REUTERS/MATTHEW CHILDS
A Espanha está fora da Copa do Mundo do Qatar. Com um ‘tiki-taka’ inoperante e pouco eficiente no tempo normal e na prorrogação, que terminaram empatados em 0 a 0, o time de Luis Enrique foi eliminado pela seleção de Marrocos na decisão por pênaltis, por 3 a 0, em jogo disputado hoje (6), no estádio Cidade da Educação. O goleiro marroquino Bounou, com duas defesas nas penalidades, de Soler e Busquets, foi o grande herói da histórica classificação. Sarabia, que entrou no fim da prorrogação só para os pênaltis, foi outro da Furia a perder.
Ironicamente, o responsável por cobrar o pênalti que colocou a seleção africana na próxima fase do Mundial foi Hakimi, jogador nascido em Madrid e que, após algumas convocações para as seleções de base da Espanha, optou por jogar por Marrocos por ‘não se sentir’ em casa atuando pela Furia. Com muita frieza, ele bateu de cavadinha e fez a festa dos marroquinos.
Agora, Marrocos espera pelo confronto de logo mais, às 16h (de Brasília), entre Portugal e Suíça, para saber quem irá enfrentar nas quartas de final, sábado, às 12h, no Al Thumama.
Primeiro colocado de um grupo que tinha Croácia e Bélgica, Marrocos continua fazendo história no Qatar. Com a classificação, a seleção africana supera o que era até então a sua melhor campanha em Copas, de 1986, quando foi eliminada pela Alemanha nas oitavas de final.
Depois da fase de grupos, quando seleções como Alemanha e Bélgica voltaram para casa antes do esperado, as oitavas de final da Copa do Mundo do Qatar começaram com a zebra adormecida, com os seis favoritos avançando às quartas nos seis primeiros confrontos. Mas a Espanha tratou de acordá-la. Agora, resta saber se Portugal repetirá Holanda, Argentina, França, Inglaterra, Brasil e Croácia ou se ficará no meio do caminho diante da Suíça.
Com a queda, a Espanha continua sem saber o que é passar das oitavas de final de uma Copa do Mundo desde 2010, quando conquistou sua primeira e única taça. Em 2014, os espanhóis caíram ainda na fase de grupos, enquanto em 2018, assim como no Qatar, foram despachados logo nas oitavas de final ao perderem da anfitriã Rússia na decisão por pênaltis.
A eliminação, ao menos parte dela, certamente entrará na conta do técnico Luis Enrique, que preteriu nomes de peso como Sergio Ramos e Thiago Alcântara para apostar em jovens ainda pouco experientes como Gavi, de apenas 18 anos, e Pedri, de 20.
Se houve surpresa nos 11 iniciais da Espanha com Llorente ganhando a vaga na lateral direita, o que se viu em campo a partir do apito inicial já era mais do que esperado: a Espanha com total controle de bola, buscando encontrar algum espaço na defesa adversária, e Marrocos recuado todo em seu campo, diminuindo os espaços e apostando em algum contra-ataque.
Nos poucos momentos em que Marrocos tinha a bola nos pés, a ousadia do goleiro Bounou quase colocou tudo a perder. Sem medo do perigo, ele ignorou a pressão do ataque espanhol e saiu jogando de forma arriscada algumas vezes. Em uma delas, aos 25min, a Espanha mordeu na saída e por pouco não abriu o placar, com Gavi acertando o travessão e Torres acertando a zaga no rebote. Para alívio de Marrocos, o assistente já assinalava impedimento.
A intensidade da Espanha foi caindo no decorrer do primeiro tempo, e Marrocos começou a aproveitar. Geralmente nos pés do liso Boufal (foto), que fazia o que queria pelo lado esquerdo do ataque, o time africano fez a torcida adversária —apagada no estádio— respirar fundo aos 42min. O próprio Boufal pegou dentro da área pela esquerda, entortou o marcador e cruzou para Aguerd, livre, mandar de cabeça por cima do gol.
Morata entra. Será que pelo alto vai?
Autor de três gols na Copa, Morata foi um dos escolhidos por Luis Enrique para entrar na metade do segundo tempo e tentar mudar a história do jogo. Com 1,89m de altura (contra 1,82m de Asensio, que saiu), a Espanha ganhava uma arma a mais para superar o ferrolho marroquino. Não adiantou. A Furia continuou sem criar, Marrocos perdeu saída de ataque com a substituição de Boufal e o jogo acabou indo mesmo para a prorrogação.
Prorrogação: Marrocos e Espanha perdem chances
Cansada, a seleção de Marrocos voltou a ceder campo para a Espanha na prorrogação. Mas o time de Luis Enrique continuava rodando a bola, sem assustar. Foi até possível ouvir o técnico pedindo ‘arremate’, já que os espanhóis cruzavam muito, mas pouco arriscavam de fora da área.
Já o Marrocos só esperava uma chance para estragar a festa espanhola, e teve duas. Cheddira, aos 13min do primeiro tempo, foi acionado depois de grande jogada de Ounahi, mas, cara a cara com Unai Simón, dentro da área, finalizou em cima do goleiro espanhol. Cheddira, de novo, teve outra boa oportunidade em contra-ataque no segundo tempo, mas se atrapalhou com a bola e também perdeu.
Nos acréscimos da prorrogação, o torcedor espanhol ficou com o grito de gol entalado na garganta. Rodri cruzou fechado da esquerda, Sarabia apareceu completamente livre na segunda trave e finalizou de primeira; a bola triscou a trave e não entrou.
Pênaltis: Bounou brilha e pega dois
Sabiri foi quem abriu a disputa, e deslocou Unai Simón para fazer 1 a 0. Sarabia, especialista em pênaltis que entrou só para isso, tirou demais de Bounou e mandou na trave. Ziyech fez 2 a 0 para Marrocos na sequência, e Soler parou em Bono, mantendo o 2 a 0 no placar.
Unai Simón finalmente apareceu na sequência ao pegar cobrança de Benaoun, mas o dia era mesmo de Bounou. Ele pegou mais um, de Busquets, e Hakimi, com a vaga nos pés, bateu com frieza, de cavadinha, para colocar Marrocos nas quartas de final pela primeira vez na história.
Marrocos vence de goleada nas arquibancadas
Uma das mais empolgadas dessa edição da Copa do Mundo, a torcida de Marrocos deu um show no estádio Cidade da Educação na tarde desta terça-feira. E empurrou o time até o fim do jogo contra a Espanha. Os marroquinos tomaram as arquibancadas de ambos os lados e cantaram o jogo inteiro, em uníssono. Eram maioria absoluta entre os mais de 44 mil presentes. Ainda vaiavam em peso quando a Espanha tinha a posse de bola, o que aconteceu na maior parte da partida.
O momento de maior festa foi quando o espanhol Laporte recebeu o cartão amarelo, no segundo tempo, por falta em cima de Hakimi. A raça do time marroquino também contagiou. Em um dos lances, Nico Williams cruza na área, Dani Olmo tentou chegar tocando para o gol, mas o zagueiro Aguerd salvou, fazendo as arquibancadas explodirem. Em outra jogada da Espanha, Morata recebeu na entrada da área, tentou trazer para a canhota, mas Aguerd se jogou na bola de carrinho e desarmou na bola, para delírio dos marroquinos, que seguraram os europeus durante os 90 minutos. E se a festa já era maior dos marroquinos no tempo normal e na prorrogação, a torcida explodiu com a vaga histórica. A festa vai longe…
Comente aqui