O senador Itamar Franco, morto neste sábado, 2, entrou para a história do Brasil como o presidente do plano Real, que encerrou um período de quase uma década de inflação galopante e hiperinflação, e lançou as bases para todos os avanços econômicos do País até hoje. Mas, para quem assistiu o início do governo de Itamar, após sua posse em 29 de dezembro de 1992 (já tinha assumido interinamente em 2 de outubro), era muito difícil prever que o político mineiro seria capaz de um feito histórico de tamanha magnitude.
Com suas raízes no PTB e depois no MDB (nome original do PMDB) “autêntico”, Itamar não tinha nenhuma identificação com os economistas e tecnocratas de perfil mais ortodoxo (embora muitos também viessem da esquerda) que conceberam e executaram o plano Real.
Na verdade, no início do seu governo, com a inflação rodando a cerca de 1500% em termos anualizados, o presidente não dava sinais claros do que pretendia em termos de política econômica. Essa falta de rumo fica clara no fato de que quatro ministros da Fazenda se sucederam num período de menos de oito meses: Gustavo Krause, Paulo Haddad, Eliseu Resende e Fernando Henrique Cardoso.
Com esta última escolha, porém, Itamar deu a grande cartada da sua presidência. Fernando Henrique já era ministro das Relações Exteriores de Itamar, e foi transferido para a Fazenda. Com o grande prestígio de Fernando Henrique, e seu conhecido trânsito entre os economistas mais sofisticados do País, logo se criou a expectativa de que um novo plano para acabar com a hiperinflação seria tentado ainda no governo Itamar (cujo mandato terminava no final de 1994, isto é, quando terminaria o governo de Fernando Collor, caso não tivesse sofrido impeachment).
Os obstáculos a uma nova tentativa de estabilização, porém, eram imensos. A situação fiscal era precária, e havia uma sucessão de planos fracassados desde o Cruzado em 1986, culminando com os planos Collor I e II, do seu antecessor e companheiro de chapa na eleição de 1989.
Mas Itamar deu carta branca a Fernando Henrique, que conseguiu convencer o grupo de economistas formado por André Lara Resende, Pérsio Arida, Edmar Bacha, Pedro Malan, Gustavo Franco, entre outros, que haveria condições de fazer um ajuste fiscal prévio e depois partir para a estabilização. Para esta, a ideia era usar a brilhante ideia de Lara e Arida de criar uma moeda indexada à inflação, a URV, que em seguida seria convertida na nova moeda, o real.
O plano foi posto em prática, a URV vigorou a partir de fevereiro de 1994, e o real no início de julho. Apesar de todas as dificuldades, o Real deu certo, e garantiu a eleição de Fernando Henrique para presidente ainda em 1994. A aposta de Itamar foi vencedora, e garantiu seu lugar na história como o presidente que viabilizou uma das virada mais importantes da história econômica brasileira.
Informações do Estadão
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