Por IG
Quando foram divulgadas as primeiras imagens da prisão de Joaquín “El Chapo” Guzmán Loera, um dos traficantes mais procurados do mundo, muitos se perguntaram por que sua roupa estava tão suja.
E a resposta é que ele havia fugido por bueiros durante uma operação militar que tinha o objetivo de capturá-lo, na cidade de Los Mochis, no noroeste do México.
Ele já havia feito uma fuga subterrânea quando escapou da prisão de segurança máxima Altiplano, em julho de 2015. A ação espetacular foi feita por um túnel de 1,5 km de extensão escavado sob a área do chuveiro de sua cela.
Mas desta vez a estratégia não funcionou. Os fuzileiros navais e policiais militares que seguiam seus passos também o seguiram por baixo da terra.
Segundo Arely Gómez, procuradora geral da República, o plano era que ele fugisse pelo esgoto.
Os militares abriram as tampas do sistema de coleta de água e seguiram “El Chapo” e um acompanhante pela rede pluvial da região. A perseguição obrigou o traficante a voltar para a superfície.
Moradores da cidade contaram a jornais locais sua surpresa ao ver dois homens saírem dos bueiros da rua Boulevard Rosales. Eram “El Chapo” e um de seus chefes de segurança, identificado como Orso Iván Gastélum.
Assim que saíram da rede coletora, eles roubaram o carro de uma pessoa que estava no local, segundo Gómez. Mas a vítima denunciou o roubo à polícia. Em minutos, os fuzileiros navais reiniciaram a perseguição.
“El Chapo” e seu segurança não conseguiram sair da cidade: os fuzileiros navais haviam bloqueado a estrada que leva à cidade de Navojoa, no norte do Estado de Sinaloa.
O fugitivo foi detido e os fuzileiros o levaram a um motel perto dali, a 6 km do centro da cidade. Eram cerca de 9h no horário local (14h de Brasília).
Em um dos quartos do motel, com imagens de uma mulher nua na parede, foi tirada a primeira foto de “El Chapo” após a recaptura. Era a terceira vez que ele era detido.
Guzmán foi preso pela primeira vez em 1993, na Guatemala, mas fugiu em 2001, provavelmente após se esconder entre roupas sujas em um carro de lavanderia que saía da prisão de segurança máxima onde estava detido.
Foi recapturado apenas em fevereiro de 2014, enquanto assistia a uma festa em um balneário mexicano. Mas, 17 meses depois, escapou pelo túnel subterrâneo.
Na noite de sexta-feira, ele foi enviado em um helicóptero para a prisão de segurança máxima de El Altiplano, a mesmo de onde fugiu em 11 de julho de 2015.
Com os seguidos fracassos das autoridades mexicanas em mantê-lo na prisão, é possível que “El Chapo” seja extraditado para os Estados Unidos.
Enfrentamento
Segundo Arely Gómez, uma das razões que possibilitaram que “El Chapo” fosse descoberto foi o fato de ele ter entrado em contato com diversas atrizes e produtores para fazer um filme sobre sua vida. Isso, diz, possibilitou que sua localização fosse rastreada.
Mas a mais recente operação para recapturar um dos criminosos mais procurados do mundo começou em dezembro, quando o grupo de elite da secretaria dos fuzileiros navais e a Polícia Federal mexicana, que tentavam prendê-lo, souberam que “El Chapo” “iria para uma zona urbana”, disse Arely Gómez.
Durante quase um mês eles vigiaram uma casa no bairro Las Palmas, uma zona de classe média alta no norte da cidade de Los Mochis.
No dia 6 de janeiro, chegou uma caminhonete à casa. O grupo checou de novo a informação. Concluíram então que “o criminoso estava no imóvel”, disse Gómez.
Assim, às 4h30 da manhã (horário local) de sexta-feira, 8 de janeiro, os fuzileiros navais e policiais chegaram à casa, mas foram recebidos com disparos.
A troca de tiros foi intensa, segundo jornalistas locais, mas os capangas de “El Chapo” tinham fuzis, granadas e lançadores de mísseis.
Ao final da operação, segundo os fuzileiros navais, morreram cinco companheiros de Guzmán. Seu corpos ficaram pelo quintal, garagem e um quarto da casa. Outras seis pessoas foram detidas.
Enquanto um helicóptero Black Hawk sobrevoava a área, “El Chapo” e seu chefe de segurança fugiram pelos canos de coleta de água e resíduos local.
Perseguição intensa
Os militares e policiais que prenderam Guzmán estavam perseguindo-o havia meses, principalmente na região montanhosa conhecida como Triângulo Dourado.
Nesta zona, o megatraficante tem uma grande proteção social de camponeses, pecuaristas e autoridades locais, segundo especialistas.
Ele morou no local por vários anos antes de ser preso pela segunda vez e retornou horas depois de fugir da prisão em julho de 2015.
A busca por ele foi intensa, com interceptação de comunicações de internet e telefones celulares de pessoas próximas a ele.
Sua família também foi vigiada. Além disso, foram utilizados drones com equipamento especial de rastreio, sobretudo nas montanhas da região. Na área, separada por altas montanhas, são cultivadas maconha e papoula.
Em outubro, Guzmán quase foi preso em uma comunidade local. A procuradora Arely Gómez disse que um fuzileiro naval que estava em um helicóptero o teve sob a mira de seu rifle, mas não atirou porque “El Chapo” estava abraçado a uma menina.
Mas enquanto ele fugia, tropeçou e machucou o rosto e uma perna. Passou várias semanas em recuperação.
Tecnologia: a chave
Segundo especialistas, a operação nas montanhas pretendia obrigar o traficante a sair dali e se refugiar em áreas urbanas, onde sua segurança pessoal é menor.
Em zonas urbanas, sua visibilidade também é maior, apesar de muitas comunidades de Sinaloa estarem cheias de ‘sicários’.
Segundo comunicado dos fuzileiros navais, foi isso que aconteceu na operação em Los Mochis: uma “denúncia cidadã” sobre pessoas armadas os levou ao esconderijo de “El Chapo”.
Mas, segundo a procuradora, o rastreio de comunicações também foi um fator chave. Também pesou a experiência dos que perseguiram Guzmán.
Os fuzileiros navais e policiais que recapturaram “El Chapo” foram treinados nos Estados Unidos. E alguns dos que participaram da operação são os mesmos que, em fevereiro de 2014, o detiveram no balneário de Mazatlán.
Comente aqui