O repórter Elio Gaspari dedica pedaços de sua coluna, disponível na Folha, à incursão do BNDES pelas gôndolas companheiras de Abílio Diniz.
Os estômagos mais sensíveis devem adiar a leitura para depois da café da manhã. Mastigados à mesa, os textos convertem pão de açúcar em bolo de pimenta. Leia:
“No dia 25 de junho do ano passado, Geyze Diniz, mulher de Abilio, dono do Grupo Pão de Açúcar, recebeu um grupo de senhoras do andar de cima de São Paulo para que conhecessem Dilma Rousseff.
Salvo pelo champanhe Veuve Clicquot, foi um encontro frugal, brevemente abrilhantado pelo anfitrião.
Um ano depois, num salto triplo carpado, Abilio Diniz detonou sua sociedade com o grupo francês Casino e quer se associar ao Carrefour.
Diniz criou um império de 1.800 lojas, com 140 mil funcionários. No caminho, litigou com familiares e sócios. Sua nova briga é de gente grande. Ninguém tem nada com isso, muito menos a Viúva.
Usando o vocabulário do senador Aloizio Mercadante na louvação de seus aloprados, o governo deu ao BNDES a ‘missão heroica’ de amparar Diniz.
O empresário, o Planalto e o ministro Fernando Pimentel sustentam que o negócio é bom porque evita a desnacionalização do comércio de varejo, porque o BNDES não botará dinheiro da Viúva na transação, pois só a financiará porque a banca não cumpriu o papel que lhe cabe. Pura parolagem, ofensiva à inteligência alheia.
Quem desnacionalizou o Pão de Açúcar foi Abilio Diniz quando vendeu 36,9% da empresa, com a promessa da entrega do controle aos franceses no ano que vem. Se agora não quer entregar o que vendeu, o problema é das duas empresas.
O dinheiro que o BNDES vai botar num litígio judicial é dele e ele é da Viúva. Nessa ‘missão heroica’, não se sabe sequer o tamanho do ervanário. Segundo o Pão de Açúcar, R$ 3,9 bilhões. Segundo o banco, ‘até’ R$ 4,5 bilhões.
O comissariado do BNDES diz que a entrada do governo na briga ‘abre caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional’. Carlos Lessa, ex-presidente do banco, duvida: ‘O Brasil não precisa ser sócio minoritário de um supermercado na França para garantir mercado lá fora’.
Desde 2009 sabe-se que a matriz do Carrefour quer passar adiante sua rede de Pindorama. Ela se meteu em trapalhadas contábeis e tomou um tombo de R$ 1,2 bilhão. É esse buraco que os heróis oferecem à Viúva.
Pimentel diz que a banca não cumpriu seu papel. Nesse caso, todos os investidores do mundo estão errados, só os companheiros estão certos, heroicamente certos.
– Deu bolo: A atribuição ao BNDES da missão heroica de bancar o salto triplo de Abilio Diniz correu dentro do governo e do banco com muito menos suavidade do que se dá a entender. Ela poderá vingar, mas a tentativa de apresentá-la como fato consumado derreteu em menos de 24 horas.
O doutor Luciano Coutinho faria muito bem ao BNDES se mandasse conservar todos (repetindo, todos) os documentos, memorandos e registros da duração de audiências e contatos telefônicos relacionados com esse assunto.
– Eremildo, o idiota: Eremildo é um idiota e fica confuso quando ouve o governo dizer que este ou aquele investimento ou despesa não será coberto por dinheiro público.
O idiota propõe que a doutora Dilma mande pintar de verde todas as cédulas usadas para pagar contas do governo. Não mudará muita coisa, mas dará colorido às transações“.
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