Foto: Jeff Pachoud/AFP
O medicamento anti-inflamatório tocilizumabe, usado para tratar artrite reumatoide, foi eficaz em reduzir mortes entre pacientes internados com Covid grave, apontaram resultados preliminares divulgados nesta quinta-feira (11) pela Universidade de Oxford.
Os cientistas também descobriram que o medicamento conseguiu diminuir o tempo de internação dos pacientes e reduzir a necessidade de ventilação mecânica (intubação).
O estudo faz parte dos ensaios “Recovery”, que envolve milhares de pacientes no Reino Unido e testa várias drogas que já existem para descobrir se fazem efeito contra a Covid. A pesquisa ainda está em fase de revisão por outros cientistas e não foi publicada em revista científica.
O médico Marcio Bittencourt, pesquisador do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), enfatiza que a indicação é apenas para casos graves de Covid. “Só para caso grave. Indicação restrita”, afirma.
Veja os principais pontos da pesquisa:
Os cientistas compararam 4.116 pacientes no ensaio, que foram divididos em dois grupos de forma aleatória. O primeiro grupo, de 2.022 pessoas, recebeu o tocilizumabe por infusão intravenosa. Os outros 2.094 não receberam.
82% dos pacientes estavam tomando um esteroide sistêmico, como a dexametasona. Até o momento da análise, estavam disponíveis os resultados de 92% dos pacientes envolvidos.
O tratamento com tocilizumabe reduziu significativamente as mortes: depois de 28 dias de estudo, 596 pacientes que estavam tomando o medicamento morreram, o equivalente a 29%. No grupo que não tomou, esse número foi de 694, o equivalente a 33%.
Isso significa que, para cada 25 pacientes tratados com tocilizumabe, uma vida a mais seria salva no grupo que recebeu o medicamento.
O medicamento também aumentou a probabilidade de alta dentro de 28 dias de 47% para 54% (a outra possibilidade considerada foi o paciente falecer).
Esses benefícios foram observados em todos os subgrupos de pacientes – desde os que receberam oxigênio por meio de uma máscara facial até os que foram intubados.
Entre os pacientes que não estavam intubados quando foram incluídos no estudo, o tocilizumabe reduziu a chance de morrer ou de precisar de intubação de 38% para 33%.
No entanto, não houve evidência de que, uma vez que o paciente já estivesse intubado, o medicamento ajudasse a parar a necessidade de ventilação mecânica.
No ano passado, o “Recovery” também constatou que a hidroxicloroquina não era eficaz contra a Covid e que podia agravar os casos da doença. O mesmo ensaio também viu benefícios no uso da dexametasona, um corticoide, em pacientes graves com o coronavírus.
Com os novos resultados, os pesquisadores concluíram que os benefícios do tocilizumabe se somam aos dos esteroides, como a dexametasona. Os dados, segundo eles, sugerem que em pacientes com Covid que precisam de suporte de oxigênio e têm inflamação significativa podem se beneficiar com a combinação dos dois medicamentos.
De acordo com os cientistas, pacientes que recebam ambos os tipos de remédio podem ter a mortalidade reduzida em um terço, se não precisarem de intubação, e em quase metade se estiverem intubados.
Para Peter Horby, professor de Doenças Infecciosas Emergentes da Universidade de Oxford e investigador-chefe adjunto do “Recovery”, os resultados são positivos.
“Agora sabemos que os benefícios do tocilizumabe se estendem a todos os pacientes com Covid com baixos níveis de oxigênio e inflamação significativa. O duplo impacto da dexametasona mais tocilizumabe é impressionante e muito bem-vindo”, afirmou.
Martin Landray, professor de Medicina e Epidemiologia de Oxford e investigador-chefe adjunto, afirmou que os resultados “mostram claramente os benefícios” de ambos os medicamentos.
“Os resultados do ensaio ‘Recovery’ mostram claramente os benefícios do tocilizumabe e da dexametasona no combate às piores consequências da Covid-19 – melhorando a sobrevida, encurtando a internação hospitalar e reduzindo a necessidade de ventiladores mecânicos. Usados em combinação, o impacto é substancial”, avaliou.
“Esta é uma boa notícia para os pacientes e para os serviços de saúde que cuidam deles no Reino Unido e em todo o mundo”, afirmou Landray.
“Nós simplesmente não saberíamos disso se não fosse pelo incrível apoio dos pacientes e funcionários do NHS [serviço de saúde público britânico que inspirou o SUS] nas mais desafiadoras das circunstâncias”, concluiu o pesquisador.
G1
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