Josias de Souza:
Após duas semanas de recesso, o Congresso volta ao “trabalho” nesta semana com a disposição de submeter Dilma Rousseff a um segundo semestre turbulento. Ausentes de Brasília, deputados e senadores assistiram ao jogo solitário de Dilma. Disseminou-se a impressão de que a presidente jogou para a platéia.
Os governistas ficaram entre apreensivos e irritados com o que viram. Os oposicionistas animaram-se com a perspectiva de elevação da temperatura. Em 15 dias, esvaiu-se a atmosfera benfazeja que se estabelecera entre o Planalto e o Legislativo nos dias que antecederam o recesso.
Ao nomear a petista Ideli Salvatti (PT-SC) para gerenciar o balcão, Dilma sinalizara a intenção de acelerar o conta-gotas dos cargos. Ao assinar o decreto que prorrogou a liberação de emendas orçamentárias velhas, os “restos a pagar”, a presidente acenara com a desobstrução do duto das verbas.
Por ora, não foi empenhado um mísero centavo do bolo de emendas de parlamentares. Quanto aos cargos, foram ao ‘Diário Oficial’ apenas demissões. Desalojado do Ministério dos Transportes, um ninho de corrupção do qual foram desalojadas 22 pessoas, o PR lidera o bloco dos irritados.
Nesta terça (2), a caciquia do partido do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) e do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) deve se reunir em Brasília. Antes do recesso, o PR era festejado no Planalto como uma das legendas mais fieis ao governo. Agora, o partido quer discutir a relação.
“Fomos tratados de forma indigna”, disse um líder do PR ao repórter, indignado com o método adotado por Dilma na “limpeza” dos Transportes.
O mandachuva pêérre estranha: “Agora, há notícias de corrupção na Agricultura (PMDB e PTB), nas Cidades (PP) e na ANP (PCdoB). Para ser coerente, a presidente teria de demitir todo mundo. Se usar peso diferente, tem de nos dar explicações. Se usar a mesma balança, vai terminar sozinha.”
Na ala dos apreensivos encontram-se todos os outros partidos que compõem o consórcio governista. Ruminam dúvidas quanto aos métodos de Dilma. No grupo dos revigorados, os oposicionistas PSDB, DEM e PPS enxergam no excesso de eletricidade a oportunidade para produzir um curto-circuito.
Com 23 assinaturas já coletadas, a CPI do Dnit depende de quatro jamegões para virar realidade no Senado.
Nesta semana, além de reforçar a coleta, a oposição vai protocolar nas comissões das duas Casas legislativas requerimentos de convocação de autoridades. Entre elas o diretor-geral da ANP (Haroldo Lima) e três ministros: Paulo Passos (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Mário Negromonte (Cidades).
Em conversa com o repórter, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, deu uma ideia das complicações que estão por vir. “Vamos ter um semestre difícil”, disse ele. “Há muitos projetos polêmicos à espera de votação”. Citou quatro: a divisão dos royalties do petróleo, o reajuste dos salários de magistrados e promotores, a regulação dos gastos da saúde e a criação do piso salarial de bombeiros e policiais militares.
Mencionou um complicador: em 2012 haverá eleições municipais. Sindicatos e corporações sabem que, em ano eleitoral, é mais difícil aprovar novas despesas. Assim, conclui Henrique, “toda a pressão sobre o Congresso será concentrada neste último semestre de 2011. E o nosso papel é decidir”.
Para que as decisões não trombem com a política anti-inflacionária e o rigor fiscal do governo, disse Henrique, “a base [governista] não pode estar estressada.” Recorda que “é a primeira vez em dez anos que se chega ao meio do ano sem que nenhuma emenda [de parlamentar] tenha sido empenhada.”
“A ministra Ideli disse que, em agosto, apresentaria uma solução. É preciso que apareça o resultado. Tem que haver um cronograma de liberações”, disse o deputado. Sobre o estresse que envolve o PR, Henrique comentou:
“Houve consenso de que as práticas [nos Transportes] eram indevidas. Foram corrigidas. Vamos fazer o que com o PR? Vai ficar fora do governo? Será condenado à pena perpétua de não indicar mais ninguém? São indagações que estão no ar.”
Henrique conversou com o repórter antes do noticiário do sábado, que trouxe adicionou novas encrencas. Entre elas as denúncias de Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, para quem a pasta da Agricultura, cota do PMDB, “só tem bandido”.
Seja qual for, a reação de Dilma elevará o “estresse”. Se servir refresco aos novos encrencados, açulará o PR. Se passar o rodo, fica bem com a platéia. Mas arrisca-se à solidão legislativa.
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