por João Luiz Vieira para o E+
“É você!” Fãs da novela Avenida Brasil, da TV Globo, esperaram meses e, especialmente, a noite de quinta-feira (19), para ouvir da boca de Adriana Esteves apenas um verbo e um pronome. A trama chegou ao capítulo 100 e, como prometido pelo autor João Emanuel Carneiro, foi o momento da reviravolta, quando a suposta vilã (Carminha, personagem de Adriana) descobre que a dissimulada mocinha (Nina, vivida por Débora Falabella) não é aquilo que parece ser. Não é quem diz que é, para ser mais preciso. Nina é Rita, a enteada que foi jogada no lixão pela madrasta e jurou para si vingança, infiltrando-se na casa da mulher que odeia e conquistando a família com a sedução mais nobre que existe: alimentando um a um com requintes de alta gastronomia.
Só se falou nisso o dia inteiro nas redes sociais e o “oi oi oi” – refrão da música de abertura – virou trend topics no Twitter. Sem contar as dezenas de internautas que se congelaram em preto e branco – efeito similar ao que acontece no fim de cada capítulo da novela. Houve quem desmarcasse compromissos, quem não atendesse telefones, sequer o cara da pizza. Mais: soube de gente que tomou champanhe durante a exibição do programa. Aliás, a novela já pegou de um jeito que muita gente tem marcado jantares “depois de Carminha”. Isso não acontecia há um par de anos com uma novela e, para ficar no exemplo recente, Fina Estampa – anterior à Avenida Brasil – conseguiu maior audiência, mas repercussão ínfima comparada a esta obra em exibição.
Uma parte do Brasil simplesmente parou para conferir o desmonte da farsa de Nina e, especialmente, como seria a reação de Carminha ao saber que foi enganada dentro da própria mansão. Parecia final de campeonato de futebol ou mesmo último capítulo de novela. O mais impressionante é que foi apenas um episódio de “virada”, a narrativa ainda tem muito texto para queimar. E, como praxe, a cena que interessava só aconteceu no último bloco. Sinto informar, mas o capítulo que vale mesmo é o desta sexta-feira (20), com a repercussão da descoberta.
O que falar de Adriana Esteves? É muito interessante conferir uma profissional que soube aproveitar inteligentemente a oportunidade que a empresa onde trabalha ofereceu. A atriz é funcionária antiga da TV Globo, mas nunca foi considerada pela audiência uma mulher do porte de Glória Pires, Renata Sorrah ou, dentre as colegas de geração, Claudia Abreu. Estamos presenciando a virada não de Carminha, mas de Adriana, que deve ter mudado de patamar na TV Globo e, sim, consolidou-se como ícone para um fã-clube que não tinha até então. As cenas de hoje só vieram corroborar o que todos vinham testemunhando: o assombroso controle de uma atriz sobre seu corpo e voz. Quase incorporada, transbordou ira, frustração e pavor em detalhes mínimos como ranger de dentes, distensão dos músculos faciais e uma impaciência no gestual e no andar que uma atriz com menor domínio sobre o que faz transformaria a performance em show de patetice.
O capítulo não foi só dela, claro. Para conter a audiência até o fim, o autor mostrou Suelen (Ísis Valverde) como uma lúcida mulher de marketing, a família de Tufão (Murilo Benício) tranquilizada com a volta de Jorginho (Cauã Reymond) para casa depois de um coma, o incômodo de Alexia (Carolina Ferraz) com a presença espaçosa da mãe em casa (Betty Faria), e as sempre risíveis situações do núcleo “rico/cômico” de Cadinho (Alexandre Borges). Nada disso, realmente, interessava neste 100º capítulo. Quando os próprios atores comentam em entrevistas que assistem à novela que fazem enquanto o outro está em cena é sinal que a coisa anda muito bem em Avenida Brasil.
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