que perícias em língua estrangeira não comprovam injúria racial, e diz que vai reintegrar Ramírez por ‘inexistência de provas’

Foto: Jorge Rodrigues / AGIF

Nesta véspera de Natal, o Bahia divulgou uma ‘carta à sociedade’ onde informa que o atleta Índio Ramírez será reintegrado ao elenco após o afastamento devido às acusações de injúria racial por parte de Gerson, do Flamengo. A decisão do Tricolor foi motivada por ‘inexistência de provas e possíveis’, mesmo entendendo que a palavra do jogador rubro-negro é revelante.

“Os laudos das perícias em língua estrangeira contratadas pelo Bahia não comprovam a injúria racial e o clube entende que, mesmo dando relevância à narrativa da vítima, não deve manter o afastamento do atleta Índio Ramírez ante a inexistência de provas e possíveis diferenças de comunicação entre interlocutores de idiomas diferentes. O papel do Bahia é de formação e transformação, sempre preservando os direitos fundamentais e a ampla defesa. O atleta deverá ser reincorporado ao elenco tão logo os profissionais da comissão técnica e psicólogos entendam adequado”.

Na carta, o Bahia também enfatizou que continuará atento aos desdobramentos do caso e anunciou que incluirá cláusula antirracista, xenofóbica e homofóbica no contrato dos atletas. Confira abaixo o que o Tricolor baiano chamou de ‘conjunto imediato de medidas estruturais’.

Confira a carta do Bahia na íntegra:

“PARTE 1 – O RACISMO E A SOCIEDADE

O racismo faz nosso país sangrar. Pela morte, pela dor, pelas portas fechadas, pela discriminação no mercado de trabalho, pela violência diária de todas as formas. O racismo entra pela fresta das casas, está nas ruas, nos supermercados, nas empresas e também no futebol. Segue impregnado por todos os lados. Combater o racismo é dever de todos: das organizações, dos governos e sobretudo das pessoas que historicamente se beneficiaram de uma estrutura social e econômica sustentada na branquitude e no racismo. O racismo é um fenômeno concreto e opera para além das estatísticas de expectativa de vida, acesso à saúde e garantias dos direitos fundamentais e dignidade humana. O racismo é persistente, gritante, barulhento e, por muitas vezes, silenciosamente cruel.

PARTE 2 – O BAHIA NO DEBATE RACIAL

Há três anos, através do Núcleo de Ações Afirmativas, o Bahia se tornou referência internacional na luta antirracista. As campanhas educativas do clube viraram tema de vestibular em universidades e de redação em escolas. Além das campanhas, o Bahia foi o primeiro time de futebol no mundo a lançar um programa de imersão para debater os aspectos estruturais do racismo. O “Dedo na Ferida” capacitou 484 pessoas em 15 organizações de 3 capitais brasileiras. Funcionários, diretores, conselheiros, torcidas organizadas, profissionais de imprensa, além de empresas de fora do esporte, participaram gratuitamente. Antes disso, homenageou personalidades negras do passado e do presente em suas camisas. Na divisão de base, o Bahia possui amplo programa de desenvolvimento humano tendo o combate ao racismo como tema principal. Há apenas 33 dias, abriu programa de trainee exclusivo para pessoas autodeclaradas pretas, ao todo com 305 candidatos, em outra inovação no futebol.

PARTE 3 – ACONTECEU COM O BAHIA? QUAL O SENTIDO DISSO?

O episódio do último domingo (20), com toda a sua repercussão e simbologia, nos revela que o combate ao racismo deve ser ainda mais aprofundado no nosso clube e no Brasil. O Bahia é um reflexo de uma sociedade que carrega o racismo em suas estruturas. A questão racial não pode servir de pano de fundo para uma disputa entre clubes e torcidas rivais. O racismo não veste uma só camisa. A postura antirracista deve ser constante e não apenas quando convém ao time que torcemos. No caso do Bahia, embora já venha perseguindo a luta antirracista, seria ingênuo acreditar que estaríamos imunizados a um fenômeno tão complexo e particularmente enraizado na sociedade brasileira. Ninguém está! Ser antirracista no Bahia não é apenas uma opção da presente gestão, mas uma obrigação institucional.

PARTE 4 – O QUE FAZER?

Os laudos das perícias em língua estrangeira contratadas pelo Bahia não comprovam a injúria racial e o clube entende que, mesmo dando relevância à narrativa da vítima, não deve manter o afastamento do atleta Indio Ramírez ante a inexistência de provas e possíveis diferenças de comunicação entre interlocutores de idiomas diferentes. O papel do Bahia é de formação e transformação, sempre preservando os direitos fundamentais e a ampla defesa. O atleta deverá ser reincorporado ao elenco tão logo os profissionais da comissão técnica e psicólogos entendam adequado.

O Futebol é reflexo de uma sociedade que, quando não nega o racismo, adere a um populismo punitivista que finge resolver o problema apenas punindo o agressor. Atos de discriminação racial não são “casos isolados”.

Portanto, por entender seu papel de entidade de interesse público, o Bahia se compromete publicamente a adotar um conjunto imediato de medidas estruturais:

1. Inclusão de cláusula anti-racista, xenofóbica e homofóbica no contrato dos atletas.

2. Proposta de criação de protocolo antidiscriminatório para jogos de futebol no Brasil.

3. Implantação do projeto “Dedo na Ferida” para o elenco na pré-temporada. Não haverá jogador ou jogadora que vista a camisa do Bahia sem que tenha antes a oportunidade de obter acesso a uma imersão sobre racismo estrutural.

4. Encaminhamento junto à mesa do Conselho Deliberativo do clube para incorporação de cotas raciais nas próximas eleições.

5. Inclusão de espaço no Museu do Bahia dedicado ao combate e debate do racismo, xenofobia, sexismo e LGBTfobia e demais formas de intolerância.

6. Apoio ao projeto de lei que Cria o Dia Nacional Da Luta Contra o Racismo no Futebol

Adicionalmente, o Bahia seguirá acompanhando os desdobramentos que ocorrerem fora das instâncias do clube, seja na Polícia Civil ou no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

Além de negros, somos nordestinos e conhecemos bem o poder do preconceito e da exclusão pela xenofobia. Diante disso e das provas constituídas, caberá ao atleta Ramírez decidir pela denúncia ou não quanto ao tema – e ao Bahia apoiar a decisão.

Desde o domingo à noite o Bahia procurou uma rede de apoio formada por lideranças ligadas a movimentos sociais de enfrentamento ao racismo como o Observatório de Discriminação Racial e instituições como a Defensoria Pública e o Ministério Público do Estado, com quem está construindo um Termo de compromisso antirracista. Entendemos que nesse momento é necessário incorporar o compromisso com a implantação real e perene da agenda antirracista. Desta forma, respaldo institucional e a experiência de tais atores deste processo consolida e qualifica as nossas decisões.

Muitas das ações propostas neste documento, dentre outras, estarão sendo instrumentalizadas, nos próximos dias em convênios, parcerias e termos de compromissos com a agenda de enfrentamento ao racismo. As decisões e propostas durante esse processo tiveram a colaboração dos voluntários do nosso Núcleo de Ações Afirmativas, professores e ativistas atuantes no debate racial nas universidades e nos movimentos sociais.

O Bahia segue como um clube atento ao seu papel de transformação e bem-estar social. O futebol não é um fim em si mesmo. É um agente que deve promover união, preservação do patrimônio cultural, lutas por igualdade e diversidade dentro e fora das quatro linhas.

Esporte Clube Bahia.”.

Esporte Interativo

 

Opinião dos leitores

  1. Se comprovar que o Ramires não falou o que Gerson diz, não é nenhuma novidade, este clube é imbatível em casos criminosos e irregulares, tem o caso dos garotos que morreram queimados, até hoje não entraram em um acordo razoável para indenizar as famílias, mas pagar 1,6 milhões para o Gabigol por mês pode, tem o caso da portuguesa que levou dinheiro do Flamengo em 2014 para escalar heverton na última partida para perder pontos favorecendo o Flamengo permanecer na série A.
    Tem casos de aliciamento de jogadores, um exemplo é o do William Arão que saiu do Botafogo , hoje já está notificado pela justiça para pagar 7 milhões.
    Enquanto houver um Marinho na globolixo este time mesmo com todos esses casos criminosos, continuará nas cabeças.
    Isso é o Flamengo, não existe igual.

  2. Tem que processar esse atleta mentiroso que inventou essa celeuma na vida do jogador do Bahia. Isso é um perigo em se tratando de atletas profissionais que trabalham para ganhar o seu sustento.
    Mas a bandidagem de Gerson tem que ser apurada e ele deveria ser suspenso por mentir para toda uma nação.
    Cabra safado.

  3. Amigo desculpe, mais o que uma coisa tem a ver com a outra? Crimes distintos, culpas distintas, bem como penas. Caso houvesse havido crime do jogador índio, que ao que parece, nao restou caracterizado, absolviçao e ponto. O crime do CT do Flamengo está sendo respondido, caso haja culpa ou dolo, rogar que os culpados sejam punidos. Um crime não anula o outro.

  4. Engraçado essa atitude do flamengo em penalizar um atleta por causa de discussão besta de futebol , enquanto isto, as crianças que o clube matou da pior forma que existe tiveram sua indenização negada covardemente. É muita hipocrisia.

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Polícia

PF cumpre mandado de reintegração de área de aproximadamente de 1.727 hectares invadida pelo MST na Bahia

Foto: Divulgação Polícia Federal

Uma área de aproximadamente de 1.727 hectares, localizada nos municípios de Juazeiro e Casa Nova, no estado da Bahia, pertencente à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), invadida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 2012, é alvo nesta segunda-feira (25) de uma ação da Polícia Federal (PF) para cumprimento de mandados de reintegração de posse.

Conhecidas como acampamentos Irani I, Irani II e Abril Vermelho, as terras da Codevasf foram invadidas pelo MST, segundo a PF, quando a companhia já havia definida a área para os projetos de irrigação Salitre e Nilo Coelho.

No mesmo ano de 2012, a Codefasf entrou com uma ação judicial solicitando a reintegração de posse. “O cumprimento se dá agora, pois o processo judicial chegou à fase de sentença em 2019”, diz a PF.

A decisão foi expedida pela Justiça Federal de Juazeiro, que também determinou ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que providenciasse o assentamento das pessoas que ocupavam irregularmente a área da Codevasf.

A desocupação, que conta também com o apoio de outros órgãos de segurança pública e do Poder Judiciário Federal, ocorre de maneira pacífica. A Codevasf, inclusive disponibilizou ônibus para conduzir as famílias até a nova área e caminhões para transportar os pertences e bens pessoais à localidade de assentamento.

Nota da Codevasf

Por meio de nota, a Codeveasf informou que as iniciativas para desocupação das áreas “ocorrem especialmente para proteção e preservação da área de reserva legal do Projeto Senador Nilo Coelho, um requisito fundamental para renovação do licenciamento ambiental do projeto e a continuidade de seu funcionamento, com a manutenção de mais de 60 mil empregos diretos e indiretos e o incremento anual de R$ 1,42 bilhão na economia da região”.

Sobre o a reintegração de posse no Projeto Salitre, a companhoa diz que ela “evitará a paralisação do projeto, que representaria um imensurável impacto social e econômico para a região com a perda da eficiência dos investimentos realizados pelo governo federal (R$ 820 milhões) e da perspectiva de geração de mais de 9 mil empregos diretos e indiretos”.

Agência Brasil

Opinião dos leitores

  1. Pelas fotografias esses vagabundos não produzem 1 kg de macaxeira, estão nas terras desde que o VAGABUNDO LADRAO CONDENADO LULA deu para essa quadrilha em 2012 e nada produziram

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Jornalismo

PM cumpre reintegração de posse de reitoria da USP e 66 baderneiros estudantes são detidos

Folha.com

A Polícia Militar deteve na manhã desta terça-feira 66 estudantes que ocupavam o prédio da reitoria da USP (Universidade de São Paulo). Eles começaram a ser retirados do local às 6h39 e colocados em dois ônibus da PM que levará todos ao 91º Distrito Policial do Ceasa. Outros três estudantes que estavam do lado de fora do prédio também foram detidos.

Um estudante que fingia ser jornalista tentou ultrapassar a barreira policial por volta das 6h30 para entrar no prédio, mas foi impedido pelos policiais. Um carro da PM teve o vidro danificado pelos manifestantes.

A reintegração de posse teve início por volta das 5h. Cerca de 400 policiais da Tropa de Choque e da Cavalaria da PM participaram da operação que também contou com o apoio de um um helicóptero Águia e de policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e do GOE (Grupo de Operações Especiais).

Os militares, portando cassetetes e escudos, fizeram um cordão de isolamento ao redor do prédio e retiraram os estudantes.

Os estudantes haviam decidido, em assembleia realizada na noite de ontem (7), manter a ocupação, apesar do fim do prazo dado pela Justiça para deixar o local.

Após a votação, os estudantes passaram a agredir os jornalistas. Um cinegrafista caiu após ser empurrado e um fotógrafo teve a câmera arrancada e machucou as mãos –ele foi levado ao hospital.

O clima ficou tenso e, após os grupos ficarem separados, os alunos arremessaram pedras na direção dos jornalistas. Um cinegrafista foi atingido e ficou levemente ferido.

No momento do tumulto, não havia guardas universitários nem PMs no local. Após a confusão, um representante dos invasores disse que tratou-se de uma situação isolada.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Grupo que ocupa reitoria da USP entra em confronto com membros da imprensa; prazo para desocupação acabou às 23h
Grupo de estudantes que ocupa reitoria da USP entra em confronto com membros da imprensa

Na assembleia, vários estudantes disseram estar dispostos a resistir caso a PM fizesse a reintegração de posse.

Mais cedo, às 18h, uma reunião de negociação entre representantes da reitoria e alunos terminou em impasse.

O superintendente de relações institucionais da USP, Wanderley Messias da Costa, chegou a deixar a sala onde ocorria o encontro.

A proposta apresentada à tarde pela universidade previa que os alunos e funcionários não fossem punidos por participar da invasão.

A reitoria também manteve a oferta de criar grupos para discutir o convênio com a PM –principal motivo da invasão– e revisar processos administrativos contra estudantes.

Os alunos, no entanto, consideraram a proposta insuficiente, já que há chance de novos processos se for provado que houve vandalismo no prédio invadido.

No dia 27 de outubro, três alunos da USP foram detidos por posse de maconha. Houve reação de colegas, que investiram contra a PM. Policiais usaram bombas de efeito moral e cassetetes para levar os rapazes à delegacia –depois eles foram liberados.

Na mesma noite, um grupo de cem estudantes invadiu um prédio administrativo da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). Na terça passada, mais de mil alunos realizaram uma assembleia que decidiu, por 559 votos a 458, pela desocupação do edifício.

A minoria derrotada, porém, decidiu invadir a reitoria, onde hoje há cerca de 50 manifestantes –a USP toda tem cerca de 82 mil alunos (50 mil só na Cidade Universitária).

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