Um país unido, todos de mãos dadas para mostrar ao mundo o que o Brasil é capaz de fazer, dentro e fora de campo. Hoje, começa a Copa das Confederações. Não são poucos os que nos querem fazer passar essa idéia de que, a partir de agora, o que conta é bola, o bem da seleção, como se os jogadores fossem soldados em uma guerra e que nós, como bons patriotas, deveríamos apoiá-los e até mandar cartas para que se inspirem antes de entrar em campo.
Mas, hoje, bastará olhar para a ala VIP do estádio em Brasília para entender que, por mais que a imagem tenha sido lustrada, o mal-estar entre o governo e a CBF é uma realidade.
Por exigência do Palácio do Planalto, o presidente da CBF, José Maria Marin, não será autorizado a sentar ao lado da presidente Dilma Rousseff. A presidente terá a companhia de Aldo Rebelo, ministro de Esportes, e de Joseph Blatter, presidente da Fifa.
O afastamento de Marin não se limita ao evento de hoje e, nos dias que antecederam a Copa das Confederações, o Palácio do Planalto e a Fifa deixaram a CBF na geladeira e excluíram o cartola de reuniões.
Ontem, numa base militar no Rio de Janeiro, a presidente Dilma Rousseff se reuniu por uma hora com Joseph Blatter, além do secretário-geral da entidade, Jerome Valcke, Aldo Rebelo, e o governador do Rio, Sérgio Cabral. Na agenda, os últimos detalhes para o que será o ensaio geral para a Copa do Mundo de 2014. E, nem assim, Marin foi convidado.
Marin ocupa tanto a presidência da CBF quanto do Comitê Organizador da Copa, teoricamente a entidade que deveria conduzir as obras. Em outras edições da Copa, em 2010 e 2006, a presença do organizador local era obrigatória nas reuniões, principalmente envolvendo chefes-de-estado.
Mas Marin não tem tido as portas abertas nem no Palácio do Planalto, que nunca o recebeu, e nem pela Fifa, que quer o cartola longe das atividades oficiais. As polêmicas em relação à ditadura militar e seu envolvimento com Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, seriam os principais motivos da geladeira. Fontes dentro da Fifa e do governo ainda insistem que o evento que começa hoje apenas conseguiu ser organizado depois que uma relação direta foi estabelecida entre governo e Zurique, marginalizando a CBF e a herança deixada por Ricardo Teixeira.
A posição de Marin se transformou nos últimos meses em uma espécie de rainha da Inglaterra. O governo chegou a fazer um trabalho de bastidor para gerar a queda do cartola da CBF. Mas, diante do risco de se abrir um período de incertezas ou ver subir ao trono alguém da mesma dinastia, a opção foi a de esvaziá-lo totalmente de poder de decisão.
Jamil Chade – Do Estadão
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