Com informações da Tribuna do Norte:
O advogado Anderson Miguel estava freqüentando cada vez menos o escritório onde foi assassinado na tarde da quarta-feira passada. Ele passava um média de duas horas por dia e na próxima semana deixaria em definitivo o local, vendido a um colega há menos de um mês. A informação passada por uma fonte ligada ao escritório de advocacia pode indicar que o assassino tenha estudado ainda mais os movimentos da vítima antes de matá-la.
Além disso, a pessoa, que terá a identidade preservada pela reportagem, abre uma nova linha de investigação para o crime. Não acredito que a morte tenha sido encomendada por pessoas ligadas a Operação Hígia. Ele tinha dívidas com agiotas, que podem ter aproveitado a oportunidade da repercussão para apagar o Anderson, disse.
O escritório onde Miguel foi assassinado foi vendido há 20 dias e a movimentação com o advogado Gilberto Pires teria envolvido R$ 500 mil. A data de 10 de junho era o prazo dado pela própria vítima para deixar o local; foi morto nove dias antes.
A maioria das causas trabalhistas de Anderson já não estavam sendo tratadas na sede na avenida Miguel Castro, em Lagoa Seca. O local da nova sede é desconhecido.
A venda do local, que também pertencia a Jane Alves, foi decidida em consenso e viria sanar parte dos problemas da vítima. Parte do espaço divido em nove salas já serviu para Jane Alves, sediar o setor financeiro da sua empresa de limpeza, transferido posteriormente para a casa vizinha.
O relacionamento com a ex-mulher era tido como normal e por vezes se cruzavam nos corredores do escritório. No momento do crime, Jane estava na sala da amiga identificada apenas como Ana, advogada. O aluguel por um mês no local custa em torno de R$ 1 mil e antes da chegada de Gilberto Pires, que trouxe mais três advogados, quatro salas estavam vazias.
O crime encomendado foi idealizado e ainda intriga a polícia. As imagens do circuito interno de segurança não eram gravadas, mas serviam para autorizar a entrada de pessoas e o acesso até as salas dos advogados. No escritório, apenas Anderson e Gilberto Pires possuíam o dispositivo.
Anderson controla a entrada de pessoas na sua sala com um botão automático após aprovação com a recepcionista. Mas as vezes que tive acesso, a porta estava destrancada e não tive dificuldade em entrar, contou a fonte.
Duas das três testemunhas conduzidas à PF na noite de quarta-feira eram funcionárias do local. A recepcionista e a empregada da copa, que se encontrava na recepção no momento do crime, passaram para polícia informações fundamentais para a investigação. O primeiro contato do assassino ocorreu com a recepcionista e não foi de forma agressiva. O criminoso ainda não havia sacado a pistola. A terceira testemunha era cliente de Anderson e também estava na entrada.
O criminoso entrou no escritório de forma tranqüila e pediu para ser recebido pelo advogado. Menos de um minuto depois, Anderson estava morto dentro da sua sala alvejado por quatro disparos.
A investigação da morte do advogado Anderson Miguel terá duas frentes distintas de trabalho: a possibilidade de ligação com a Operação Hígia e a motivações conseqüentes da prática da profissão. Tanto a Polícia Federal quanto a Civil, que irão atuar em conjunto, já instauraram inquéritos e designaram os responsáveis para dar início aos procedimentos.
Em entrevista coletiva na tarde de ontem, o secretário de segurança pública do Estado, Aldair Rocha, e o superintendente da PF, Marcelo Mosele, anunciaram o trabalho conjunto. Por parte da Polícia Civil, quem estará à frente é o delegado Marcus Vinícius, da Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom). Na PF, o nome é o delegado Elton de Souza Zanatta.
A cargo da Polícia Federal caberá a linha de investigação de possível envolvimento com pessoas atingidas pela Operação Hígia, na qual Anderson Miguel é réu e delator. Nas mãos da Polícia Civil, estarão as diligências sobre o trabalho de advocacia da vítima, assim como possíveis dívidas com agiotas.
Apesar dessas linhas de investigação que chamam atenção, o superintendente Marcelo Mosele não descarta nenhum indício. Estamos trabalhando com tudo que nos chega. Ouvimos todas as denúncias, destacou.
A divisão de trabalhos entre PF e PC pode ser extinta em certo ponto dos inquéritos. Caso seja enxergado mais claramente uma linha, as forças das duas polícias serão unidas e focadas para este lado, afirmou Mosele.
Poucas informações sobre os vestígios encontrados na cena do crime foram repassados à imprensa. O superintendente da PF explica. Não queremos prejudicar o bom andamento das investigações que estamos tendo até agora. Também queremos afastar os achismos, já existem muitos boatos, explicou.
Sequer o calibre da arma utilizada pelo criminoso na tarde de quarta-feira passada foi confirmado. A informação apurada pela reportagem na cena do crime junto a policiais militares é que a arma seria uma pistola calibre ponto 40, de uso exclusivo das forças armadas.
Os 14 réus da Operação Hígia podem ser obrigados a prestar novos depoimentos, dessa vez à polícia. Ainda não sabemos se iremos optar por isso. Mas caso seja necessário não iremos hesitar, afirmou o delegado Élton Zanatta. Entre os envolvidos estão a ex-mulher de Anderson, Jane Alves, e o filho da então governadora Wilma de Faria, Lauro Maia.
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