É bem batido que a corrida de rua é vista como um esporte dos mais democráticos pela facilidade de acesso, afinal qualquer um pode calçar um par de tênis e sair pelas ruas num trotezinho de boa. Isso até pode ser uma verdade pra alguns, mas temos uns mitos aí e o assunto precisa ser tratado com um pouco mais de profundidade. Uma coisa é correr por correr, apenas pra não ficar parado. Outra bem diferente é praticar o esporte, mesmo que de forma amadora.
Quando a gente entra de cabeça na corrida de rua se depara com um mundo, além de apaixonante, um tanto quanto rico em informações, estudos e novidades. É impressionante quando você começa a correr e se percebe evoluindo, quando por exemplo se compara com o que era na semana anterior. E essa percepção não surge do acaso, é fruto de um treinamento individualizado, feito especificamente para você e mediante um estudo de seu caso, suas condições e objetivos. Não há como fugir, se quer fazer bem feito faça com método e orientação adequados.
Os estudos mais recentes e as últimas pesquisas trouxeram atualizações nas formas de treinamento para corredores. Ouvindo alguns educadores físicos, de um universo amplo de opções, atualmente são dois os métodos mais aplicados, o tradicional e o polarizado.
Para explicar cada um deles, é preciso primeiro falar das zonas cardíacas de esforço que são colocadas numa escala de 1 a 5, sendo 1 o esforço mínimo e 5 o máximo. Pois bem, o método tradicional ainda é utilizado pela maioria dos profissionais e corredores. A técnica consiste basicamente em treinar usando todas as zonas cardíacas de forma igualitária, mas dando muita ênfase nas do meio, as 3 e 4. Em termos práticos significa correr quase sempre em ritmo de prova, de competição, no limiar aeróbico. O que acaba sendo atrativo para o atleta amador que gosta de se avaliar e saber como anda o desempenho que ele considera ideal. Mas existem controvérsias quanto a essa fórmula.
“Antigamente o conceito era que para melhorar o desempenho aeróbio, era preciso treinar mais na zona 3 e 4 ou bem próximo delas. Mas hoje já se sabe que é mais perigoso porque se treina muito no limite de distâncias e volumes, e os riscos de lesões são maiores. Também já existem estudos que apontam que a evolução é mais lenta, sem contar que também causa alterações hormonais no atleta”, diz o profissional de educação física Cid Barbosa.
O professor fala com a autoridade de quem é formado em educação física, com especialização em fisiologia do esporte e há 3 anos lidera o ranking mundial amador do Ironman 70.3. Também já foi campeão do Ironman da África do Sul, vice no Brasil em 2017 e tricampeão do Challenge Brasil em 2016, 2017 e 2018.
O método polarizado já não usa tanto a zona do meio. Se caracteriza por fazer o atleta correr nas zonas 2 e 5, com a 5 sendo a mais usada nos treinos de intensidade. É menos volumoso e mais intenso. É visto por alguns como menos lesivo e deixa corpo mais saudável para treinar, competir e para a vida diária.
“Antes de mais nada é preciso estudar e buscar o que é mais eficiente pra cada pessoa. Nem sempre um padrão que serviu pra alguns por um tempo, servirá pra todos. Eu particularmente gosto de intercalar periodicamente os dois métodos. A principal vantagem disso é que você consegue fazer o aluno/corredor evoluir mais rápido, de forma mais eficaz e com risco de lesão bem reduzido”, ressalta.
O professor destaca ainda que essa variação de métodos, invariavelmente influencia no volume dos treinamentos em preparação para provas mais longas, acima de 10 quilômetros. E assim sendo, em muitos dos casos os treinos diminuem de tamanho, mas ganham mais velocidade, a chamada intensidade. Essa troca muitas vezes causa estranheza para os alunos.
“Não é só volume que vai fazer um maratonista correr bem uma maratona. É preciso trabalhar a fisiologia do atleta. Dependendo do caso, existem treinamentos para maratona com volumes bem baixos e mais intensidade, ou o contrário também. Tem que entender o que o corpo de cada um aceita melhor. É fundamental fazer o aluno entender isso e esquecer de comparar com os treinos dos colegas. O corpo não identifica a distância percorrida, ele identifica o tempo de desgaste. Então com esse parâmetro, eu controlo melhor o descanso e a evolução de cada um”, finaliza Cid.
A ideia central é levar o corredor a se conhecer melhor, principalmente os que estão em fase de amadurecimento de desempenho. Passar muito tempo treinando no limite, pode potencializar os erros de postura, bem comuns quando se corre muito tempo na exaustão. E a repetição frequente, vai fazer o corpo assimilar esse gesto errado e os problemas físicos mais sérios serão inevitáveis.
Amigos, vamos correr sim, mas vamos correr bem. Busquem um professor especializado e conversem muito com ele porque boa orientação é fundamental. Em conjunto com ele, vocês vão encontrar o método mais adequado para você e cada fase de sua preparação.
Siga a gente no instagram: @EaiBoraCorrer
Comente aqui