O que dizer de um problema que a Prefeitura não consegue resolver? O que dizer das unidade básicas de saúde não ter o básico? Segue reportagem da Tribuna:
Quem se dirige aos Postos de Saúde de Natal em busca de atendimento, corre o risco de não recebê-lo. A ausência de médicos, desta vez, não é o maior problema. O desabastecimento das unidades, cuja solução definitiva ainda não foi apresentada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), atinge todas as regiões da capital. Hoje, dois meses após as investigações da Delegacia do Patrimônio Público e Ministério Público que resultou na interdição do depósito do Departamento de Logística e Suporte da Secretaria, um relatório que analisa o órgão municipal será entregue ao Ministério Público e à Justiça do Rio Grande do Norte.
A equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE percorreu uma unidade de saúde (mista ou básica) em cada região administrativa da capital durante o dia de ontem. Os problemas na Unidade Básica de Saúde do Pajuçara, por exemplo, foram apontados pelos servidores e pacientes enquanto aguardavam atendimento no final da manhã.
“Eu só troco meu curativo porque eu trago gaze na minha bolsa”, relatou a aposentada Maria de Lourdes da Silva. Além da gaze, ela precisa comprar uma pomada que é utilizada em ferimentos causados pela má circulação sanguínea na perna direita. O diretor da Unidade, que assumiu o posto após uma vacância de três meses, não se encontrava na UBS. Já a diretora administrativa está de licença, devido a uma cirurgia.
De acordo com a técnica de enfermagem Maria Neide da Mata Costa, o abastecimento da unidade é irregular. “Demora pra chegar e acaba muito rápido. A demanda é alta”, relatou. Além dos insumos utilizados em curativos, o exame ginecológico conhecido como Papanicolau deixou de ser feito desde o dia 27 de setembro passado por falta de lâminas de coleta. A UBS do Pajuçara, de acordo com Maria Neide, estava há quase dois meses sem realizar a extração de pontos devido à falta de gazes. Uma caixa do produto chegou à Unidade no final da semana passada, mas ela afirmou que era insuficiente para garantir o atendimento até o final desta semana.
Além da falta de medicamentos e insumos, a sala de raio-x foi interditada pela Covisa no dia 22 de junho deste ano e ainda não foi reaberta. “Outra máquina está aqui há meses à espera de instalação”, mostrou a servidora. Do lado de fora, uma máquina de esterilização (autoclave) sofre as ações do tempo há pelo menos cinco anos e se desintegra aos poucos, pela ação da ferrugem. “A autoclave é caríssima. E está assim: nova e se desmanchando”, comentou Maria Neide.
Já em Felipe Camarão, na Unidade Mista de Saúde, faltam pediatras e clínicos gerais na escala, além dos medicamentos. Quem precisa tirar uma ficha para atendimento tem que chegar na Unidade de madrugada. “A gente tem que chegar muito cedo. É um risco”, disse Aline Juliana da Silva, autônoma. A administradora da unidade, Eremita Avelino, não confirmou a falta dos remédios e se resumiu a dizer que tudo estava sendo contornado.
Na Unidade Mista de Cidade Satélite, uma situação similar à presenciada na zona Norte. A aposenta Ana Lúcia dos Santos, havia comprado gazes para que o curativo das duas pernas pudesse ser trocado. “Eu vim de Ponta Negra porque lá não tem material. Estou me privando de comprar comida para comprar estas coisas (gazes e pomadas) para que minha ferida não aumente”, afirmou.
Antes de chegar à Unidade de Cidade Satélite, ela havia percorrido cinco postos de saúde na zona Sul e nenhum deles realizou a troca dos curativos por falta de produtos. Na Unidade Mista de Mãe Luiza, zona Leste, nenhum paciente foi atendido ontem na sala de curativos devido ao desabastecimento da unidade. Os secretários municipais de Saúde e Comunicação Social, Maria do Perpétuo Socorro Nogueira e Jean Valério, respectivamente, não atenderam ou responderam às tentativas de contato telefônico para comentar o desabastecimento. A secretária municipal de Saúde adjunta, Ariane Azevedo, também não atendeu ao telefone no início da noite de ontem.
Receituário está sendo feito em pedaços de papel
Além da falta medicamentos e insumos médicos comum à maioria das unidades de Saúde do Município, a falta de receituários é um problema antigo. Nas Unidades Mistas de Felipe Camarão, Pajuçara e na Unidade de Saúde da Cidade da Esperança, faltam receituários azuis (para prescrições de medicação controlada) há cerca de um ano.
Para que o paciente não saía das unidades sem receita para a compra de medicamentos, os funcionários improvisaram receituários com a reutilização de folhas de papel A4 e até mesmo de resultados de análises de exames de urina. Papeis que serviriam de rascunho, pois não passam por nenhum processo de reciclagem. Para identificar a unidade, as funcionárias colocam um carimbo comum em cada pedaço de papel.
De acordo com a presidente do Conselho Regional de Farmácia, Célia Aguiar, a atitude não chega a ser incorreta, mas demonstra a situação na qual o serviço público se encontra atualmente. Ela reiterou, porém, que é preciso que o receituário esteja assinado pelo médico que passou a medicação, além de constar o número do CRM do profissional. Sem estes dados, a receita poderá não ser aceita nas farmácias
Enquanto isso a "madame borboleta" está nos seus intermináveis passeios privados