A refutação a acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro era o objetivo do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro no fim da tarde, rodeado de ministros, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e de deputados como o filho Eduardo Bolsonaro e Hélio Lopes. Mas o tempo que levou, inusual para um político conhecido por declarações curtas e diretas, as digressões a que se prestou, e as versões que apresentou sobre sua tentativa de se relacionar com a Polícia Federal acabaram por reforçar as suspeitas do ex-auxiliar.
O presidente voltou a se apresentar como uma vítima, ao dizer-se perseguido pelo establishment e pela imprensa, lembrando do atentado que sofreu na campanha eleitoral e estabelecendo um paralelo da tentativa de assassinato com a morte da vereadora Marielle Franco. Desceu a detalhes como a intervenção no Inmetro para defender taxistas, os gastos com o cartão de crédito e a piscina aquecida do Palácio da Alvorada. Enquanto revisitava temas maiores e menores, Bolsonaro admitiu que pediu a Moro relatórios da Polícia Federal para, segundo ele, poder tomar decisões de governo. E que pediu à PF para ouvir um dos acusados pela morte da vereadora do PSOL, o PM aposentado Ronnie Lessa. O motivo teria sido a notícia de que a filha de Lessa, que morava no mesmo condomínio do presidente no Rio de Janeiro, teria namorado Jair Renan, o “filho 04” de Bolsonaro.
Bolsonaro contou que determinou que os agentes da PF fossem ouvir o ex-PM, quando já estava preso em Mossoró, no Rio Grande do Norte, porque o ministro da Justiça não se mexeu. O presidente acrescentou que tem em suas mãos o conteúdo deste inquérito e que o acusado de assassinar Marielle e o motorista Anderson Gomes negou a relação da filha com Jair Renan.
As implicações legais destas admissões pelo presidente ainda vão ser esquadrinhadas. Mas ao relatar esse fato, assim como os pedidos de relatórios, Bolsonaro reforça a visão de que não separa interesses públicos e privados. Até por talvez desconhecer a diferença, como indicou ao contar que pensou em escolher o novo diretor da Polícia Federal por sorteio entre os nomes sugeridos por ele e por Moro.
GUSTAVO ALVES – O GLOBO
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