Levantamento mostra que ver jogos ao vivo no Brasil, apesar da precariedade dos estádios, o aumento foi acima de inflação.
Paulo Favero – O Estado de S.Paulo
Assistir ao seu time nos estádios brasileiros está cada vez mais caro. De 2004 para cá, enquanto a inflação oficial (IPCA) foi de 47,97%, as entradas para partidas de futebol aumentaram em média 152,06%, segundo levantamento do Estado.
Não há muito o que fazer contra a inflação do ingresso: como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não define um preço máximo para o Campeonato Brasileiro, que começa mais uma edição amanhã, cada clube cobra quanto acha que deve. Ou melhor, que vale: uma boa campanha ou a contratação de uma estrela contribuem de forma decisiva para a majoração do preço.
Em todas as regiões do País houve aumento no valor dos ingressos. No último Brasileiro, o Corinthians teve o maior preço médio, com R$ 32,77. Ver seus jogos já havia ficado mais caro no ano anterior, quando o clube contratou o atacante Ronaldo.
Em 2010, a arrancada vitoriosa fez o Fluminense aproveitar para encher os cofres. O time exigiu de seus fãs uma média de R$ 25,32, mais que o dobro do que foi cobrado no ano anterior – quando quase foi rebaixado.
O recorde das sete temporadas que o levantamento abrange é do Palmeiras, que em 2009 cobrou R$ 35,31 de torcedores empolgados com um time que liderava o campeonato a poucas rodadas do final e acabou desclassificado até da Taça Libertadores.
Na outra ponta, o Figueirense cobra o menor preço do País. O número de sócios (13 mil, para um estádio com capacidade de 19,5 mil) ajuda a fechar a conta.
“Acho que é preciso ter um bom espetáculo, mas o preço tem que ser condizente”, afirma Renan Dal Zotto, diretor de marketing do clube catarinense.
Pioneiro. Mário Celso Petraglia, ex-presidente do Atlético-PR, foi o precursor do aumento dos bilhetes no futebol nacional. “Eu paguei um preço alto pelo pioneirismo. Melhoramos a qualidade e o conforto da Arena da Baixada, a partir de 99, e entendemos naquele momento que os preços teriam de ser equivalentes. Inicialmente foi a R$ 30, houve reclamação geral, torcedores foram ao Procon e recuamos.”
O dirigente introduz uma questão crucial para a discussão do tema: o custo/benefício.
O torcedor santista Luiz Fernando de Palma estava revoltado na última partida de seu time no Pacaembu. “Eu paguei R$ 250 no ingresso e o estádio quase não tem banheiros. É uma vergonha”, protestou. É a realidade brasileira: ingressos cada vez mais caros, e estádios precários.
Europa. É difícil comparar a situação brasileira e a europeia, dona de alguns dos campeonatos mais organizados do mundo. Lá, a venda de bilhetes se dá no sistema de carnê – eles são adquiridos por pacote, com desconto.
Ainda assim, na média o europeu paga mais, mas tem outros serviços, como recepcionistas que dão informações e ajudam na localização de lugares nas arenas.
TV. Enquanto nos estádios brasileiros o futebol está cada vez mais inflacionado, a adesão em massa de novos clientes dos pacotes de pay-per-view tem ajudado o preço das transmissões na TV fechada a se manter praticamente estável. Hoje, um pacote que inclui Brasileiro e estadual custa cerca de R$ 58 (contra quase R$ 50 em 2008). O serviço tinha, até abril, 993 mil assinantes.
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