Por Júlio Rocha, especial para o Blog do BG
As mudanças ocasionadas pela pandemia da Covid-19 nos últimos dois anos trouxeram novos desafios e abriram horizontes para o desenvolvimento e adesão a soluções tecnológicas e adaptações no modelo de trabalho para a prestação de serviços, comércio e toda a cadeia do setor produtivo, impactando positivamente a recuperação econômica pós-pandemia.
No Rio Grande do Norte, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de serviços, que abrange áreas como educação, saúde, alimentação, turismo, entre outros, despontou com um crescimento de 9,3% entre julho de 2021 e o mesmo mês em 2022. Para compreender o peso do setor de serviços na economia potiguar, de acordo com a Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio-RN), o PIB – a soma de todos os bens e serviços produzidos – do Estado é de R$ 74,4 bilhões, dessa quantia, R$ 55,27 bilhões advêm do comércio e de serviços.
“O setor produtivo está levantando a economia, trazendo essa pujança, com muita luta e adotando estratégias inovadoras, estamos conseguindo recuperar a economia. Vivemos já no ano passado um crescimento de vendas, de emprego, este ano já aponta para um crescimento melhor que em 2021, quando já tínhamos um bom resultado. Projeções indicam o PIB acima de 3%, mesmo com a expectativa de queda do início do ano. Acreditando na economia e desenvolvimento, o empresário está se dedicando para trazer desenvolvimento para o estado e país”, enfatizou o presidente do Sistema Fecomércio-RN, Marcelo Queiroz.
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A Fecomércio-RN liderou no território potiguar iniciativas de apoio aos empresários e trabalhadores do setor, que correspondem a mais de 320 mil pessoas. Foram desenvolvidos protocolos de biossegurança para manutenção das atividades de forma presencial, ações sociais e saúde por intermédio do Serviço Social do Comércio (Sesc-RN) e a qualificação para novas estratégias de atuação no comércio e serviços por meio de ferramentas tecnológicas desenvolvidas e utilizadas pelo Serviço Nacional da Aprendizagem Comercial (Senac-RN).
“Em abril de 2020, 15 dias após os decretos suspendendo as atividades no estado, lançamos a Sala de Aula Virtual, uma iniciativa idealizada e desenvolvida por meio de um trabalho conjunto entre as equipes pedagógicas e de TI da instituição, com o objetivo de dar continuidade aos estudos dos alunos e assegurar o calendário pedagógico, mesmo diante da suspensão das aulas presencias. Cerca de 6 mil alunos tiveram acesso ao novo recurso para dar sequência aos estudos durante a quarentena. Atualmente, a Sala de Aula Virtual é utilizada para as turmas online de idiomas do Senac RN. Temos 78 turmas online de Idiomas, com 769 alunos matriculados”, explicou o diretor regional do Senac-RN, Raniery Pimenta.
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Além disso, entre os anos de 2020 e 2021, mais de 2 mil vagas gratuitas em cursos online de biossegurança e boas práticas de combate à Covid-19 foram ofertadas para preparar os trabalhadores para o retorno das atividades presenciais. Foram realizadas mais de 1.400 matrículas nos cursos de Boas Práticas de Combate à Covid-19 em creches e escola, escritórios, estabelecimentos de beleza e estética, estúdios de pequeno porte, personal trainner, lojas, shoppings, praças de comércio, alimentos e bebidas, meios de hospedagem, serviços receptivos, áreas de visitação e eventos.
“Um outro formato que estamos em processo de implementação é a modalidade da Educação Flexível, que une as metodologias do ensino presencial e EAD. Nesse formato, 70% das aulas acontecem no formato presencial e 30% no formato online, integrando uma carga horária presencial e não presencial para atividades, avaliações e contato com o instrutor no espaço virtual. Essa interação acontece de forma assíncrona, podendo ser realizado a qualquer momento e em qualquer lugar, e síncrona, de modo presencial, em sala de aula convencional”, salientou o diretor do Senac-RN.
A consultora em Turismo e Exportação, Hemilly Caroline, domiciliada no município de Santo Antônio, na região Agreste a 74 km de Natal, não parou durante a pandemia e buscou qualificação no curso Técnico em Guia de Turismo, além de novas rotas de conhecimento e relacionamento no meio digital para implantar na sua atividade de empreendedora do setor turístico no interior do RN.
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“Eu já tinha certo contato com cursos online pela UFRN, mas vi no modelo de ensino remoto do Senac-RN, e em meio a pandemia, a oportunidade de ampliar conhecimentos. Na minha rotina de mãe, esposa e trabalhadora atuando em outras cidades diferente da que moro, como São José de Campestre e Georgino Avelino, não conseguiria realizar capacitação presencial em Natal. Nesse período também usei ferramentas para fazer videoconferências, ampliar networking e utilizar esses novos conhecimentos a fim fomentar nos municípios da minha região demandas de trabalho para que os próprios habitantes da cidade se envolvessem com o turismo e entrassem nesse mercado”, destacou a empreendedora.
Marcelo Queiroz também reconhece que a utilização de recursos tecnológicos veio para ficar no comércio de bens, serviços e turismo do Rio Grande do Norte.
“Essas ferramentas tecnológicas vieram para ficar, muitas delas já existiam, mas eram pouco usadas. A pandemia suscitou demandas para todos os setores, seja do comércio, serviço, educação, levando-os a se adaptar ao uso da tecnologia em reuniões, aulas, negócios, compras, deliverys. Nós, na Fecomércio, continuamos fazendo reuniões online com melhor produtividade e flexibilidade, buscando sempre inovar e levando soluções aos nossos empresários”, explicou o presidente da Fecomércio-RN.
Empresas potiguares aderem a formato híbrido pós-pandemia
Segundo o estudo “O Futuro do Trabalho no Brasil”, desenvolvido pelo Google Workspace, com a participação da consultoria IDC Brasil, e divulgado no último mês de setembro, 56% das empresas brasileiras adotam o modelo híbrido com atividades realizadas de forma presencial e remota, um crescimento de 12% em relação ao mesmo estudo realizado em 2021. A possibilidade de trabalhar nesse modelo foi apontada como a melhor opção por 73% dos entrevistados que atuam nesse formato.
O estudo foi realizado entre abril e junho deste ano, contabilizando 1.258 entrevistas, em que foram ouvidos profissionais de empresas de diferentes tamanhos e segmentos, como varejo, educação, telecomunicações, finanças, saúde, entre outros.
No Rio Grande do Norte, a tendência à adoção a um modelo de trabalho flexível tem ganhado cada vez mais adeptos. Um desses casos é o ESIG Group, nascido há 11 anos, formado pelas empresas ESIG Software e a Quark Tecnologia e Inovação. O grupo possui interesse na gestão e soluções tecnológicas educacionais e, atualmente, atende mais de 25 instituições de ensino de grande porte em todo o Brasil, assim como 10 órgãos administrativos e 40 secretarias de educação de todo o país. Em um momento em que a realidade educacional foi desafiada pela pandemia de Covid-19, a tecnologia foi peça chave para diminuição dos impactos e a continuidade na disseminação do conhecimento.
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A empresa, que conta com 250 profissionais contratados, passou também por grandes mudanças no período da pandemia, “com foco na saúde das pessoas, colocamos todos os colaboradores em home office em 3 dias. Agimos rápido e, em poucas semanas, nos adaptamos a uma realidade que não havia sido planejada. Aos poucos, fomos transformando todas as nossas práticas culturais para o modelo remoto e/ou híbrido”, explicou a diretora de Gestão e sócia do ESIG Group, Raphaela Galhardo.
Mesmo após o período crítico da pandemia, a empresa manteve os três modelos de trabalho: presencial, híbrido e totalmente remoto, sendo inclusive uma das pioneiras em oferta de vagas totalmente remotas no estado e dispõe colaboradores espalhados por várias partes do Brasil.
“Cada modelo tem vantagens e desvantagens, por isso buscamos constantemente analisar os resultados e as dinâmicas das equipes para fazer os ajustes necessários. Não planejamos retomar ao formato presencial 100%, mas entendemos que a interação social faz bem e, em algumas situações, são necessárias. Então, buscamos sempre o equilíbrio, tendo o resultado como o principal elemento norteador”, afirmou Raphaela.
Outro exemplo de empresa que adotou de forma permanente uma nova modalidade de trabalho após a pandemia e tem disseminado a cultura digital no mercado automotivo potiguar é a startup Lua 4 Auto, que desde 2014 atua com soluções digitais para o mercado de concessionárias e revendas de veículos, experienciando um verdadeiro boom de negócios e inovação com a pandemia.
“A empresa surgiu com um grupo de amigos e focamos no mercado de soluções tecnológicas para o mercado automotivo, o que nos deu segurança e experiência para lidar com os clientes no momento das mudanças ocasionadas pela pandemia, e para fomentar esse mercado digital principalmente para as empresas de revendas de veículos que ainda não enxergavam essa possibilidade”, lembrou o CEO da Lua 4, Danilo Carlos.
O trabalho da empresa, que conta com cerca de 80 clientes do mercado de veículos em oito estados nordestinos e no Espírito Santo, foi o grande auxílio para as concessionárias se manterem ativas no período e oportunizarem negócios, além de novas formas de relacionamento com os clientes, como a pandemia exigiu.
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“Tivemos uma grande procura com a pandemia e pudemos mostrar a importância de ferramentas tecnológicas e de crescer no mundo digital, melhorando conversões, gestão do estoque, produtividade e retorno financeiro, antes da pandemia existia dificuldade em fechar venda virtualmente, porém construímos uma relação de confiança, levando-nos a alcançar clientes que atravessam o país.”, disse Danilo.
Hoje a Lua4 soma com 15 colaboradores espalhados por cidades potiguares e outros estados. Com a pandemia, a empresa, que funcionava 100% presencial, adotou de forma quase imediata o home office e desenvolveu estratégias de alinhamentos por meio de reuniões online semanais e o trabalho de forma flexível pela autogestão do próprio funcionário.
“Até antes da pandemia, apesar de vivermos na cultura digital, a empresa ainda não aderia ao home office, no início tínhamos um modelo de ficar o dia inteiro online, mas fomos adaptando melhores estratégias que aumentaram a produtividade e o acompanhamento dos resultados”, destacou o CEO. Atualmente a maioria dos colaboradores da empresa permanece em trabalho totalmente remoto ou híbrido.
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