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A chamada operação “Punhal verde e amarelo”, revelada pelas investigações da trama golpista, mirava o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice Geraldo Alckmin. Braga Netto nega participação na articulação, bem como tentativas de obstruir a investigação.
Munida da delação de Cid e de outras apurações, a PF acredita que o montante transportado por Braga Netto em “uma sacola de vinho” e entregue ao major Rafael de Oliveira foi usado para a compra de um celular em dinheiro vivo, depois utilizado por integrantes das Forças Especiais do Exército, os “kids pretos”, grupo do qual Oliveira faz parte e que, como a corporação já havia revelado, monitorou autoridades em 2022, após a vitória de Lula nas eleições.
A PF já descobriu que, no dia 15 de dezembro, o major Oliveira comprou um celular em uma loja de Goiânia com dinheiro vivo. A nota fiscal aponta que o aparelho foi adquirido por R$ 2,5 mil, à vista. A transação foi feita pela esposa do major.
Além disso, os investigadores também rastrearam cinco recargas de crédito para os telefones que faziam parte do grupo “Copa 2022”, vinculados à operação “Punhal verde e amarelo”. Todos eles, no valor de R$ 20, foram feitos de forma sequencial em uma drogaria do Setor Sudoeste, em Brasília, e também em espécie.
Em um dos documentos apreendidos pela PF, que detalhava a operação “Punhal verde e amarelo”, há o registro de “demandas para a prep. (preparação) e condução da ação”, que incluía “seis telefones celulares descartáveis”.
“Nesse sentido, essa foi exatamente a estrutura de comunicação utilizada na denominada operação ‘Copa 2022’, em que militares Forças Especiais executaram uma ação clandestina no dia 15 de dezembro de 2022, para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes na cidade de Brasília/DF. A ação empregou seis telefones celulares com chips da operadora TIM, habilitados em nomes de terceiros e associados a codinomes de países para anonimização da ação criminosa”, escreveu a PF no relatório da operação que prendeu os integrantes das forças especiais, em novembro.
Como mostrou ontem a colunista do GLOBO Míriam Leitão, a PF já fez a extração do conteúdo dos celulares apreendidos anteontem, quando Braga Netto foi preso. Os agentes também vão examinar “centenas de pen drives” que foram apreendidos com Flávio Botelho Peregrino, assessor do general. Isso significa que a investigação continua, e com um foco: descobrir quem é o “pessoal do agronegócio” citado na colaboração premiada de Mauro Cid.
A participação de integrantes do setor de agronegócio já foi identificada em outros momentos. Documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aos quais o GLOBO, por exemplo, teve acesso apontaram a participação de produtores rurais na suposta articulação de atos antidemocráticos e no bloqueio de rodovias logo após a derrota de Bolsonaro nas urnas.
No relatório intitulado “participação de lideranças do agronegócio em atos antidemocráticos e em ações de contestação do resultado eleitoral”, a Abin detalhou a atuação do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), que reúne produtores rurais, na suposta articulação de atos antidemocráticos. Integrantes do MBVA, segundo a agência, “lideraram” bloqueios de caminhoneiros em novembro de 2022 em Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Roraima, com o objetivo de “contestar”, sem provas, a vitória de Lula nas urnas. O grupo, ainda de acordo com o documento, tinha à disposição “recursos econômicos para financiar transporte de manifestantes e ações extremistas, como as ocorridas no 8 de janeiro”.
Em outra frente, um áudio de Mauro Cid obtido pela PF, enviado a um interlocutor no dia 16 de novembro, reforçou o papel de empresários do agronegócio. Na gravação, ele afirma que “empresários do agro” estavam “financiando” e “colocando carro de som em Brasília”.
Outro diálogo descoberto no curso das investigações vai na mesma linha. Uma das investigadas, que esteve no QG do Exército, abordou o apoio de empresários do setor para três mil ônibus direcionados a Brasília às vésperas dos atos de 8 de janeiro: “Pessoal do agro lá de Goiânia, dos arredores de Brasília e tudo. O agro botou aí um apoio aí pra três mil ônibus”, narrou.
Ontem, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne 340 deputados federais e senadores, pediu urgência nas investigações e defendeu que “ações isoladas” não podem “comprometer a imagem de um setor econômico composto por mais de 6 milhões de produtores”. Em nota enviada à Folha de S. Paulo, os membros da bancada ruralistas também pedem que a apuração se dê “de forma legal, transparente, equilibrada e em estrita observância ao que determina a Constituição”.
‘Em torno’ de R$ 100 mill
Ao determinar a prisão, ocorrida anteontem, Moraes registrou que as investigações “revelaram a gravíssima participação” de Braga Netto no plano golpista, “em verdadeiro papel de liderança, organização e financiamento” da trama golpista. A PF aponta que, em reunião no dia 12 de novembro de 2022, na casa de Braga Netto, estiveram presentes o “núcleo de militares com formação em forças especiais do Exército”, justamente os “kids pretos”, com o objetivo de “planejar as ações ilícitas de monitoramento”.
Em novo depoimento prestado no último dia 21, após a revelação da intenção de sequestrar e assassinar autoridades, Cid ajustou sua delação e citou o plano, ao qual não havia feito referência anteriormente. O ex-ajudante de ordens acrescentou que, “dias depois” da reunião na casa de Braga Netto, o major Rafael Oliveira recebeu o dinheiro da sacola de vinho, na presença do próprio Cid, para a realização da operação. O repasse teria ocorrido no “Palácio do Planalto ou do Alvorada”, segundo o delator.
Desde o início do ano, a PF tem avançado sobre financiadores e mentores da tentativa de golpe de Estado, que culminou na invasão e depredação das sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O mesmo Rafael de Oliveira, em um dos diálogos interceptado, pede orientações a Cid sobre recursos para levar “pessoas” do Rio a Brasília e locais para a realização das manifestações, em novembro de 2022.
Em uma das trocas de mensagens entre Oliveira e Cid, o major pergunta se havia alguma novidade em relação à reunião ocorrida no dia 12, que o tenente-coronel afirmou ter ocorrido na residência de Braga Netto. Nessa conversa, Cid questiona Oliveira sobre possíveis gastos com o plano e pergunta se a estimativa com hotel, alimentação e material ficaria em cerca de R$ 100 mil. Oliveira responde: “Em torno disso”.
Após a prisão, a defesa do general informou que “se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos” e que irá “comprovar que não houve qualquer obstrução às investigações”
O Globo
Golpe? Que golpe?