A sucessão de crises que ceifou sete cabeças do ministério de Dilma Rousseff mostra que, no fim das contas, tudo é uma questão de compostura.
Mal comparando, o ministério está para um governo assim como a comissão de frente está para uma escolar de samba.
Noutros tempos, as escolas escalavam para as comissões de frente os seus membros mais experimentados e respeitados. Hoje, vale tudo.
Os ternos brancos foram substituídos ora por fantasias exóticas ora pela nudez. As cartolas usadas para saudar o público deram lugar aos mais variados adereços.
O risco de um vexame é enorme. Acontece algo parecido nos ministérios. A maioria dos ministros vale pela alegoria partidária que representa, não pela biografia.
As legendas trocam posições na Esplanada por votos no Congresso à luz do dia, na frente das crianças. O anormal, por corriqueiro, tornou-se a normalidade.
Pois bem. Até aqui, as crises moeram ministros herdados de Lula. Neste domingo (4), de repente, foi às manchetes uma encrenca diferente.
O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) apareceu de ponta-cabeça numa notícia do repórter Thiago Herdy.
Ficou-se sabendo que Pimentel possui uma empresa de consultoria, a P-21. Entre 2009 e 2010, o ministro faturou cerca de R$ 2 milhões.
Nessa época, Pimentel estava sem mandato. Deixara a prefeitura de Belo Horizonte e ainda não virara ministro.
Eis dois clientes do consultor Pimentel: a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e a construtora mineira Convap.
A reportagem insinua que a remuneração da federação veio sem a necessária contraprestação de serviço.
De resto, sugere que a construtora foi beneficiada com negócios na prefeitura, graças à influência de Pimentel.
O ministro negou as ilegalidades. Disse que o trabalho foi regular e que os impostos foram recolhidos.
Ainda assim, Dilma chamou Pimentel a Brasília neste domingo. Queria conversar antes do primeiro dia útil da semana.
Por quê? “A presidente Dilma pediu que eu agisse com transparência e normalidade porque eu não tenho nada a esconder”, disse Pimentel.
“Não feri nenhum preceito ético ou moral. Estou perplexo com tamanho espaço para um assunto privado.”
Entre todos os ministros, Pimentel é o mais próximo a Dilma. Militaram juntos. Na definição de José Dirceu, foram companheiros de armas.
Pimentel não deve o ministério a Lula. Tampouco deve a nomeação ao PT. É ministro da cota pessoal de Dilma. Daí a pressa em prover explicações.
Pimentel disse ter prestado três consultorias. Segundo ele, somaram R$ 1,9 milhão. Descontados os impostos, levou ao bolso R$ 1,2 milhão em 24 meses.
“Isso dá cerca de R$ 50 mil por mês. É uma remuneração compatível com o mercado de executivos”, declarou o ministro.
Ele circunscreve os contratos à esfera privada: “Conheço todas as empresas de Minas. Esta é a vantagem de eu ter ficado 16 anos na prefeitura de Belo Horizonte.”
Aos que enxergam na sua consultoria uma semelhança com o caso que retirou Antonio Palocci da Casa Civil, o ministro responde:
“Não vou julgar o Palocci. O caso dele é o caso dele. Eu trabalhei, emiti nota fiscal e paguei os tributos.”
De novo: no fim, tudo é uma questão de compostura. Cansada de alegorias, a arquibancada pede a sobriedade dos ternos de linho branco na comissão de frente de Brasília.
Josias de Souza
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