Com a subida da taxa básica de juros (Selic) para os 10% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve os juros reais do Brasil no topo do ranking mundial – mostra levantamento elaborado pelo economista Jason Vieira, do site Moneyou.
Dos 10 primeiros colocados da lista, a maioria é de países emergentes. Por um lado, sinaliza desarranjos dessas economias – diz o CEO da Canepa Asset Brasil, Alexandre Póvoa. Por outro, mostra processo de antecipação ao aumento dos juros nos Estados Unidos, previsto para meados do ano que vem.
O cálculo dos juros reais é simples: são os juros nominais – no caso do Brasil, a nova Selic de 10% – menos a inflação projetada para os próximos 12 meses. O resultado dessa subtração dá noção dos rendimentos dos investidores numa economia, por descontar a perda de poder de compra estimada sobre os ganhos a serem obtidos.
A política monetária americana, de juros zeros, levou investidores que atuavam por lá para praças de rendimentos maiores – como o Brasil. Os juros reais negativos americanos (hoje em -1,1) possibilitaram até mesmo a diminuição dos juros básicos entre os mercados em desenvolvimento. Mesmo num patamar mais baixo, eles ainda permanecem altos o suficiente para conquistar investidores em busca de ganhos mais satisfatórios.
Mas, como isso vai mudar em pouco tempo e a situação conjuntural dessas economias não permite que, mesmo com juros reais baixos, investidores sejam atraídos, chegou a hora de puxar os juros de volta para cima.
O caso do Brasil ilustra bem esse movimento, diz Póvoa. “Há um descontrole da inflação que não permite que possamos crescer sem juros altos.” Existe, diz ele, descompasso entre demanda e oferta. Com incremento de renda, a procura por produtos e serviços fica acima da oferta, baixa por causa do custo Brasil. E os preços, naturalmente, sobem.
Explicação rápida: como a Selic é usada em transações entre bancos, influencia os juros de todas as operações de uma economia. Se os juros, portanto, estão nas alturas, fazem-se menos financiamentos e o consumo cai. E, com ele, os preços tendem também a descer.
Correção de rota. Entre agosto de 2011 e abril deste ano, a Selic tombou violentamente, de 12,5% para 7,25% ao ano. “Houve um erro de política monetária”, diz Póvoa. “Desde então, a inflação se mantém em níveis elevados.”
A partir daí, o BC resolveu retomar um ciclo de alta, chegando aos 10% e abandonando o um dígito (abaixo dos 10%) mirado pelo governo.
O professor Rogério Mori, da Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça que essa escala observada desde abril na Selic é incentivada não só pela busca de investidores, mas, sobretudo, pelo aumento de preços em curso no Brasil – desde julho de 2012 o IPCA se mantém acima dos 5,0%, sendo que a meta ideal estipulada pelo BC é de 4,5%.
“Sob essa perspectiva, é completamente razoável que um banco central operando em um regime de metas para inflação reaja com um aperto monetário (elevação da taxa de juros) em um contexto de ambiente inflacionário incompatível com as metas estabelecidas”, diz Mori.
Um novo tempo – só que não. Esta foi a última mudança na Selic do ano. Em 2014, a expectativa de Mori é de juros possivelmente maiores. Pesam em sua análise fatores inflacionários como a perda de valor do real em relação ao dólar deste ano (até agora de 13%) e, logo, o encarecimento de produtos importados; a iminente alta dos combustíveis; e a esticada do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) em São Paulo.
“A soma desses elementos sugere que a política monetária deve prosseguir em uma trajetória de aperto ainda nos primeiros meses de 2014” diz Mori. De acordo com ele, o sonho de apenas um dígito de juros está distante do destino do Brasil por enquanto.
Radar Econômico – Estadão
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