Terminou a 21a sessão de julgamento do mensalão no STF. Não houve tempo senão para a leitura do voto do ministro Joaquim Barbosa. Nesta terceira “fatia” do processo, o relator condenou nove dos dez réus acusados do crime de lavagem de dinheiro. Ao discorrer sobre as provas que recolheu dos autos, Barbosa como que acomodou a corda no pescoço dos protagonistas dos quatro capítulos ainda pendentes de análise.
O ministro deixou antever que, a depender das suas convicções, o julgamento do mensalão resultará em condenações em massa. Não deve escapar dos rigores do relator nem mesmo José Dirceu, o ex-chefe da Casa Civil de Lula, qualificado pela Procuradoria da República como “chefe da organização criminosa”. Dirceu foi nominalmente citado por Barbosa.
Deu-se no instante em que o ministro discorria sobre as relações de Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, com Marcos Valério. Disse que o operador do mensalão atuou como “intermediário” entre o banco e Dirceu. Houve três encontros. Kátia participou de dois deles. Um no Planalto e outro num hotel de Belo Horizonte. Sempre com a presença de Valério.
Barbosa realçou que a própria Kátia admitiu os encontros num depoimento prestado em juízo. Afirmou que um dos temas tratados na conversa do hotel mineiro foi o levantamento da liquidação extrajudicial do Banco Central sobre o Banco Mercantil de Pernambuco. Algo que interessava aos negócios do Rural.
Quando questionada sobre a presença de Valério, Kátia declarou que ele atuava como como “intermediário” entre o Rural e Dirceu. Segundo o relato de Barbosa, a ex-presidente do Rural atribuiu a Valério o agendamento das reuniões. Cabia-lhe informar sobre a “disponibilidade na agenda de José Dirceu.”
O ministro também relatou o que foi dito por Dirceu ao ser inquirido em juízo. Ele também reconheceu os encontros. Em relação ao de Belo Horizonte, disse que voara à capital mineira como integrante da comitiva de Lula. O então presidente fora à cidade para participar de uma “feira do Sesi.” Convidado para jantar com Kátia Rabello, Dirceu aceitou.
Sobre o que conversaram?, perguntou o juiz que ouviu Dirceu. E ele: falei sobre o Brasil, sobre o governo e suas políticas. Barbosa deixou claro que descrê dessa versão. Disse: “Embora Kátia Rabello e José Dirceu não admitam ter tratado do esquema de lavagem de dinheiro, é imprescindível atentar para o contexto em que tais reuniões se deram.”
Barbosa esmiuçava o “contexto” em seu voto: empréstimos simulados do Rural para o PT e para as agências de Valério, fraudes contábeis urdidas para ocultar do Banco Central repasses milionários a políticos indicados a Valério por Delúbio Soares.
O ministro referiu-se às reuniões da turma do Rural com Dirceu nos seguintes termos: “Não se trata de fato isolado, de meras reuniões entre dirigentes de um banco e da Casa Civil, mas de encontros ocorridos no mesmo contexto em que se deram as operações de lavagem de dinheiro do grupo criminoso.”
Foram 46 os saques feitos nos guichês do Rural em que o relator Barbosa enxergou o crime de lavagem. Ficou subentendido que, na hora em que for analisar as culpas dos sacadores, Barbosa não deve inocentá-los. Tampouco parece pender para a absolvição de Delúbio Soares e José Genoino, os dois grão-petistas que avalizaram o empréstimo do Rural para PT já classificado como “simulado”.
Fonte: Josias de Souza
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