Foto: Adriano Machado / Reuters
Articulador político do Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, avaliou que uma dobradinha entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, seria imbatível na disputa de 2022. “Eu falei para o presidente que, se hoje ele fosse tentar a reeleição, com Moro de vice, ganhava no primeiro turno, disparado”, afirmou Ramos ao Estado, sem mencionar o atual vice, Hamilton Mourão.
O general disse, porém, que Bolsonaro não enxerga essa possibilidade. “Ele não vê nada disso.” Ex-juiz da Lava Jato, Moro enfrenta resistências para emplacar o pacote anticrime no Congresso e é alvo de questionamentos, mas ainda mantém a popularidade e foi aplaudido de pé, anteontem, em show do cantor Roberto Carlos, em Curitiba.
O governo prepara uma reforma ministerial?
O presidente ficou um pouco contrariado com notícias que saíram sobre isso. Ele brincou comigo: “Ramos, eu vi logo que era fake news porque seu nome não estava lá (entre as possíveis mudanças)”.
Mas, nos últimos dias, muitos pediram, por exemplo, a cabeça do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Quando acontece isso, aí é que ele não tira. Se o presidente tiver interesse em mudar, (será) no ano que vem… Agora é chance zero de isso ocorrer.
O “ano que vem” já está aí…
Eu digo março, abril.
Mas o ministro Weintraub não exagera nas redes sociais?
Sim, mas… Até o general Fernando (Fernando Azevedo, ministro da Defesa) ficou chateado com aquela postagem do Dia da República, que ele botou o Deodoro da Fonseca ao lado do presidente Lula (no Twitter, Weintraub chamou a Proclamação da República de “o primeiro golpe de Estado no Brasil”). Agora, ele tem de responder pelo que fala. Eu não posso falar nada. Tenho 72 mil seguidores, mas não ligo para esse bichinho aqui (aponta para o celular). Você tem de tomar cuidado com o que escreve e posta, porque pode cometer um erro grosseiro, ofender pessoas.
Essa situação preocupa?
Esquece o Weintraub. Estamos vivendo, graças a Deus (bate na mesa três vezes), um momento feliz, de muita serenidade nas mídias sociais.
Sem o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) nas redes…
Vocês é que falaram, não fui eu. Não estou dizendo que o Carlos está fora, nada disso.
É uma coincidência?
Eu não sei.
O governo adiou o envio da proposta de reforma administrativa ao Congresso por medo de protestos de rua?
Não. O Paulo Guedes (ministro da Economia) ficou chateado, mas o presidente achou que este projeto agora ia dar ruído. Havia coisas que iam bater no Judiciário e ficaram algumas pontas soltas. A reforma será apresentada com melhoramentos.
Por que o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, não avançou no Congresso?
Eu acho que não correspondeu ao clamor da sociedade. Mas o ministro Moro tem razão. Eu, por exemplo, tive um sobrinho de 31 anos assassinado numa saidinha de banco, no Rio. Agora teve um sargento assassinado porque o bandido queria o celular.
O ministro Moro poderá ser vice numa chapa liderada pelo presidente Bolsonaro, em 2022?
Eu falei para o presidente que, se hoje ele fosse tentar a reeleição, com Moro de vice, ganhava no primeiro turno, disparado. Mas o presidente não vê isso como uma possibilidade. Mas não vê porque não vê nada disso (risos). Seria importante ele ter, sim, um novo mandato para arrumar a casa. Sinceramente, em quatro anos não dá para consertar tudo.
O ex-presidente Lula ainda pode ser o principal adversário de Bolsonaro, caso volte a ficar elegível?
Ué, mas ele não foi condenado de novo? Pergunta difícil, mas eu acho que não. Lula saiu com muito ódio (da prisão). Passou do ponto.
O que o sr. acha de propostas que tramitam no Congresso para retomar a prisão após condenação em segunda instância?
Sou da opinião do ministro Moro: é necessário retomar a segunda instância para a segurança pública e a jurídica. Temos o sentimento de impunidade pela quantidade de recursos que existem. Esquece o presidente Lula. Vamos falar de traficantes, assassinos… Olha o tanto de gente que foi solta.
O Supremo Tribunal errou?
Não. Só que tomou uma decisão, em 2018, de manter a segunda instância e, um ano depois, mudou. Quem é que mudou o voto ali? Rosa Weber. O que houve? Pressão? Não sei.
O presidente corre o risco de não conseguir aprovar no Tribunal Superior Eleitoral a Aliança pelo Brasil a tempo de o novo partido disputar as eleições municipais. Isso não pode prejudicar o projeto de reeleição?
É muito cedo para traçar qualquer quadro. O partido pode não concorrer (em 2020), mas isso não quer dizer que o presidente não possa ter candidato na eleição nem que esse nome não possa mudar para a Aliança depois. Não façam uma leitura equivocada de um craque na política. Prefeito pode mudar de partido.
E quem ele vai apoiar em São Paulo?
Só acho que não vai apoiar a Joice Hasselmann (deputada do PSL e ex-líder do governo no Congresso), pelo que houve. É dedução minha, porque em política acontece muita coisa.
Em recente reunião, deputados do Centrão ameaçaram travar votações, caso o governo não pagasse emendas nem liberasse cargos. Como resolver isso?
Já resolvemos, graças a Deus. Confesso que, no dia dessa reunião, havia um déficit e não sabíamos como resolver. Diziam assim: “O senhor não pode ir lá. Vai enfrentar os leões do Centrão?”. Eu respondi: “Qual é o problema? Participei de negociação no Haiti, Copa, Olimpíada, pancadaria. Ninguém vai bater em mim”. Logo depois, o presidente determinou que o Paulo Guedes desse uma solução, com R$ 2 bilhões para a Câmara e R$ 400 milhões para o Senado. Até o fim do mês, cada parlamentar receberá os seus R$ 20 milhões em emendas para sua base eleitoral.
E isso não é toma lá, dá cá?
Espera aí. No início do governo foi dito que, para esse ano, teríamos a reforma da Previdência e outras pautas. Então, houve esse acordo. O deputado do Paraná, por exemplo, foi eleito por causa de municípios, que exigem dele recursos para hospitais, colégios, etc. Se no passado isso permitia desvio, é outra coisa. Nós exigimos projeto. Agora, só vão votar se der o dinheiro? Eu acho que não. Na MP 890 (que instituiu o programa Médicos pelo Brasil) houve mesmo um pouco de pressão. Faz parte. A democracia é assim.
Mas há fogo amigo na relação entre o sr. e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, por causa da articulação política.
Não existe fogo amigo entre mim e Onyx. Esquece. Eu gosto muito do Onyx e estou dando continuidade ao excepcional trabalho realizado por ele. Peguei um trem em movimento. Não sei quem é que faz a intriga, mas o meu setor não é.
O governo vai agora apoiar a abertura de cassinos no País?
O presidente disse que tem de debater a ideia com a sociedade, com os evangélicos. Uma coisa é abrir um cassino em Brasília, que não faz sentido. Outra é na Amazônia, em uma área que precisa se desenvolver, como foi feito em Atlantic City ou Las Vegas (EUA). Mas é preciso ver os efeitos colaterais, as possíveis associações com drogas, contravenções.
Estadão
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