Em química, as reações entre os compostos podem ser divididas em exotérmicas, que liberam mais energia do que consomem, e endotérmicas, que agem ao contrário.
No trabalho e nas relações humanas, é parecido. Ao contratar um profissional, uma empresa ou entidade projeta que a riqueza gerada por seu trabalho supere o seu custo. Numa relação pessoal, seja um companheiro de cerveja, seja a pessoa com quem casamos, esperamos que o esforço gasto na relação seja recompensado com algo melhor.
Mas esse ganho não tem acontecido nem com Lula, nem com Neymar. Ambos consomem mais energia, esforço e emoções do que devolvem ao país. Neymar já encerrou sua campanha na Copa –com fracasso. Lula ainda está em campanha –para entrar na campanha eleitoral.
A premissa que move o apoio a ambos é a mesma: é a única pessoa que pode levar a um ápice, um objetivo essencial para a felicidade.
Para a esquerda que o apoia, Lula é o único capaz de, nas próximas eleições, derrotar “a direita”, esse grupo meio misterioso que iria de Temer a Bolsonaro, e que agiria com o objetivo de retirar direitos e dinheiro dos cidadãos, destruir a natureza e aumentar a exclusão.
Da mesma forma, Neymar era, para os seus fãs, o único craque capaz derrotar a Fifa, o VAR e todas as seleções e conquistar o sonhado hexa.
Para apoiá-los, é preciso quebrar a disciplina do Judiciário ou a disciplina da seleção. É preciso aceitar sem contestar o que fazem ou pedem, de um corte de cabelo lamen na véspera da estreia ou um frigobar na cela uma semana após a prisão.
Se você critica Neymar, independente de quantos elogios faça, então você é um cego, que não entende de futebol ou, pior, um invejoso que não aceita que um garoto pobre tenha sucesso –não importando quantos outros você admire– e até está torcendo contra. Ou seja, é um traidor da pátria.
Se você faz críticas a Lula, não importam os seus elogios, então você é um cego, que não enxerga a situação do país, ou, pior, um reacionário que não aceita que um ex-operário seja presidente do Brasil –ainda que já tenha votado nele. Ou seja, …
Para atender Lula em suas vontades, os seus fiéis se tornaram motivo de chacota nacional. Para atender Neymar em suas vontades, os seus fiéis, inclusive parte da comissão técnica, se tornaram motivo de chacota internacional.
Se as notícias sobre as recentes manobras no Judiciário fossem relativas a um político rival, os fãs de Lula ficariam revoltados. Já ficaram, com Aécio fazendo menos. Se as imagens, simulando, rolando e se contorcendo fosse de um jogador rival, os fãs de Neymar ficariam indignados. Já ficaram, com ingleses fazendo menos.
Pode-se dizer que Neymar é o Lula do futebol. E Lula é o Neymar da política.
A Bélgica e Bolsonaro agradecem.
Com uma diferença. O ladrão eh muito mais perigoso para a espécie humana pelo conchavo com os escorpiões.