Editorial publicado na coluna Roda Viva, de Cassiano Arruda, no Novo Jornal
Lentidão de gestor
Uma das razões que fazem com o que o poder público tenha a fama que tem – para dizer o mínimo, a de lerdo e pesado – é a imensa difi culdade que há em fazer a máquina andar.
Por inúmeros motivos, desde o excesso de burocracia passando pelo desinteresse do gestor. Há, em muitos casos, a sensação de que, como se trata de serviço público, é natural que se demore e comum que resulte mal feito. Não sem motivos, portanto, a sociedade olha enviesada quando está diante de uma obra ou serviço público. O natural, se funcionar bem, é perguntar até quando. Se não funcionar adequadamente, entende-se como normal por tratar-se de peça sem dono.
Tome-se como extrato de exemplo o calçadão de Ponta Negra, uma agressão sem limites ao maior cartão postal da cidade e à sua praia urbana mais charmosa. Vai completar dois meses, ou perto disso, que o calçamento sofreu os danos provocados pela força da maré sem que, de prático, tenha sido feito algo que pudesse consertar o estrago.
Os tecnocratas dirão, com o vasto arsenal de explicações, que as ações independem deles, mas da sequência de uma série de medidas, muitas das quais burocráticas, que precisam ser vencidas, até que o serviço seja executado. Têm, em parte razão.
Não se defende que sejam transpostos os limites da legalidade, mas se espera do gestor público a capacidade de mobilização de todas as instâncias, a fi m de que determinada obra ou serviço ganhe celeridade e deixe de ser prejuízo.
No caso em questão, já ocorreu de tudo: de visita de autoridade federal, passando pelo palavrório de candidatos a prefeito e a vereador e a audiências públicas, até a decretação de calamidade, tudo se fez em Ponta Negra. Só não se vê é a obra sendo feita – e com a agilidade que requer.
Por outro lado, o que cansou de ser vista, e revista, foi a decepção dos turistas que visitaram a cidade e tinham em Ponta Negra um dos cartões postais urbanos mais deslumbrantes. Muitos, porém, chegaram e saíram desapontados. Quanto aos natalenses, o dissabor é contínuo.
Quem puxar pela memória encontrará, além desse, vários outros exemplos de como o ritmo das ações do poder público é totalmente dissonante do que se espera. Ruim para todos. Fosse o calçadão uma obra privada, já estaria pronto – e sem risco de desabar de novo. O serviço público deveria buscar essa eficiência. Ou será que o dinheiro dos impostos arrecadados para manter o serviço público vale menos?
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