Com o encerramento das competições neste domingo, o Brasil bateu em Londres o seu recorde no total de medalhas em uma edição dos Jogos Olímpicos. Foram 17 aparições no pódio em Londres. Por trás da marca, porém, está também o maior investimento do governo na história de um ciclo olímpico: com apenas duas medalha a mais que o recorde anterior, o preço de cada conquista inflacionou em 28,3% e chegou a R$ 64,7 milhões.
Em contas divulgadas pelo Blog do José Cruz, a preparação dos 258 atletas inscritos em 27 modalidades custou R$ 1,1 bilhão. Esses números levam em conta apenas os investimentos governamentais, incluindo Lei de Incentivo ao Esporte, verbas do Ministério do Esporte, patrocínio de sete empresas estatais e Lei Agnelo Piva, durante o ciclo olímpico de 2012.
O número é maior que os R$ 654,7 milhões investidos no esporte olímpico nacional entre 2005 e 2008, segundo o site Contas Abertas, levando em conta também apenas investimento governamental.
Com isso, cada um dos três ouros, cinco pratas e nove bronzes que os atletas verde-amarelos faturaram nas últimas três semanas na Inglaterra teriam sido resultado de R$ 64,7 milhões em investimento cada. Para Pequim, foram R$ 50,4 milhões por pódio, aumento de 28,3%.
O Brasil não conseguiu quebrar o recorde de ouros de Atenas-2004, quando teve cinco títulos olímpicos. Ainda assim, o Comitê Olímpico Brasileiro comemorou o resultado em uma entrevista coletiva neste domingo, em Londres. “Está dentro da realidade. Conseguimos o mesmo número de ouros de Pequim, por enquanto, e temos uma medalha a mais. Fizemos a melhor preparação que poderíamos fazer, trabalhamos para oferecer as melhores condições para técnicos, atletas e confederações” afirmou o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.
Entre as medalhas do país, apenas três vieram de esportes coletivos. O vôlei feminino ficou com o ouro, o time masculino com a prata e o futebol masculino também foi segundo colocado. Mesmo com o maior investimento, modalidades individuais reclamaram dos investimentos. Uma das reclamações mais fortes foi do boxe, em que o vice-campeão Esquiva Falcão afirmou que “o boxe venceu o futebol” com o recorde de três medalhas em uma só edição dos Jogos.
Até o hipismo, considerado esporte de elite, chiou. “É difícil encontrar cavalo novo e com qualidade. São fundos que precisamos, qualquer investimento, comercial, privado, doação, para podermos conseguir. Temos suporte importante do COB, mas precisamos de mais”, disse Rodrigo Pessoa, campeão olímpico em 2004.
Outro dado interessante diz respeito ao gênero dos medalhistas. As mulheres igualaram Pequim, com seis em Londres e se mantiveram na frente no número de ouros. Se em 2008 foram Maurren Maggi e as meninas do vôlei, em Londres mais uma vez o voleibol foi campeão e Sarah Menezes faturou o primeiro ouro do judô feminino na história – e também o primeiro do Brasil na Inglaterra, logo no dia seguinte à cerimônia de abertura.
As grandes decepções entre os esportes individuais foram a natação e o atletismo. Mesmo com prata de Thiago Pereira e bronze de Cesar Cielo, a expectativa era de que o segundo defendesse o título de Pequim-2008. Já o atletismo teve como destaque a maratona, com três atletas no top 15, mas ficou sem medalhas pela primeira vez em 20 anos. Maurren Maggi, campeã olímpica em 2008, e a campeã mundial Fabiana Murer, por exemplo, sequer avançaram à final do salto em distância e salto com vara, respectivamente.
“Temos alguns pontos de atenção, como o atletismo, que não conquistou medalhas desta vez. A natação também foi um ponto de preocupação. Tivemos os bons resultados do Thiago (Pereira) e do Cielo, mas com certeza precisa ser mais”, destacou o superintendente de esportes do COB, Marcus Vinícius Freire, que também citou hipismo, vela e taekwondo como as faltas mais sentidas.
O patamar de medalhas esperado pelo COB, segundo a própria entidade, era de 15. Para os Jogos do Rio, em 2016, a expectativa é de colocar o Brasil no limiar do top 10 geral. De acordo com Freire, o plano é tentar expandir de oito para 13 as modalidades chegando aos pódios, chegando perto de 25 medalhas, e esperando contar com novas conquistas na ginástica e no boxe.
A mudança de foco é bastante clara, dando mais ênfase a esportes individuais – que contam mais quantitativamente no quadro de medalhas – do que aos coletivos. O exemplo dado pelo COB foi o do Cazaquistão, que ficou com quatro ouros no levantamento de peso.
Reprodução UOL
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