O mundo já tem um ano certo para testemunhar o estrago causado pelas mudanças climáticas. A partir de 2047, a maior parte do planeta terá uma temperatura média superior à registrada em qualquer outro período entre 1860 e 2005. O impacto do aquecimento global em florestas e recifes de corais reduzirá a oferta de água e alimentos, além de comprometer a biodiversidade e a sobrevivência de diversas espécies.
Os trópicos serão a primeira região do planeta a arcar com as consequências das mudanças climáticas. Rio e São Paulo, por exemplo, verão o termômetro registrar um aumento de aproximadamente 2 graus Celsius até o meio do século. O cálculo, publicado hoje na revista “Nature”, é de uma pesquisa da Universidade do Havaí.
— Pense no evento mais quente e traumático que você já experimentou. Ele, no futuro, será um fenômeno normal — explicou Camilo Mora, autor principal do estudo. — Vemos, hoje, cada vez mais notícias sobre pessoas que morrem devido a ondas de calor. Não tenho dúvidas de que este número vai crescer.
Em entrevista ao GLOBO, Mora avaliou que o aumento dos eventos extremos é “inevitável”.
— Quando deixamos um ecossistema, como a floresta tropical, exposto às mudanças climáticas, haverá uma menor oferta da comida e da água que precisamos. A redução da produção agrícola e da pesca são exemplos de como a sociedade não pode fazer vista grossa para os eventos climáticos — explicou.
O calendário do caos, porém, ainda pode ser alterado. De acordo com a pesquisa, as temperaturas recordes podem ser atrasadas em 20 ou 25 anos se houver um esforço global para controlar as emissões.
Parece pouco, mas, neste período, o homem poderia desenvolver uma tecnologia que ajudaria sua adaptação às mudanças climáticas.
— A realidade é: não importa o que façamos, vamos sofrer com os eventos extremos, como o aumento da temperatura. Mas isso não é desculpa para cruzar os braços — alertou Mora. — Teremos que passar por um teste, a adaptação a um novo ambiente. Vale a pena discutir como podemos ganhar tempo até desenvolvermos um meio para que esta transformação seja menos traumática.
A equipe de Mora usou a projeção de sete variáveis climáticas, como índices de precipitação, evaporação, transpiração e a temperatura da superfície do mar, assim como 39 modelos do sistema da Terra. A partir daí, os pesquisadores averiguaram qual seria a temperatura em mais de 10 mil regiões do planeta até o fim do século.
No Rio, atualmente, a temperatura média anual é 23,5 graus Celsius. Em 2050, será 26 graus. Em São Paulo, passará dos atuais 22 para 24,5 graus Celsius.
Na apresentação das projeções, Mora descreveu os estudos sobre o clima como uma “junção entre a ciência, o público e a economia. Por isso, não é de se estranhar que qualquer nova descoberta provoque grande interesse do público, mas também seja altamente politizada. O grau em que essas descobertas podem gerar mudanças positivas é frequentemente afetado por ataques à credibilidade da ciência”.
Outros cientistas não envolvidos com a nova pesquisa concordam que a redução das emissões teria um maior efeito a longo prazo, diminuindo o risco de que o clima alcance em breve um ponto em que o desencadeamento das mudanças climáticas torne-as catastróficas. Para eles, o estudo de Mora é uma forma mais didática de apresentar ao público algumas conclusões que já eram debatidas pela comunidade científica.
— Se continuarmos com o atual padrão de emissões de CO2, vamos empurrar os ecossistemas para condições climáticas que eles não apresentam há milhões de anos — alertou Ken Caldeira, climatologista do Instituto Carnegie para a Ciência, da Universidade de Stanford.
O Globo com o “New York Times”
São os mesmos que previram o fim do mundo em 2012?