O empresário e ex-deputado federal Ronaldo Cezar Coelho declarou à Polícia Federal que, entre 2009 e 2010, recebeu 6,5 milhões de dólares (27,2 milhões de reais, no câmbio atual) como pagamento pelo empréstimo de um avião particular para a campanha presidencial do PSDB, que teve como candidato o atual senador José Serra (SP). Ele disse que o dinheiro foi depositado em contas na Suíça.
O ex-deputado foi interrogado em 7 de fevereiro no inquérito que apura se recursos das obras do Rodoanel Trecho Sul, em São Paulo, teriam abastecido a campanha de Serra ao Planalto.
A investigação, que está no Supremo Tribunal Federal, se baseia na delação da Odebrecht, mas ex-executivos das empreiteiras Andrade Gutierrez e da OAS também admitiram repasses de 0,75% a intermediários, supostamente em benefício do tucano.
Cezar Coelho disse que, em 2009, disponibilizou a própria aeronave para o PSDB transportar dirigentes partidários e de várias siglas coligadas. Segundo ele, o então presidente do partido, Sérgio Guerra (morto em 2014), estava viajando com frequência para costurar alianças políticas.
Ele declarou ter pedido que os depósitos fossem feitos para uma operadora de táxi aéreo, mas o tucano, segundo o seu relato, respondeu que “somente poderia efetuar os pagamentos diretamente no exterior”. Cezar Coelho afirmou que desconhecia a origem dos recursos depositados.
O ex-deputado disse que “alimentava sua conta” em um banco suíço “através de investimentos que realizava”. Ele afirmou aos policiais que repatriou cerca de R$ 23 milhões em 2016.
Odebrecht
O ex-presidente da Odebrecht Pedro Novis e outros colaboradores já relataram pagamento de 23 milhões de reais a Cezar Coelho a pedido de Sérgio Guerra para campanhas majoritárias do partido.
Segundo Novis, a negociação do repasse foi tratada com o empresário e outras “pessoas indicadas diretamente por José Serra”. Hoje no PSD, Cezar Coelho foi filiado ao PSDB de 1988 a 2013.
Outro lado
O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Cezar Coelho, afirmou ao ministro Gilmar Mendes, que é o relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal, que “a origem lícita dos recursos recebidos por ele em sua conta no exterior restou elucidada, os quais foram, inclusive, devidamente regularizados sob essa rubrica no ano de 2016 por meio do Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT)”.
O advogado disse que entregou documentos referentes à repatriação dos R$ 23 milhões depositados na Suíça e alegou não existir substrato probatório mínimo para que o inquérito tenha andamento. Segundo Mariz, os crimes imputados a Cezar Coelho também estão prescritos.
O senador José Serra não quis se manifestar sobre o caso. O PSDB não respondeu aos contatos da reportagem.
(Com Estadão Conteúdo)
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