Imagina um Jornal Nacional com imagens de um assaltante sendo queimado vivo por uma população em fúria, que se refira a uma mortandade de gente como “sopa de presunto” ou que trate políticos corruptos como “larápios”. Pois esse Jornal Nacional existiu. E vazou na internet no último final de semana.
Gravado em 1998, o Jornal Nacional versão Aqui Agora nunca foi ao ar. Trata-se apenas de uma escalada (as manchetes de um telejornal) em que William Bonner e seu então colega de bancada, Carlos Nascimento, liam falsas notícias como se o então engessadíssimo JN fosse o telejornal popularesco do SBT. Com 37 segundos, o vídeo vazou de dentro da Globo e foi parar no YouTube. Ontem, a emissora retirou as imagens da rede social de vídeos.
A Globo confirma a autencidade desse vídeo e de um outro semelhante, com enunciados pretensamente intelectualizados que poderiam ter sido escritos por um sociólogo ou pelo personagem “revolucionário” do humorístico Tá no Ar. Segundo a Globo, os vídeos foram produzidos para um evento interno, em que a Central Globo de Jornalismo se apresentou às demais áreas da emissora. Foram encomendados por Evandro Carlos de Andrade (1931-2001), então diretor-geral de jornalismo, ao jornalista Ernesto Rodrigues. A ideia era mostrar internamente como poderia ser o JN se o telejornal não seguisse os princípios jornalísticos da emissora.
Rodrigues produziu uma escalada sensacionalista com as seguintes manchetes, lidas em jogral por Bonner e Nascimento: “Povo revoltado cerca assaltantes e taca fogo nele [com imagens de um homem sendo queimado vivo]; Burocrata americano é acusado de ser larápio, reúne a imprensa e [mostra o ex-deputado Budd Dwyer dando um tiro na boca, em 1986 _imagem que a Globo não mostrou na época]; Sopa de presunto depois de acidente no Golfo Pérsico; Vingança na delegacia: Irmão da vítima se revolta e vira bate-estaca [com imagens de um homem pisoteando outro, no chão]; A coisa está feia nas ruas da Libéria [com imagem de um homem sendo executado]; Casal em perigo vai para o abraço em pleno Hyde Park, mas a polícia chega e acaba com a brincadeira [com imagens de um casal transando em um parque]; Veja, se você for macho, aqui, agora, no Jornal Nacional”.
A versão “cult” do vídeo, ou “modorrenta”, como a Globo prefere chamar, tem o seguinte texto: “Seleção perde a Copa e abre caminho para a busca de uma nova identidade brasileira [com imagens do Mundial de 1998]; Tumulto na votação do Congresso revela o artificialismo do aparelho partidário pós-ditadura [com imagens de briga na Câmara dos Deputados]; Bono Vox beija fã e expõe o falso encanto dos mega-shows diante da relação artista-público [com imagens do líder do U2 dançando com uma mulher no palco]; Exclusivo: A íntegra do novo Código de Trânsito que lança um pá de cal na mitologia individualista do automóvel; As extensas análises dos nossos psicólogos, sociólogos e antropólogos de plantão. Veja, se você não cair no sono, a nível de embasamento, aqui no Jornal Nacional”.
Em respeito aos direitos da Globo sobre os vídeos e devido à violência das imagens, o Notícias da TV optou por não exibi-los.
UOL
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