Com o reajuste de combustíveis anunciado na última sexta-feira, abaixo do que o mercado esperava,e falta de transparência sobre a metodologia de reajuste de preços aprovada pelo Conselho de Administração da empresa , as ações da Petrobras apresentam forte queda nesta segunda-feira. Às 16h27m, os papéis ordinários (com direito a voto) caíam 9,82% a R$ 16,53, a maior baixa do pregão. Já as ações preferenciais perdiam 8,47% a R$ 17,50, a segunda maior perda da Bolsa. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, caía 2,03% aos 51.417 pontos, no mesmo horário, influenciado principalmente por Petrobras. O volume financeiro negociado é de R$ 5,2 bilhões. Os ADRs da Petrobras (recibos que equivalem a ações) negociados na Bolsa de Nova York caem 11,39% cotados a US$ 14,12.
No mercado de câmbio, o dólar abriu os negócios desta segunda em alta e, no mesmo horário, se valorizava 0,85%, sendo negociado a R$ 2,355 na compra e R$ 2,357 na venda, a maior cotação em três meses. Na máxima do dia, a divisa foi negociada a R$ 2,360 (alta de 0,98%) e na mínima chegou a R$ 2,334 (queda de 0,12%).
– Os papéis da Petrobras reagem à falta de transparência da Petrobras em relação à nova política de preços aprovada e do reajuste abaixo do esperado dado pelo governo. O problema é que o mercado continua sem previsibilidade para os próximos reajustes de preços e fica difícil precificar as ações da companhia. Os papéis da Petrobras vão ficar pressionadas já que a incerteza em relação aos reajustes continua – avalia Gabriel Ribeiro, analista da Um Investimentos.
Operadores identificaram venda mais forte das ações ordinárias por parte de investidores estrangeiros.
Na sexta-feira passada, o conselho de administração da Petrobras informou em comunicado ao mercado que aprovou a nova metodologia de preços de diesel e gasolina. Mas os parâmetros para novos reajustes de preços não foram divulgados, o que frustrou os investidores. Além disso, o mercado esperava percentuais de reajuste de 5% e 10%, respectivamente, para gasolina e diesel. Na sexta, as ações da Petrobras subiram mais de 3% na esperança de que a nova metodologia fosse aprovada e divulgada ao mercado.
Segundo comunicado divulgado pela Petrobras, a nova política de preços visa garantir que a convergência dos preços nacionais de combustíveis com os internacionais “em prazo compatível”, sem repassar a volatilidade dos preços externos ao consumidor doméstico.
Especialistas calculam que o reajuste não resolve os problemas de caixa da companhia, já que a defasagem entre os preços praticados pela Petrobras e o mercado internacional caiu de 15% para 10%.
Falta de transparência preocupa analistas
Em relatório, os analistas do Itaú BBA, afirmam que “a falta de transparência causa frustração no mercado. Ninguém sabe exatamente quais são os indicadores ou quais são os gatilhos ou períodos para as revisões, deixando espaço para potenciais manobras nos preços. Nós nos questionamos o que realmente mudou”, afirmam os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes.
O banco Credit Suisse rebaixou a recomendação para as ações da empresa para “underperform” (abaixo da média do mercado). O preço alvo das ADRs está estimado pelo banco em US$ 14.
“Aumentos tímidos nos preços e uma metodologia de precificação opaca deterioram a percepção sobre a governança corporativa, enfraquecem a posição de uma equipe de gestão forte e técnica, têm um significativo impacto nos lucros e na avaliação e deixam o balanço financeiro extremamente frágil em meio a um 2014 cheio de incertezas”, afirmaram os analistas Vinicius Canheu e Andre Sobreira, do Credit Suisse, em relatório.
– Foi uma vitória do ministro Guido Mantega, que está mais preocupado com o impacto do reajuste na inflação, sobre a presidente da estatal, Graça Foster. O aumento anunciado não resolve os problemas de caixa da empresa e a nova metodologia de preços não foi apresentada ao mercado – diz um operador de Bolsa.
Analistas acreditam que o reajuste anunciado na sexta não terá impacto significativo na inflação oficial medida pelo IPCA, que deve fechar abaixo de 5,8%, percentual atingido ano passado, como deseja o governo.
A perspectiva do rating da Petrobras está negativa na avaliação da agência de classificação de risco Standard & Poor’s, já que a perspectiva do rating do Brasil também está negativa. A empresa é considerada grau de investimento pela S&P. A agência de risco Moody’s rebaixou, em outubro, a nota da Petrobras de “A3” para “Baa1”, tirando a empresa na escala de grau de investimento e baixo risco para a de qualidade média. O rebaixamento, segundo a Moody’s, refletiu a alta alavancagem e a expectativa de que a empresa continue com fluxo de caixa negativo nos próximos anos , considerando seu ambicioso programa de investimentos.
Entre as demais blue chips do Ibovespa, Itaú Unibanco PN cai 1,63% a R$ 33,25 e Bradesco PN tem perda de 2% a R$ 30,41. As ações da Vale caem 0,15% a R$ 32,74. A mineradora reduziu hoje a meta de produção de minério de ferro para 2014e também informou que vai reduzir seus investimentos pelo terceiro ano consecutivo em 2014, refletindo “maior foco na eficiência de capital”. O orçamento aprovado pelo conselho da empresa para investimentos e pesquisa e desenvolvimento foi de US$ 14,8 bilhões, informou a mineradora em fato relevante. O investimento aprovado para 2013 foi de US$ 16,3 bilhões. Na nota, a empresa disse que os números são consequência de uma busca por “maximizar o valor ao acionista através de um menor portfólio composto de projetos com alta taxa de retorno ajustada ao risco”.
Banco Central anuncia mudança no anúncio de leilões
O Banco Central realizou nesta segunda mais um leilão de contratos de swap cambial tradicional, operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro. O leilão faz parte do programa anunciado pelo BC em agosto. Foram ofertados U$ 497,3 milhões através de 10 mil contratos. O leilão tirou um pouco da pressão do dólar, mas a divisa voltou a subir.
– O dólar se valoriza também no exterior frente a outras divisas após números da economia americana mostraremk recuperação. No cenário doméstico, os temores com questão fiscal e um possível rebaixamento da nota de crédito do Brasil também pesam. Além disso, o governo perde credibilidade ao não divulgar a metodologia de reajuste de preços para a Petrobras, o que pesa principalmente no humor do investidor estrangeiro. E o fluxo de dólares para o Brasil é negativo – avalia João Paulo de Gracia Correa, da corretora de câmbio Correparti.
Na sexta-feira, o Banco Central anunciou uma nova alteração no horário dos anúncios dos leilões de câmbio.A partir desta segunda-feira, os comunicados serão feitos entre as 18h e 19h, e não mais entre 19h30m e 20h30m. De acordo com o BC, a mudança é operacional. Para o mercado, a mudança traz dúvidas sobre o futuro do programa de leilões, que, a princípio, deve se encerrar neste mês, segundo o cronograma original. Analistas acreditam que será necessário prolongar o programa para evitar que o dólar suba ainda mais e pressione a inflação.
A projeção do mercado para a cotação do dólar ao fim deste ano seguiu em R$ 2,30, segundo o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central com base em opiniões de analistas do mercado.
Juros futuros estão em alta
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) estão em alta nesta segunda-feira refletindo a insegurança fiscal com o país, já que o governo não informou qual é a metodologia de reajuste dos preços dos combustíveis.Os contratos com vencimento em janeiro de 2015 sobem de 10,66% para 10,72%, enquanto a taxa dos papéis que vencem em janeiro de 2017 sobe de 12,20% para 12,35%. Também ajuda a pressionar os DIs, a divulgação do índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor industrial dos Estados Unidos. O indicador subiu para 57,3 pontos em novembro ante 56,4 pontos em outubro. Analistas esperavam queda para 55,5 pontos. Com esse dado positivo da economia, ressurgem as dúvidas sobre o início da retirada dos estímulos econômicos pelo Federal Reserve, o banco central americano.
China: dados mais fracos da indústria
Na China, o departamento nacional de estatísticas e a Associação de Logística e Compras da China (CFLP, na sigla em inglês) divulgou no sábado à noite o PMI sobre a atividade industrial, que permaneceu em 51,4 pontos em novembro. No domingo, o instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o HSBC, divulgou que o PMI industrial da China caiu para 50,8 pontos em novembro, de 50,9 pontos em outubro.
– O resultado do índice PMI de novembro confirma estabilização do crescimento da economia chinesa, enquanto crescem as preocupações com um possível ciclo de aperto monetário – afirma em análise a equipe de economistas do Bradesco.
O Globo
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