O diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Anthero Meirelles, disse nesta quinta-feira que pode haver “alguma pressão” de inadimplência no segundo semestre deste ano, dependendo das condições econômicas, mas em patamares historicamente ainda confortáveis. Ele acrescentou que os bancos têm colchão de provisão capaz de suportar esse aumento no calote.
— Estamos em patamares historicamente bastante confortáveis. Temos provisões em níveis bastante satisfatórios e superiores — afirmou.
Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) referente ao primeiro semestre de 2015, divulgado nesta quinta-feira pelo BC, os bancos brasileiros estão em um nível “confortável” de solvência, sem aumento significativo da inadimplência, mesmo em um cenário de desaquecimento econômico, elevação de juros, condições menos favoráveis no nível de emprego e redução da confiança dos consumidores e dos empresários. Esse período de relativa tranquilidade também inclui a possibilidade de default (calote) de empresas investigadas na Operação Java Jato, que revelou um imenso esquema de corrupção na Petrobras:
“Mesmo com elevado grau de conservadorismo, as simulações realizadas indicam que o sistema financeiro teria condições de absorver os impactos de “default” das empresas mais vulneráveis citadas na Lava Jato e seu respectivo contágio, incluindo o inadimplemento de empresas fornecedoras e dos seus funcionários”, diz um trecho do documento, publicado semestralmente pelo BC, que descreve a evolução recente do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e os principais riscos a que o sistema e as instituições estão expostos.
De acordo com o relatório, no caso específico da Lava Jato, embora a rentabilidade fosse bastante afetada, nenhuma instituição financeira ficaria insolvente, e o impacto geraria necessidade de capital de R$130 milhões para o reenquadramento de instituições. Mesmo ampliando a hipótese de default para todas as empresas citadas, seus respectivos grupos, rede de conexões e funcionários, o Sistema Financeiro Nacional continuaria mostrando alta resistência, com nenhuma instituição insolvente e uma necessidade de capital para reenquadramento de R$3,4 bilhões, o que equivale a 0,4% do PR (Patrimônio de Referência) atual do sistema.
Meirelles explicou que as avaliações sobre a possibilidade de default por empresas citadas na Lava Jato não abrangem a Petrobras, que não foi objetivo desse tipo de projeção. Levou-se em conta empreiteiras e outros empreendimentos que têm negócios com a estatal brasileira de petróleo.
— Não vou citar nomes específicos [desta ou aquela empresa investigada]. Nosso trabalho contemplou várias situações. considerando que todos os grupos envolvidos — disse.
O BC destaca, no relatório, que mesmo nesse ambiente de crise na economia do país, a inadimplência não apresentou aumento significativo até o encerramento do semestre, ainda que, em parte, devido a cessões e renegociações de crédito. “O montante de provisões continua significativamente superior à inadimplência, o que evidencia a resistência do sistema de crédito ante o cenário acima descrito”.
” A confortável situação de solvência do sistema pôde ser constatada pela estabilidade, no semestre, dos elevados níveis de capitalização e pelos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III, da introdução do futuro requerimento de Razão de Alavancagem e dos testes de estresse. Esses últimos mostraram que o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos bem como de mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais”.
No primeiro semestre, o BC elevou em 2,0 pontos percentuais a meta para a taxa Selic ao longo do semestre, a fim de impedir que o realinhamento de preços relativos, intensificados nos primeiros meses de 2015, contaminassem as expectativas inflacionárias e as desviasse da trajetória de convergência da inflação para a meta de 4,5% ao final de 2016. Conforme o REF, no sistema bancário, o risco de liquidez de curto prazo apresentou aumento no último semestre, mas permaneceu em nível confortável.
“O risco de liquidez estrutural não se alterou, e as operações de longo prazo continuam suportadas por fontes de recursos estáveis. Segue baixa a dependência de recursos externos”.
A evolução do cenário externo permaneceu complexa no primeiro semestre de 2015, diz o relatório. Embora tenham sido reduzidos os riscos derivados do baixo crescimento nas economias maduras, focos de volatilidade foram observados nos mercados de moedas, de ações e de renda fixa.
“Os riscos associados aos mercados emergentes aumentaram no período, refletindo a desaceleração do crescimento econômico, a deterioração das condições de financiamento e, para os países exportadores de commodities, a redução dos preços das matérias-primas”.
O REF aponta, ainda, o fato de o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, ter sinalizado a proximidade do início da normalização da sua política monetária. Em situação menos favorável, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) mantiveram seus programas de compras de ativos, ainda com os objetivos de estimular a recuperação econômica e de afastar o risco de deflação. Em consequência dessas diferentes dinâmicas, o dólar seguiu valorizando-se ante as principais moedas.
“Na Europa, o acirramento da crise na Grécia exigiu a assinatura de novo acordo com a União Europeia em julho. Na China, a economia continuou em desaceleração, registrando expressivas baixas no mercado acionário a partir de junho, que motivaram a adoção de medidas extraordinárias para a estabilização das bolsas de valores”.
O Globo
Aí, os inteligentes do governo, fazem o jogo dos bancos, liberando os juros, fazendo com que o povo afunde, mais ainda, em dívidas, aumentando a inadimplência e a recessão. Viva o Brasil…