Encerradas as comemorações de fim de ano, é inevitável que o corpo sofra com os exageros cometidos. Bebidas alcoólicas e alimentação em excesso — muitas vezes bastante gordurosa — podem levar a uma sensação de inchaço, à desidratação e até mesmo a uma certa indisposição. Para desfazer os reveses dos dias de banquete, muita gente aposta na famosa dieta detox, ou dieta desintoxicante. O objetivo do regime é ingerir apenas alimentos que acelerem o processo de limpeza do organismo, desintoxicando rins, fígado e intestino. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA, no entanto, são unânimes: não há comprovação científica alguma de que a dieta detox realmente funcione. Até hoje a ciência ainda não encontrou nenhum alimento que consiga acelerar o funcionamento desses órgãos.
Elaborada na década de 1940 pelo nutricionista americano Stanley Burroughs, a dieta Master Cleanser consiste numa alimentação à base de chás e sucos de limão e pimenta. É proibida a ingestão de quaisquer outros alimentos, já que só assim se consegue desintoxicar de maneira eficaz o corpo, e eliminar gorduras excessivas. Uma nova versão da criação de Burroughs foi publicada em 2004, nos Estados Unidos, por Peter Glickman, especialista em medicina alternativa. No livro Lose Weight, Have More Energy & Be Happier in 10 Days (Perca peso, tenha mais energia e seja mais feliz em 10 dias, em tradução livre, sem edição em português) Glickman indica a dieta para desintoxicar e livrar o organismo de metabólitos indesejáveis. Até então não muito conhecida, a dieta teve adesão de celebridades de Hollywood. Artistas como Beyoncé, Demi Moore e Ashton Kutcher, não só fizeram de Peter Glickman um autor de sucesso (seu livro hoje está na terceira edição), como também ajudaram a divulgar a nova dieta mundo afora.
Uma tese, várias versões — Além do cardápio de Glickman, diversas versões da dieta detox são usadas e vendidas atualmente. Há quem aposte em alimentos mais ácidos, apenas em frutas e verduras, em suplementos que prometem acelerar o organismo ou apenas líquidos. Com duração de uma semana em média, todas elas pregam, no entanto, que se mantenha distância de corantes, conservantes, carnes vermelhas e açúcares. “Antes que qualquer pessoa comece uma dieta como essa, é importante salientar que não há prova científica alguma de que elas sejam benéficas, ou mesmo que funcionem”, disse ao site de VEJA Donald Hensrud, endocrinologista da Clínica Mayo, nos Estados Unidos.
Segundo o especialista, não existe nenhum tipo de alimento que consiga fazer os principais órgãos de limpeza do corpo (rins e fígado) funcionarem acima da sua capacidade normal. Isso significa que ingerir alimentos ácidos, por exemplo, não faz os rins serem mais eficientes na hora de filtrar impurezas do corpo. “Comprovado cientificamente, não há nenhum ingrediente que tenha o poder de acelerar esses órgãos dessa maneira”, diz. No cardápio de Glickman, a adição de pimenta pode até levar a uma dilatação dos vasos sanguíneos e, assim, ajudar na circulação e eliminação das toxinas. Mas fígado e rins continuam funcionando em suas voltagens regulares.
Riscos — Os riscos de se fazer uma dieta extrema, como a detox, são diversos. Seguir um cardápio líquido, por exemplo, pode levar à perda excessiva de potássio e de outros minerais. Já uma dieta com índice calórico muito baixo — também o caso da detox — pode ser responsável ainda por mudanças inesperadas no metabolismo. Entre elas, está o desequilíbrio nos níveis de insulina circulantes no sangue e a queima de carboidratos armazenados no fígado e nos músculos. “Seguir uma dieta saudável, com base em legumes, frutas e vegetais, mantida a longo prazo é a melhor maneira de manter o corpo saudável. Não há milagres”, diz Hensrud.
A dieta na balança — Há apenas uma maneira de ajudar o corpo a trabalhar depois de cometer excessos gastronômicos e alcoólicos. Basta beber água, muita água. É o que indica o hepatologista Márcio Dias, coordenador do Programa de Transplante do Hospital Albert Einstein. De acordo com ele, reidratar o corpo ajuda a aliviar sintomas, como a ressaca, e o mal estar. Quanto às toxinas, o organismo dá conta de eliminá-las naturalmente depois de 24 horas, em média — isso significa que os resquícios da comilança de Natal estão fora do corpo um dia depois dos exageros.
“Essa dieta detox é como a maioria, uma febre. Ela é mais ou menos uma lenda”, diz Dias. Para o hepatologista, o importante em relação à intoxicação alimentar é considerar a sobrecarga como algo prejudicial. Assim, o único jeito de ter controle sobre as toxinas que você coloca para dentro do seu corpo é fazendo uma prevenção: modere na comilança. “Depois que o estrago foi feito, e você já comeu e bebeu mais do que deveria, o jeito é esperar o corpo trabalhar. A única ajuda bem-vinda é beber água.”
Mas há ainda outro socorro possível, chamado compensação. Se você comeu exageradamente, faça refeições mais leves e saudáveis nos dias seguintes. Desse jeito, você dá um tempo para que seu corpo termine de eliminar quaisquer toxinas em excesso que ainda estejam em circulação. “Mas isso não significa restringir macronutrientes, como o carboidrato. Faça refeições saudáveis, regradas, que contenham todos os nutrientes que seu corpo precisa”, diz Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Fonte: Veja
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