Josias de Souza
Quem escolhe o momento exato economiza muito a tempo e muitas explicações. Dilma Rousseff teve um ano e oito meses para fazer de Marta Suplicy ministra. Ao tomar posse, refugou-a. Ao reformar o ministério, ignorou-a. Instada a compensá-la por ter sido empurrada por Lula para fora do tabuleiro de São Paulo, deu de ombros. Súbito, quando ninguém mais esperava, convidou-apara a pasta da Cultura.
Marta chega à Esplanada nesta quinta (13), poucos dias depois de ter levado seus olhos azuis à propaganda televisiva e sua grife aos eventos de rua da campanha de Fernando Haddad. Toma-lá-dá-cá? Não, não. Absolutamente, diz a nova ministra. “Não tem essa ligação. Estou feliz no Senado. […] Estou feliz também com o convite da presidente. Não estava no programa isso. Mas eu não vou dizer não para a presidenta”.
Quer dizer que tudo não passa de feliz coincidência? “Desde o começo da campanha do Haddad eu disse que, na hora em que eu fosse fazer a diferença, eu faria. E eu entrei e não tem nenhuma [relação com a campanha a nomeação para o ministério].” Ah, bom!
Ao trocar o Senado pelo Ministério da Cultura, Marta permite abre espaço para a posse do suplente. Vem a ser o vereador paulistano Antonio Carlos Rodrigues. É filiado ao PR. Antes de integrar-se à coligação tucana de José Serra, o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto informara ao PT que fecharia com Haddad se o vereador Antonio Carlos virasse senador.
Nessa época, Dilma voltou a ser consultada sobre a hipótese de guindar Marta à condição de ministra. De novo, a presidente disse não. De repente, tomou-se de amores pela ex-rejeitada. Curioso, muito curioso, curiosíssimo. A senadora tem currículo e história para dirigir a Cultura. A presidente tem a caneta e a autoridade para nomeá-la. Mas as circunstâncias em que são tomadas certas decisões, por inqualificáveis, são facílimas de qualificar.
Comente aqui