Uma nova suspeita recai sobre Rychardson de Macedo. O atual diretor do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem/RN), Carlson Gomes, disse diante do juiz federal Hallison Rêgo Bezerra, que os comentários que ecoam pelos corredores do órgão estadual é de que o ex-diretor e hoje réu da Operação Pecado Capital, se juntava a alguns donos de postos de combustíveis para fraudar bombas de abastecimento. Carlson não apresentou, porém, provas formais contra o que ouviu de servidores do Ipem em reuniões realizadas meses após a exoneração de Rychardson de Macedo. A suspeita se torna real, porém, quando uma fonte da TRIBUNA DO NORTE confirma que o dono de uma rede de postos repassava R$ 40 mil mensalmente a Rychardson para que este não autorizasse ou programasse inspeções nos postos pertencentes ao empresário pagador da propina.
“Os relatos eram de que os metrologistas não faziam as fiscalizações e estas eram feitas por terceirizados”, disse Gomes em Juízo. O relato do atual diretor pode ter ligação com uma determinação de Rychardson de Macedo à época em que geriu o Instituto, de 2007 ao início de 2010. Ele estabeleceu que todas as bombas de combustíveis só poderiam ser manutenidas com sua expressa autorização. Procedimento este que feria os padrões estabelecidos pelo Inmetro e até então desconhecidos pelos donos das empresas que prestavam serviços de reparo nas bombas de combustível. Somente com a saída de Rychardson de Macedo do órgão, o procedimento padrão de primeiro realizar a manutenção para depois o equipamento ser avaliado pelo Ipem, voltou a ser adotado.
Uma assertiva do atual coordenador operacional do Ipem/RN, Vicente Zacarias da Costa, durante depoimento prestado ontem ao juiz federal Hallison Rêgo Bezerra, explicou como as fraudes relacionadas à diminuição da litragem dos combustíveis poderiam ocorrer. “A fraude para o dono do posto ocorre no bloco medidor”, disse. A manipulação do mencionado bloco permite a maior ou menor saída de combustível. Ou seja, o consumidor poderia pagar mais e receber menos combustível no tanque do seu carro. A fraude, entretanto, não é visível para o proprietário do veículo enquanto este abastece. Visto que, ele visualiza no leitor da máquina a quantidade de litros que solicitou.
O atual diretor do Ipem/RN, Carlson Gomes, disse ao juiz federal e ao procurador do Ministério Público Federal, Rodrigo Telles, que recebeu o órgão sem infraestrutura adequada, cinco computadores funcionando, processos da dívida ativa parados há cerca de oito anos e aproximadamente 300 processos de aplicação de multas e atos de infração estagnados. Carlson identificou que documentos relativos à época da administração de Rychardson sumiram e inúmeros processos de dívidas ativas foram arquivados indevidamente, como se os débitos tivessem sido quitados. Ele relatou ao juiz federal que em torno de 958 processos prescreveram no Setor Jurídico do Ipem, sem a reclamação dos créditos por parte do órgão, o que resultou em perda de receita.
A situação do Instituto, de acordo com Carlson Gomes, mudou com a instalação de um sistema integrado de informações, o SGI, que calcula, inclusive, o valor de determinadas multas, bem como gera o histórico das advertências de cada estabelecimento comercial. Toda a movimentação em termos de fiscalizações realizadas, quantidade de equipamentos aferidos e montante recolhido em multas e serviços pelo órgão, é alimentada no SGI e pode ser acompanhada pela direção geral do Inmetro. O sistema, disponível para instalação desde à época da gestão de Rychardson, começou a ser implementado no início do ano passado.
O juiz Hallison Rêgo considerou a colheita das oitivas um processo tranquilo. Ele não pode analisar, entretanto, o conteúdo do que foi exposto pelas testemunhas de acusação ouvidas até o início da noite de ontem, para que o processo não corresse o risco de ser anulado. Os depoimentos das testemunhas de defesa dos réus, que começariam hoje, foram adiados para o mês de maio. Até lá, mais quatro testemunhas serão arroladas pela acusação. Além disso, o juiz achou por bem esperar o retorno de José Tavares Pinheiro, testemunha de acusação que ainda não foi ouvida, pois não havia sido localizada pela Justiça.
Platinum era referência em vendas
Vice-campeã em vendas e financiamento de veículos e lucro acima do informado. Era este o perfil da Platinum Veículos, empresa administrada por Rhandson de Macedo, antes de falir em 2011. Em depoimento prestado ontem à Justiça Federal, dois ex-funcionários da revendedora de veículos – Mateus Salviano Marques da Silva e Eudes da Rocha S. Paulo – confirmaram ao juiz Hallison Rêgo Bezerra que entre 40 e 50 automóveis eram vendidos ou financiados mensalmente pela loja, o que a garantiu, pelo menos entre 2009 e 2010, posições de destaque quando comparadas com as demais revendedoras sediadas na mesma galeria comercial.
Mateus Salviano disse ao juiz que trabalhou em duas empresas ligadas à família de Rychardson de Macedo: a Platinum Veículos e o Supermercado É Show. Na primeira, onde passou mais de um ano como vendedor, relatou que tinha como meta vender/financiar de oito a dez veículos por mês. Por cada um deles, a empresa recebia dos bancos financiadores uma taxa de retorno que variava entre R$ 1.200 e R$ 1.500. Esta taxa é uma espécie de porcentagem repassada à revendedora pelo sucesso do negócio.
Somados todos os repasses mínimos – R$ 1,2 mil – e considerando-se o número de 40 veículos negociados mensalmente, a Platinum teria um lucro de R$ 48 mil/mensais. Ao contador Clidenor Aladim de Araújo, segundo o depoimento do próprio prestado ao juiz semana passada, os administrados informavam que os rendimentos da empresa eram da ordem de R$ 20 mil por mês. Já o Ministério Público Estadual, durante as investigações que desencadearam a deflagração da Operação Pecado Capital, levantaram junto à Receita Federal que a Platinum Veículos movimentou aproximadamente R$ 24 milhões em sua conta bancária entre 2009 e 2010. Contudo, a empresa não registrou, oficialmente, nenhum rendimento em 2009.
Os ex-vendedores explicaram ao procurador do Ministério Público Federal, Rodrigo Telles, que o dinheiro de todos os financiamentos caíam na conta da empresa para depois serem repassados aos donos dos carros vendidos. O responsável por esta logística era Rhandson de Macedo enquanto que Acácio Allan Fernandes Fortes, cuidava da parte comercial. Este último, que também é réu no processo por lavagem de dinheiro, saiu da sociedade com o irmão de Rychardson e deu lugar ao pai deles, José Bernardo. Além de administrar a loja, Rhandson captava clientes e fechava negócios, concedendo descontos maiores.
O também ex-vendedor Eudes da Rocha confirmou ao juiz e ao procurador que a empresa revendia automóveis e utilitários com preços abaixo do mercado. De acordo com ele, o sucesso de vendas e financiamento da loja se dava devido ao esforço dos vendedores. Sobre os valores cobrados pela Platinum, ele disse que se um cliente chegasse dizendo que encontrou um veículo de modelo “X” numa determinada loja, Rhandson ofertava uma nova proposta com descontos de até R$ 2 mil quando comparados com o valor original. Segundo o vendedor, esta prática não influenciava nos lucros da loja.
Mateus Salviano concluiu seu depoimento explicando ao juiz federal que tipos de funções desempenhou no Supermercado É Show após ter saído da loja de carros, em fevereiro de 2011. Ele passou pelo estoque, setor de informática, pista (salão de vendas) até chegar ao setor financeiro. Mateus disse que recolhia o dinheiro apurado nos caixas e o repassava para Rhandson, que separava em determinadas quantias e depositava no Banco Safra. Segundo ele, Rychardson participou desta operação por algumas vezes.
Fonte: Tribuna do Norte
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