
Sem mandato, sem partido e se dizendo livre para traçar críticas à esquerda, a ex-deputada federal Manuela d’Ávila enxerga o próprio campo político com dificuldades de mobilização nas ruas.
Parte disso atribui ao sucesso da direita nas redes sociais, fruto de diversos fatores, e da incompreensão de que o mundo digital, hoje, não pode mais ser desassociado do mundo real.
No ano passado, deixou o PC do B, partido ao qual foi filiada por 25 anos, alegando descontentamento com os rumos da sigla. Ao avaliar a postura da esquerda, tem traçado um paralelo com o episódio no qual uma frase foi falsamente atribuída à Maria Antonieta, rainha da França no século 18, na qual dizia à população, que reclamava da falta de pão e passava fome, para se alimentar de brioches.
“Vários traços da vida institucional são, diante dos olhos do povo, luxos aos quais a população não pode se dar. A maneira como os parlamentares vivem é diferente da vida do povo trabalhador”, diz Manuela.
Durante entrevista a Folha De São Paulo, Manoela foi perguntada: “O ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva [PT] disse que é necessário reconhecer que a esquerda tem apresentado dificuldade de mobilização. Você concorda com isso?”
Manuela respondeu que “ Isso é um dado da realidade. Quem não enxerga a base social e a maneira como a extrema direita tem aglutinado setores sociais? Em contrapartida, as nossas instituições estão tentando maquiar um dado da realidade, que é duríssima. A gente precisa tirar as maiores lições disso. Essa afirmação do Edinho é, para mim, bastante evidente e óbvia, vinda de quem não está tentando negar a realidade, mas sim olhando para ela com atenção.”
Ainda durante a entrevista a ex-parlamentar foi questionada: “Caso Bolsonaro seja preso, você acredita que a direita pode se fortalecer ou enfraquecer para 2026?” E respondeu que ”Acha evidente que ele preso atrapalha a extrema direita, porque ele é ex-presidente e conta com prestígio popular. Mas isso não tira a competitividade da extrema direita, que mantém uma ofensiva política em torno de ideias que seguirão girando.” Finalizou.
CONFIRA ALGUMAS PERGUNTAS E RESPOSTAS FEITAS DURANTE A ENTREVISTA:
P – A comunicação do governo Lula tem sido muito criticada. Você acha que isso tem prejudicado a imagem dele?
MD – Dizer que não tem problema nenhum na comunicação seria superficial e exagerado, mas na minha interpretação, atribuir todos os problemas à comunicação também é. Quando as pessoas dizem que o problema está na comunicação, elas se referem às redes sociais e usam como sinônimos coisas que não são equivalentes. Sabendo que a extrema direita opera no mundo da desinformação, tudo o que pode ser mal interpretado é previsível na elaboração de políticas. Eu, por exemplo, em tudo o que faço já penso qual é a fake news que pode gerar.
P – Isso tem sido uma das principais causas da avaliação ruim do governo Lula?
MD – As redes não são só comunicação, elas são mobilização, organização e disputa intensa em torno de ideias. A incompreensão das redes é um dos problemas políticos mais comuns dentro e fora do governo. Mas não é exclusividade do governo. Não gosto da dicotomia falsa do real e do virtual, como falam às vezes. Parece que estamos nos anos 1980 jogando Atari quando eu escuto isso! A vida real das pessoas é atravessada pelo que circula no virtual. A série “Adolescência” não está só na Netflix, ela virou assunto nas escolas, na minha família, entre os meus amigos, na minha terapia. Como tratar o real e o virtual de forma diferente?
Ainda durante a entrevista a ex-parlamentar foi questionada: “Caso Bolsonaro seja preso, você acredita que a direita pode se fortalecer ou enfraquecer para 2026?” E respondeu que ”Acha evidente que ele preso atrapalha a extrema direita, porque ele é ex-presidente e conta com prestígio popular. Mas isso não tira a competitividade da extrema direita, que mantém uma ofensiva política em torno de ideias que seguirão girando.” Finalizou.
Folha de São Paulo
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