Josias de Souza:
Para evitar problemas com o PMDB, Dilma Rousseff encomendou à Secretaria de Comunicação da Presidência a divulgação de uma nota.
O texto veio à luz neste domingo (7). É curto e peremptório. Uma única frase. Diz o seguinte:
“A presidente Dilma Rousseff reitera a sua confiança no ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que está tomando todas as providências necessárias.”
Ex-deputado federal, Rossi (foto) comanda a Agricultura por indicação do vice-presidente Michel Temer, hoje a liderança que personifica os interesses do PMDB.
As “providências” mencionadas na nota do Planalto referem-se à mais recente denúncia contra a gestão do apadrinhado de Temer.
Descobriu-se que um lobista com sala no ministério preparava editais de licitação, intermediava negócios e distribuía propinas.
Tudo com o suposto conhecimento do secretário-geral Milton Ortolan, o segundo na hierarquia da pasta, amigo de 25 anos do ministro Rossi.
Em combinação com o Planalto, Rossi viu-se compelido a entregar a cabeça de Ortolan, que se demitiu no sábado (6).
No mesmo dia, o ministro anunciou, em nota, a abertura de processos administrativos contra servidores e a requisição de auditoria da CGU (Controladoria-Geral da União).
A reiteração da “confiança” de Dilma no pemedebê Rossi contrasta com o tratamento dado ao senador Alfredo Nascimento (PR-AM), ejetado da pasta dos Transportes.
No caso do PR, sócio minoritário do condomínio governista, utilizou-se um detergente forte. Para o PMDB, gigante da coligação, um sabão fraquinho.
O repórter conversou com um integrante da equipe de Dilma sobre a diferença de tratamento. “Não há diferença”, respondeu o auxiliar da presidente.
Sustenta-se que Nascimento também havia recebido de Dilma um “voto de confiança.” Mas, para “surpresa” da presidente, demitiu-se dos Transportes. “Saiu porque quis”.
Meia-verdade, segundo a versão de Nascimento. O ex-ministro pêérre alega que, no caso dele, a manifestação de confiança ficou no campo da retórica.
Como assim? Nascimento diz que seu pedido de demissão foi motivado por dois fatos:
1. Em reunião com deputados do PR, a ministra Ideli Salvatti, coordenadora política de Dilma, dissera que a situação de Nascimento ficara “muito difícil.”
Por quê? Os deputados contaram a Nascimento que Ideli fizera referência à notícia sobre a evolução patrimonial da firma do filho dele –86.400% em dois anos.
Nascimento afirma que, se o Planalto o tivesse chamado para explicar, teria verificado que a notícia é “mentirosa.” Coisa urdida, segundo ele, por um inimigo amazonense.
2. Depois, Nascimento diz ter recebido um telefonema de Paulo Passos, o secretário-executivo que viria a ocupar a poltrona de titular dos Transportes.
Passos disse a Nascimento que acabara de ser convocado por Dilma para uma reunião sobre obras do PAC. Citou a Transnordestina.
“Ora, se sou o titular da pasta e estou conduzindo a investigação, qual é o sentido de fazer uma reunião sem a minha presença?”, indaga o agora ex-ministro.
“Não pensei duas vezes. Fiz a minha carta de demissão e mandei entregar para a presidente da República.”
Quer dizer: o senador Nascimento, presidente nacional do PR, acha que foi como que empurrado para fora do ministério.
Nesta segunda (8), a cúpula do PMDB (líderes e ministros) deve se reunir no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice Temer.
Vai-se discutir a encrenca da Agricultura. Uma pasta onde, no dizer do ex-diretor da Conab Oscar Jucá Neto, “só tem bandido.”
Para a cúpula do PMDB, o caso de Wagner Rossi não difere apenas do de Alfredo Nascimento.
A encrenca da Agricultura seria dessemelhante também do episódio que resultou na demissão de Nelson Jobim do Ministério da Defesa.
Embora filiado ao PMDB, Jobim não virara ministro por indicação partidária. De resto, a legenda enxerga a Defesa como ministério técnico, não político.
A Agricultura, essa sim, é tida pelo PMDB como parte de sua cota na Esplanada. Uma faxina ali levaria o principal sócio do PT às lanças.
Daí a pressa de Dilma em prestigiar Rossi, o ministro de Temer, antes do nascer do Sol de segunda-feira.
Ficou entendido que, por ora, a pseudofaxina de Dilma não é indiscriminada. Para os pequenos, a vassoura de piaçaba. Para os grandões, no máximo um espanador.
Imagina-se que, administrando-se a sujeira atribuída ao PMDB, o governo impede a oposição de reunir as assinaturas necessárias à abertura de uma CPI.
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