No rastro da apuração do assassinato da vereadora Marielle Franco, a polícia descobriu a existência de um grupo de elite de matadores no Rio. Formado por policiais e ex-policiais, entre eles um major da ativa e um ex-oficial do Bope, o grupo é altamente especializado em execuções por encomenda, sem deixar pistas.
A participação desse grupo, conhecido como Escritório do Crime, é uma das hipóteses levantadas pela polícia para explicar o grau de complexidade na apuração do assassinato, que completou cinco meses sem solução.
A suposta participação do Escritório do Crime nas mortes de Marielle e do motorista Anderson Gomes não anula a principal linha de investigação até agora: a de que o executor seria o miliciano Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando de Curicica, que está no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A suspeita é que o grupo de matadores teria assassinado a vereadora ao ser procurado por Curicica, mas a polícia não descarta a hipótese de haver um outro mandante. A proliferação de hipóteses envolvendo o crime indica o quanto a investigação das execuções ainda patina para chegar a uma solução.
A polícia tem informações, não confirmadas, de que a morte de Marielle teria custado R$ 200 mil. Segundo esses relatos, a quadrilha chegou a pedir mais dinheiro depois da enorme repercussão do caso. Os valores estão em linha com o que cobraria o sindicato de assassinos: um homicídio vai de R$ 200 mil a R$ 1 milhão, a depender do perfil da vítima e de sua relevância.
Se confirmado o envolvimento do Escritório do Crime, a morte de Marielle seria um de seus atos mais ousados, mas não o único: a quadrilha faz “serviços” pelo país inteiro e cobra um ágio por ações fora do Rio. Como o grupo faz os trajetos de carro, levando armamento pesado e farta munição, aumenta seu nível de exposição.
O profissionalismo do Escritório do Crime acaba sendo sua assinatura, justamente um dos rastros seguidos pela polícia. Assim como não usam seus celulares pessoais (o aparelho do criminoso localizado pela polícia não estava no nome dele), eles têm a capacidade de fazer um levantamento prévio, a partir de informações privilegiadas, como saber se câmeras de segurança estão ou não funcionando. Por serem policiais e ex-PMs, conhecem bem a máquina administrativa e têm uma farta rede de informantes.
Até a clonagem dos carros é feita por integrantes da quadrilha, que mantêm sigilo absoluto sobre as ações. Se houver a menor desconfiança de que, internamente, alguém possa traí-los, o delator é eliminado.
Como o chefe do grupo é ex-oficial do Bope, os membros da organização criminosa são bem treinados e capazes de ficar horas dentro de um carro, por exemplo. Foi o que aconteceu na vigilância feita enquanto Marielle, no dia 14 de março, dava uma palestra na Casa das Pretas, na Rua dos Inválidos, no Centro, momentos antes de ser executada. Para evitar idas ao banheiro, os criminosos costumam urinar em garrafas no próprio carro. Caso sejam abordados pela polícia, apresentam a carteira da corporação — há sempre um PM no carro. Se isso ocorrer, abortam a missão.
O Globo
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