O Facebook nunca teve fama de santo. Já foi acusado incontáveis vezes de violar a privacidade de dados, de armazenar informações que não deveria, de rastrear seus usuários na rede. E depois de abrir seu capital na bolsa de valores, há duas semanas, a empresa criada e presidida por Mark Zuckerberg, conseguiu entrar em uma outra esfera de graves acusações.
Desta vez, o Facebook, o próprio Mark Zuckerberg e alguns bancos envolvidos na entrada da empresa na Nasdaq estão sendo processados por esconderem previsões de crescimento abaixo das registradas antes da oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Três acionistas alegam que apenas grandes investidores foram informados da redução de estimativa de receita do Facebook antes de sua estreia na bolsa, o que teria causado um prejuízo de mais de mais de US$ 2,5 bilhões para eles.
Segundo eles, os documentos oficiais não davam conta da dimensão da dificuldade que a empresa enfrenta para gerar receita a partir de aplicativos móveis e do impacto que isso terá futuramente na lucratividade da rede social. São 901 milhões de usuários no total, e 500 milhões que acessam pelo celular.
Um dos bancos envolvidos, Morgan Stanley, disse que vai compensar quem pagou mais do que o devido por ações da maior rede social do mundo.
Agora o Facebook terá de provar não só que não beneficiou investidores de grande porte com informações privilegiadas – “esse processo não tem fundamentos, vamos nos defender vigorosamente”, disse um porta-voz da empresa –, mas também que conseguirá capitalizar sua plataforma, cada vez mais ampla, de dados e pessoas.
Mark Zuckerberg se casou em uma cerimônia simples com Priscila Chan, sua namorada há nove anos, um dia depois de sua empresa enfrentar um IPO pouco empolgante – as ações cresceram apenas 0,6% no primeiro dia de negociações e só vêm caindo desde então, chegando a valerem US$ 31,9, contra os US$ 38 propostos inicialmente.
Casado e US$ 10 bilhões mais rico (resultado da venda de papéis do Facebook), Zuckerberg tem muitos desafios pela frente. Sua rede social precisa continuar crescendo e, para isso, precisará enfrentar brigas judiciais, pressão de investidores, cobrança de usuários e concorrência em diversas frentes.
Em artigos nesta página, repórteres que cobrem a indústria da tecnologia para o jornal The New York Times destacam os desafios que o Facebook deve enfrentar nos próximos meses – e quem são seus principais rivais.
Facebook (e Microsoft) vs. Google
Por Nick Wingfield, do NYT
Mesmo antes de o Facebook encher os bolsos, o Google já tinha sentido o efeito do concorrente mais jovem. As batalhas entre as duas empresas devem se intensificar conforme aumenta a disputa por profissionais talentosos e pelo dinheiro de anunciantes.
O Google já invadiu o território das redes sociais, origem do Facebook, com o Google Plus. Especula-se que, conforme for crescendo, o Facebook não poderá mais ignorar o imenso mercado de anúncios em buscas, sendo atraído para a criação de um buscador que concorra mais diretamente com o Google.
Enquanto aumenta a rivalidade entre Google e Facebook, a Microsoft decidiu se aproximar cada vez mais do Facebook. Ambos colaboram usando os dados de usuários da rede social para aprimorar os resultados feitas nas buscas do Bing, da Microsoft.
Facebook vs. Twitter
Por Nick Bilton, do NYT
Para crescer rapidamente, o Facebook sugou uma quantidade interminável de dados dos usuários. Muitas vezes isto enfureceu pessoas preocupadas com as consequências de um acervo de dados pessoais. De novo e de novo, o Facebook testou as fronteiras da privacidade ao tornar públicas informações que antes eram definidas como privadas. A empresa expandiu o uso de dados pessoais de formas que violavam acordos originais.
Como resultado, os usuários passaram a usar o site com extrema cautela. Em uma pesquisa recente da CNBC, “59% dos entrevistados disseram ter poucos motivos para acreditar que o Facebook manteria em caráter privado as informações coletadas”. No fim, a Comissão Federal do Comércio interveio para deter o Facebook.
O Twitter, por outro lado, adotou uma abordagem oposta. Nunca tornou públicas as informações particulares dos usuários ao criar novos recursos, nem mudou repetidas vezes sua política de privacidade. Assim, os usuários confiam mais no Twitter, e isto pode ser importante conforme as empresas disputam o mesmo público para oferecê-lo aos anunciantes.
Facebook vs. startups
Jenna Wortham, do NYT
A oferta pública inicial do Facebook pode significar um boom no número de startups (empresas iniciantes): o farto dinheiro pode incentivar o surgimento de uma nova categoria de startups voltadas para a rede social. Muitos funcionários do Facebook vão se tornar milionários, provavelmente ansiosos para fazer decolar as próprias ideias, como já ocorreu com empresas relativamente de sucesso fundadas por ex-funcionários do Facebook.
Além disso, é muito provável que o Facebook acelere o ritmo de aquisições para captar talentos e também para diversificar seu serviço. Há especulações de que seus alvos seriam tão diversos quanto a Klout, empresa de reputação; o Pair, aplicativo para celulares voltado para casais; e a HTC, fabricante de smartphones e tablets. Não é um desfecho ruim para jovens empresas.
Facebook vs. operadoras
Por Brian X. Chen, do NYT
Recentemente, o Facebook disse a investidores que a mobilidade seria uma das prioridades este ano. A empresa ainda não descobriu uma maneira de obter lucro expressivo a partir de anúncios em dispositivos móveis, mas já criou tanto oportunidades quanto dores de cabeça para as operadoras de telecomunicações.
Sem dúvida, o Facebook tem incentivado as pessoas a enviar menos mensagens de texto – parcela expressiva da renda das operadoras.
Mas a empresa também ajudou as operadoras. A popularidade do Facebook deu a muitos consumidores um motivo para comprar um smartphone. E neste mês o Facebook apresentou o App Center, uma loja de aplicativos semelhante às da Apple e do Google, que oferece aos usuários do Facebook apps voltados para a web.
O Facebook fica com 30% do valor de cada aplicativo vendido, deixando 70% para o desenvolvedor. Mas, ao contrário das lojas de aplicativos da Apple e do Google, a loja do Facebook dá às operadoras a oportunidade de ganhar algum dinheiro por meio de uma parceria que prevê a simplificação dos pagamentos online.
Facebook vs. Apple
Por Nick Wingfield, do NYT
Há motivos óbvios pelos quais Apple e Facebook não se detestam mutuamente. Na indústria da tecnologia, é difícil pensar em duas empresas de estatura semelhante que concorram tão pouco. Afinal, o Facebook não faz computadores, nem sistemas operacionais, nem tablets e, ao menos até agora, nem celulares.
A Apple tem a rede social Ping, mas o serviço é voltado para quem deseja compartilhar o gosto musical no iTunes e parece ter sido esquecido pelo público e pela própria Apple.
Ainda assim, houve momentos de tensão. A Apple não integrou diretamente o Facebook Connect, sistema de login da rede, ao iOS, sistema do iPhone e do iPad, embora isto pudesse trazer benefícios. As relações provavelmente azedariam se o Facebook lançasse seu próprio celular, como previsto por alguns analistas.
Fonte: Link Estadão
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