Eleito neste sábado como novo presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) assumiu o cargo com a defesa do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), inclusive as privatizações adotadas na gestão do tucano, além de ataques à gestão do PT.
As privatizações foi tema sensível nas últimas campanhas do PSDB e usadas por adversários para atacar a gestão tucano.
A escolha de Aécio para o comando do partido dá início às articulações da sigla para lançá-lo candidato ao Palácio do Planalto em 2014. O tucano e a nova executiva nacional do PSDB foram eleitos com votos favoráveis de 521 dos 535 delegados do PSDB que participaram neste sábado da convenção da sigla, em Brasília.
Em meio à divisão do PSDB sobre sua candidatura à Presidência, o tucano disse que não assume um “partido esfacelado”, mas um “partido unido como nunca”.
Segundo ele, o PSDB vai se “apresentar no momento certo”, que é 2014. “Ainda não é hora de tratarmos disso, com um projeto alternativo a esse que está aí. Onde estiver o PSDB, estará a defesa intransigente da ética, da liberdade, da democracia”, afirmou, a despeito do discurso de alguns presentes que já o lançaram na disputa da cadeira de Dilma Rousseff (PT).
Aécio fez um discurso inflamado, em que acusou o Brasil de “estagnação”. Com postura de candidato, o tucano disparou críticas à gestão do PT no Palácio do Planalto —tanto ao governo Lula quanto no de Dilma.
“Se tivessem que comemorar dois anos [de governo Dilma], seria o pibinho ridículo, irrisório, vexatório”, disse. O tucano afirmou ainda que o PT comemorou seus dez anos no governo porque, nos dois últimos anos, a gestão de Dilma foi um “fracasso”.
Atacando o elevado número de ministérios na atual gestão, Aécio alfinetou: “recebi um e-mail de um amigo, dizendo que o Sri Lanka tem 53 ministérios. Que se cuide o Sri Lanka que, daqui a pouco, vai ser vice-campeão [na comparação com o PT]”.
O tucano disse que o PT promove o “governo dos amigos, para os amigos”, enquanto o PSDB vai “cuidar das pessoas, olhar e buscar os caminhos evitando o populismo e medidas demagógicas”.
Segundo Aécio, os desafios dos tempos de Fernando Henrique Cardoso, como inflação, “desarranjo econômico” e perda da credibilidade do país, estão de volta. Ele citou FHC como o presidente que mudou a história do país. “Garantimos a abertura da economia, com as privatizações”, afirmou. Nos últimos anos, os tucanos evitam defender publicamente as privatizações –tema explorado pelo PT como uma das principais críticas aos tucanos.
Também listou feitos históricos do PSDB, como a estabilização da economia “convulsionada pela hiperinflação”, o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e os “primeiros programas de transferência de renda” –principal mote dos governos do PT.
BORDÃO
Embora não tenha falado no microfone, no discurso que Aécio preparou para a convenção e que foi distribuído à imprensa o tucano usou um bordão semelhante aos de alguns de seus eventuais adversários na disputa pelo Palácio do Planalto: “É possível fazer melhor”.
O mote se parece com o “É possível fazer mais” do governador Eduardo Campos (PSB-PE), bordão também explorado por Dilma Rousseff nos programas de TV do PT com seu “É possível fazer cada vez mais”.
Curiosamente, na disputa de 2010 o então candidato presidencial José Serra (PSDB-SP) estampava na sua campanha algo bem parecido: “O Brasil pode mais”.
UNIDADE
De olho na unificação da legenda, Aécio elogiou tucanos que têm resistência à sua candidatura, como o ex-governador José Serra (PSDB-SP) e o atual governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
“É preciso dar atenção à proposta do governador Geraldo Alckmin que aumenta o tempo de internação para a ressocialização de menores que cometem crimes mais graves”, afirmou.
Ao falar de Serra, disse que sua gestão no Ministério da Saúde o governo participava com 46% da saúde em todo o país, enquanto o percentual hoje é de 35%.
Aécio ainda criticou a relação do governo federal com o Congresso, especialmente a “submissão” dos aliados de Dilma ao Palácio do Planalto. “Para que uma base paquidérmica como essa, para não fazer absolutamente nada? Colocaram a Câmara e o Senado de cócoras, de joelhos, envergonhados.”
Ao encerrar o discurso, o tucano disse que a unidade do PSDB será o “amálgama, o instrumento mais eficaz que temos para mostrar ao Brasil que nem tudo está perdido”. Aécio deixou o salão principal da convenção nacional do PSDB, em Brasília, e foi ao encontro dos militantes da sigla –parte deles não conseguiu entrar no local devido à superlotação.
GABRIELA GUERREIRO
NATUZA NERY
CATIA SEABRA
Da Folha
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