Hoje, a Igreja Católica no Brasil dará início, juntamente com a Quaresma – período de quarenta dias que antecede a Semana Santa -, à Campanha da Fraternidade (CF) 2012. Com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre a realidade dos cidadãos que não têm acesso à assistência de saúde, bem como discutir a funcionabilidade e qualidade dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu como tema da CF deste ano, “Fraternidade e Saúde”. O lema é “Que a saúde se difunda pela Terra”.
Não é a primeira vez que o tema vem à tona para os religiosos. Em 1981, a Igreja discutiu a problemática da saúde pública na CF daquele ano, cujo tema foi “Saúde para todos”. Criada em 1963, em Natal, a Campanha da Fraternidade sempre pautou assuntos de cunho social e buscou apontar soluções para os problemas. De acordo com o coordenador arquidiocesano da Campanha desse ano, Padre Alcimário Oliveira, há dois anos o tema foi sugerido novamente e a CNBB resolveu discuti-lo agora. “Esse é um tema que sempre está em discussão nos encontros das arquidioceses do Nordeste. Fizemos inclusive um abaixo-assinado para que a CNBB colocasse o assunto em pauta novamente durante a Quaresma”, explicou.
Os trabalhos preparativos para o lançamento da CF 2012 já começaram. Nacionalmente, a campanha será lançada em Brasília, durante a celebração da missa de Quarta-Feira de Cinzas. Na Arquidiocese de Natal, o lançamento ocorrerá em dois momentos: no dia 2 de março, às 8h30, será oferecido um café da manhã para a imprensa. No dia seguinte, em horário a ser confirmado, Dom Jaime Vieira Rocha – que toma posse como novo arcebispo no próximo domingo – celebrará uma missa na Catedral Metropolitana. Antes disso, no dia 24 desse mês, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, bispos e arcebispos do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas participam de uma mesa redonda em João Pessoa-PB.
A CNBB vai abordar, durante a Quaresma, três, de um total de oito, metas da Organização das Naçõs Unidas (ONU) do início dos anos 90 até 2015: redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde materna e combate a epidemias e doenças. Segundo Dom Joviano de Lima, arcebispo de Ribeirão Preto-SP, a saúde é “dom de Deus”. O religioso sugere ainda a reflexão sobre outros aspectos nesse período. “Pensemos na importância da alimentação e da preservação do ambiente. Porém, não podemos nos esquecer das estruturas insuficientes dos hospitais e dos postos de saúde”, afirmou.
Pe. Alcimário explica que uma das orientações da CNBB para essa CF é a criação da Pastoral da Saúde nas paróquias que ainda não contam com esse serviço. “É obrigação dos cristãos olharem para os irmãos que sofrem com doenças”, pontuou. De acordo com a Igreja Católica, a Pastoral da Saúde, juntamente com a Pastoral da Criança, contribuíram para o declínio da mortalidade infantil no Brasil. Segundo um estudo divulgado na revista The Lancet, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu 61,7% entre 1990 e 2010. O que corresponde uma queda de 52,04 mortes por mil nascimentos em 1990 para 19,88/mil em 2010.
Mas a ação da Igreja não estará concentrada dentro dos templos, nas homilias dos padres ou reuniões pastorais. “Queremos conversar com os Conselhos Municipais de Saúde, pedir que haja mais engajamento, ver o que é feito em prol da saúde pública da população”, disse Pe. Alcimário.
A CNBB quer que a Emenda Constitucional 29 (EC 29), sancionada pela presidenta Dilma Rousseff através da Lei Complementar nº141, no dia 16 de janeiro passado, seja, de fato, implementada. A Lei esclarece o que deve ser considerado gasto em saúde e fixa, por exemplo, que Estados devam aplicar 12% de suas receitas e Municípios 15% em saúde.
Disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de hábitos de vida saudável são exemplos de outros objetivos da CF 2012. Se depender do empenho de padres e fiéis católicos, Natal pode deixar de liderar um ranking divulgado, em 2010, pela ONG Corações Brasil. De acordo com o estudo, a capital potiguar é a que possui a população mais sedentária entre as capitais do país. “Vamos estimular a prática de exercícios. Nós devemos ser os primeiros agentes de saúde. Dar exemplo é fundamental. A exemplo de Cristo, devemos nos preocupar com os irmãos. Porém, é necessário cuidarmos de nós mesmos”, enfatiza Pe. Alcimário.
Tribuna do Norte
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