Reproduzo o texto do “poeta” Dinarte Assunção. PERFEITO!!!
De repente, todos se agitaram. De presos ao mundo de si e pendurados pelos próprios punhos, os passageiros fitavam com curioso interesse a Avenida Bernardo Vieira além do pára-brisas. Tocava Cartola no meu player, e eu permanecia anestesiado contemplando a muralha amarelo-musgo que reveste o perímetro externo do IFRN. O ônibus avançou.
Despertei das “Rosas não falam” quando um movimento intenso iniciou da catraca para trás. Todos pareciam aturdidos, arrastando sacolas, sinalizando e aos gritos, embora nada eu ouvisse. Foi o sinal. Os fones tirei.
Do outro lado da Avenida Bernardo Vieira encontrei a resposta, e imediatamente desci do ônibus, que disparou rapidamente. Incrédulo, atravessei a primeira mão e me posicionei no meio-fio, de onde tudo começou.
Na pista paralela, um ônibus da viação Guanabara. Dentro dele, dois garotos com o rosto mascarado espraivam com prazer incomum combustível pelo corredor. Ao final do veículo, as chamas consumiam uma cadeira. Eu me estarreci.
Mesmo a vários metros, o prazer mórbido no olhar dos dois garotos era notável. Atiçavam a gasolina com prazer tão incomum que era temível, tanto quanto às duas dezenas de pessoas que me cercavam e incitavam a violação. Em um minuto, todos precisaram recuar. O calor e as chamas se elevaram.
Daqui me questiono o que foi feito para esvaziar o ônibus; quantas pessoas foram assustadas; que dimensão tomou esse protesto? Em que pese eu continuar apoiando a legítima reivindicação de estudantes sérios, não se pode deixar que atitudes como essas se passem impunes.
Há vândalos travestidos de advogados da democracia e que merecem os rigores da lei. Enquanto tudo isso se passava na minha cabeça, o eco abafado da madeira rebatendo contra o acrílico ecoou. A Tropa de Choque avançava sob a penumbra da copa do bosque do IFRN.
Avançando sobre a Bernardo Vieira, a farda dispensou a torcida que ainda esperava pelo pior no ataque ao ônibus, uma explosão, que felizmente não houve. Entrementes, transeuntes corriam assustados de um lado para outro; ligações eram feitas; pais eram contatados; o trânsito estava dificultoso e a tropa atirava.
E atirava para dispersar o que há muito fora disperso à sua mera menção. A fumaça das bombas de efeitos se misturaram com a fuligem do ônibus e decidi, à hora em que, enfim, os bombeiros chegaram que deveria partir. E tudo ficou para trás quando retomei Cartola, dizendo que “bobagem as rosas não falam…”.
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