O império de negócios criado ao longo de mais de uma década pelo empresário Eike Batista, de 56 anos, que abrange desde o ramo de petróleo e mineração até o mercado de entretenimento, está ameaçado por uma crise de credibilidade que vem contaminando os resultados das companhias do grupo com ações negociadas na Bolsa (OGX, OSX, LLX, MPX, MMX e CCX). Além de perderem R$ 86 bilhões em valor de mercado desde outubro de 2010, quando viveram seu apogeu na Bolsa, o patrimônio líquido dessas seis empresas X — letra com a qual Eike batiza seus negócios — é insuficiente para cobrir o que as mesmas empresas devem “na praça”. Ou seja, numa situação extrema de falta de crédito no mercado, mesmo se o empresário vendesse por completo suas seis companhias pelo valor do patrimônio, que hoje soma R$ 18 bilhões, o dinheiro recebido seria insuficiente para cobrir as dívidas de R$ 18,8 bilhões com investidores, bancos privados e públicos. Somente o BNDES concedeu R$ 10 bilhões ao empresário, sendo que, neste caso, uma parte já foi paga.
— Em empresas pré-operacionais, como as do Eike, endividamento alto é comum. Não quer dizer, no entanto, que esteja tudo bem. Ter dívidas altas não é um problema para empresas que têm uma geração de caixa e lucro constantes. Como não é o caso (das empresas do grupo de Eike), acho que elas não poderiam se dar a esse luxo — explica Hersz Ferman, economista da Elite Corretora.
Entre 2006 — quando a MMX lançou ações, a primeira empresa do grupo a abrir capital — e o fim do primeiro trimestre deste ano — e o primeiro trimestre deste ano, as seis companhias acumulam prejuízo de R$ 6 bilhões.
Nesta quinta-feira, numa tentativa de aliviar as preocupações do mercado com o endividamento de suas empresas, Eike anunciou a conclusão da reestruturação da dívida do grupo EBX, holding que controla todas as companhias. Num comunicado assinado pelo próprio Eike, o que não é comum no mercado financeiro, o empresário garantiu que restaram “somente dívidas com vencimento de longo prazo”. Em nota, disse ainda que não pretende mais vender ações da OGX, como ocorreu no mês passado para ajudar a reestruturar a dívida.
Segundo Rogério Freitas, da Teórica Investimentos, a única maneira do grupo retomar a confiança do mercado é fazer com o que Eike saia da frente dos negócios.
— É uma pessoa só à frente de vários projetos grandes demais, que exigem investimentos grandes demais. O próprio Eike, no passado, guiou o mercado para uma visão superestimada do grupo. Ele soube vender bem os próprios negócios, como muitos bons empresários. Mas, agora, chegou-se a um ponto em que as ações das empresas são contaminadas por ele próprio. Ele tem que sair — afirma Freitas.
A recente parceria com André Esteves, fundador do BTG Pactual chamado para ajudar na gestão dos negócios, foi vista como uma tentativa de recuperar a credibilidade. nesta quinta-feira, após o fechamento dos mercados, a MPX informou ainda que fechou um contrato financeiro de R$ 100 milhões com o BTG Pactual. Um analista identificou a operação como um empréstimo do banco à empresa.
Segundo informações no mercado, o empresário começa agora a se desfazer de parte de projetos, como o Hotel Glória, o restaurante Mr. Lam, além de ter já perdido o projeto de revitalização da Marina da Glória. O grupo nega que o Mr. Lam esteja à venda.
De bom vendedor a imagem de risco
O tsunami que varreu as empresas de Eike, por muito tempo considerado queridinho do mercado, começou há um ano. No dia 27 de junho, a OGX, empresa de petróleo do grupo, divulgou ao mercado que a capacidade de produção de dois de seus poços no campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, seria de apenas 5 mil barris diários cada, e não mais 20 mil como se previa anteriormente.
Mais do que uma simples revisão de cenário, a notícia foi recebida como uma quebra de confiança pelo mercado. Muitos dos investidores que aplicaram nas ações das empresas de Eike, em oferta públicas badaladas na Bolsa, começaram a se perguntar se o empresário realmente seria capaz de transformar seus projetos em resultados de fato.
— A confiança por parte dos investidores está abalada. A empresa (OGX) tem problema de caixa e precisa rever sua estratégia. A produção ainda está muito abaixo do esperado, e com isso acaba abalando as outras empresas do grupo EBX — destacou Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora.
De lá para cá, as seis empresas X negociadas na Bolsa viram seu valor de mercado cair de quase R$ 100 bilhões, em novembro de 2010, para R$ 12 bilhões, nesta quinta-feira. O próprio Eike Bastista, que se tornou uma celebridade do mundo dos negócios ao ser apontado como o oitavo homem mais rico do mundo pela revista Forbes, viu o sua fortuna pessoal encolher de US$ 34,5 bilhões para US$ 5,8 bilhões, segundo a agência Bloomberg News.
Para tentar conter o derretimento de seus negócios, Eike demitiu seus principais executivos ao longo dos últimos anos. E buscou até estratégias menos ortodoxas, como a de uma consultora esotérica, que recomendou inverter o sentido em que o sol rodava na logomarca da EBX, o que foi feito mês passado. Ainda sim, a produção de petróleo da OGX vem caindo mês a mes desde janeiro. Em maio, foi de 6,8 mil barris por dia. Um analista, que prefere não se identificar, diz que com os resultados exploratórios da OGX ruins e caixa baixo, “está ficando difícil Eike encontrar um parceiro estratégico, um investidor para o grupo”.
Na OSX, de construção naval, houve uma onda de demissões após a redução nas encomendas da OGX. Entre março e maio deste ano, foram dispensados 1.480 funcionários da Acciona, empresa contratada pelo estaleiro, segundo José Carlos Eulálio, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e do Mobiliário no Estado do Rio de Janeiro (Sticoncimo-RJ). A OSX faz parte do porto do Açu, da LLX, que conta com 5,8 mil funcionários.
Ação da OG foi negociada por menos de R$ 1
Com menos encomendas, a OSX vem passando por uma redução a ponto de sido obrigada a cancelar a construção de 11 navios-tanque da britânica Kingfish, em contrato conquistado em março do ano passado. A companhia ainda pediu a suspensão, em abril deste ano, do contrato com o Senai para a formação de 3.100 pessoas para trabalhar no Açu. “O cronograma dos novos cursos está sendo adequado às atuais circunstâncias”.
Nesta quinta-feira, a MPX, de energia, informou que a sua sócia a alemã E.ON, que tem 24,5% das ações, indicou Frank Possmeier como novo vice-presidente da empresa. Além disso, a companhia afirmou que quatro dos sete diretores foram destituídos.
A holding EBX, por sua vez, já havia extinguido a sua diretoria de Sustentabilidade.
As ações OGX ON foram negociadas abaixo de R$ 1 pela primeira vez na história, mas fecharam cotadas acima disso, a R$ 1,05, em leve alta de R$ 1%. Neste ano, essas ações registram baixa de 76%. Já os papéis da CCX ON subiram 16,74%, a R$ 2,86, recuperando-se do tombo do dia anterior, com rumores de que adiaria seu fechamento de capital. LLX teve leve alta de 0,80%, MPX de 2,17% e MMX de 6,80%.
O Globo
Comente aqui