Foto: José Antonio Teixeira/Alesp
O promotor que investiga a suspeita de rachadinha no gabinete do deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP), aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pediu o arquivamento do caso sob a justificativa de que não há provas do suposto esquema de desvio de salários da Assembleia Legislativa de São Paulo.
O inquérito civil no MP-SP (Ministério Público de São Paulo) foi aberto em outubro de 2019, depois que Alexandre Junqueira, ex-assessor do parlamentar, afirmou que Gil mantinha um funcionário fantasma em seu gabinete. O deputado, braço direito dos Bolsonaros no estado, sempre negou as acusações.
O promotor Ricardo Manuel Castro, em ofício com data da última sexta-feira (25), promoveu o arquivamento da apuração e encaminhou a decisão para o conselho superior do MP-SP, que poderá confirmar o encerramento ou solicitar novas diligências para que a investigação prossiga.
“Mesmo mediante o afastamento do sigilo bancário do investigado [Gil] e de todos os seus assessores, não se obteve êxito na comprovação da irregularidade descrita na representação”, escreveu o promotor.
Castro afirmou não ver necessidade de mais diligências sobre o assunto e disse se tratar de um caso “sem prova robusta, ou sequer indícios contundentes desse repasse de valores”. A rachadinha consiste na prática de devolução ao parlamentar de parte ou da totalidade do salário recebido pelos funcionários.
Além de ter tomado depoimentos do autor da representação e da mulher dele, o promotor ouviu o próprio parlamentar e seus assessores. Tanto Gil quanto os funcionários concordaram com a quebra de seus sigilos bancários.
Os relatórios das contas, de acordo com o representante do MP-SP, não apresentaram “prova convincente da ocorrência da ilegalidade” descrita na denúncia original.
O promotor confirmou que “diversos assessores realizam saques de dinheiro em espécie na mesma data ou em data próxima à do recebimento de seus vencimentos […], mas não há indícios de que esse numerário ingresse, nessas mesmas datas, nas contas do investigado”.
Conhecido como Carteiro Reaça nas redes sociais, onde fez fama antes de ser eleito em 2018, Gil trabalhou no gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e está em fase de expulsão da legenda, depois de romper com os dirigentes nos âmbitos estadual e federal.
À reportagem o deputado afirmou que o arquivamento era esperado e que colocou seu sigilo à disposição dos investigadores. “A denúncia do ex-assessor tinha por objetivo atacar o presidente Jair Bolsonaro e sua família”, declarou.
Gil diz que foi usado no caso por causa de sua proximidade com o presidente e os filhos dele. “Estou tomando todas as medidas jurídicas para que o autor dessa falsa denúncia seja punido exemplarmente”, afirmou.
Alexandre Junqueira, o autor da acusação, disse que não tomou conhecimento oficialmente da decisão e que o caso continua em segredo de Justiça. “Vou aguardar o veredito do MP [Ministério Público]”, afirmou.
Em depoimento à Promotoria em janeiro deste ano, Junqueira reiterou a denúncia, mas disse não ter novos elementos para reforçar a acusação além das declarações e documentos apresentados no segundo semestre de 2019.
Ele acusou o deputado de coagir seus funcionários a devolver parte dos salários e fazer um rodízio de recolhimento em espécie das gratificações. O dinheiro seria usado para pagar contas de apoiadores.
Gil, que na época era vice-presidente do PSL no estado de São Paulo, disse que a acusação estava ligada a uma disputa de poder dentro do partido e que o autor foi ao Ministério Público após ser exonerado “por não se adequar à rotina do gabinete”.
Junqueira também disse que um assessor, Thiago Cortês, era funcionário fantasma do gabinete. Segundo ele, Cortês exercia a função de secretário-geral do PSL, um cargo voluntário, mas fazia tarefas da função em horário de serviço. Cortês negou e disse que trabalhava em horário integral no gabinete.
Ao protocolar a denúncia, Junqueira apresentou seu relato, cópias de mensagens de WhatsApp trocadas com integrantes do gabinete e multas e extratos de pedágio para reforçar sua atuação no estado durante a campanha.
Conheça os envolvidos Gildevânio Ilso dos Santos Diniz, hoje Gil Diniz, ganhou fama na internet como “Carteiro Reaça”. O antigo posto nos Correios e as críticas ácidas ao que chamava de aparelhamento da estatal pelo PT lhe renderam o apelido.
Em 2015, tornou-se assessor de gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O convite veio após conhecê-lo durante a campanha de Eduardo para a Câmara em 2014.
Alexandre Junqueira, que acusa Diniz de promover esquema de “rachadinha” em seu gabinete na Assembleia, também se projetou na internet. Hoje é candidato a vereador em Suzano (SP).
De uma página com dicas de viagem, a “Carioca de Suzano” -apelido de Junqueira- virou uma plataforma política, com cobranças às autoridades e vídeos em apoio a Bolsonaro.
O ex-assessor afirma ter trabalhado em 2018 como motorista de Eduardo Bolsonaro durante a campanha.
A proximidade, segundo Junqueira, resultou em convite para assistir a apuração da eleição na casa do atual presidente e passar a virada do ano de 2018 para 2019 na Granja do Torto, em Brasília, onde Diniz também estava.
Folha de PE
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